"Os antigos, assoberbados de não poucas escaramuças de doutrinas pervertidas, foram compelidos a expressar com magistral clareza e propriedade o que sentiam, para que não deixassem aos ímpios subterfúgios distorcidos, a quem os invólucros das palavras eram os esconderijos dos erros." (1.13.4, p.124)
Ainda assim, não devemos ser dependentes desses termos para determinar a validade de certa doutrina. Como um comentador nos diz, "terminologia deve ser uma serva da verdade, nunca seu mestre" (Rick Phillips). O reformador está ciente disso quando afirma o seguinte:
"Na verdade, não sou de mera intransigência tão categórica que porfie por digladiar por causa de meros palavretes. Pois tomo em consideração que os antigos, de outra sorte a falar destas coisas com muita reverência, não concordam nem entre si, nem ainda a todo tempo consigo próprios, individualmente." (1.13.5, p.125)
Com essas recomendações em mente, podemos agora vermos como Calvino entende a Trindade:
"O Pai e o Filho e o Espírito são um e único Deus, toda via de modo que o Filho não é o Pai como tal; ou o Espírito, o Filho; ao contrário, que são distintos entre si por determinada propriedade... Digas que na essência una e única de Deus subsiste uma trindade de pessoas: terás dito em uma palavra o que as Escrituras dizem e terás refreado a loquacidade vazia... Quando ouvirmos falar de um, devemos entender a unidade da substância; quando ouvimos falar de três em uma essência, denotam-se as pessoas nessa trindade." (1.13.5, p.125,127)
Assim, quando nos depararmos com esses termos, precisamos ter em mente que Pessoa e Subsistência referem-se a Pai, Filho e Espírito Santo de maneira separada, isto é, em suas características únicas e incompartilhadas. Por exemplo, a pessoa do Filho morreu na cruz, não o Pai. Quando usar-se os termos Essência ou Substância, fala-se da natureza ou propriedade que é única, pois só há um Deus. Logo, temos três Pessoas subsistindo em uma Essência.
"Há em Deus certa distribuição ou economia, a trindade de pessoas, que nada altera da unidade da essência." (Tertuliano, citado em 1.13.6, p.128)
Esses são termos complicados, mas que nos serão úteis de agora em diante, quando Calvino defenderá a divinidade de Cristo e a do Espírito. Caso haja dificuldade (como eu mesmo tive nessa última leitura), devemos sempre pedir a Deus a capacidade de entendermos cada vez mais sua natureza.
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