O reformador de Genebra prossegue seu tratamento às heresias com algumas afirmações um pouco difíceis, mas que nos serão úteis se as entendermos. Novamente, ele se volta contra aqueles que dizem haver diferença entre a essência do Pai e das outras duas pessoas. Outros afirmam que acreditamos em algo semelhante a uma "quaternidade", onde a substância divina diferencia-se nas (ou mesmo, das) três subsistências, "como se supuséssemos que de uma essência única procedem, dir-se-ia por derivação, três pessoas" (1.13.25, p.151). Usarei as palavras de Rick Phillips para nos ajudar nesse assunto tão denso.
"Calvino argumenta que a essência divina, compartilhada pela Trindade inteira, é ingênita [não-gerada]. Mas as pessoas do Filho e do Espírito são geradas pelo Pai (eternamente, portanto nunca houve um tempo onde eles não existiam). As Pessoas não são separadas da essência divina, o que significaria haver três deuses, mas são diferenciadas de cada outra dentro da divina essência única." (traduzido daqui)
Dizer que Filho e Espírito não têm parte com (ou que recebebem) a essência divina do Pai, é torná-los menos que Deus, ao mesmo tempo que se nega a própria natureza do Pai, como proposta pela Bíblia. O que Phillips explica nos é dito da seguinte maneira por Calvino.
"Embora a essência não concorra à distinção de pessoas, como parte ou membro da Trindade, contudo as pessoas não subsistem sem ela ou fora dela, porquanto não só o Pai, se não fosse Deus, não podia ser Pai, mas também o Filho de outra sorte não seria Filho, a não ser porque é Deus... Finalmente, se Pai e Deus fossem sinônimos, então o Pai seria o deificador, nada no Filho restaria senão uma sombra, nem seria a Trindade outra coisa senão a conjunção do Deus único e uno com duas coisas criadas." (idem)
Outra objeção que se levanta, diz respeito à hierarquia dentro das pessoas da Trindade. Para os falsos mestres, Cristo é menor do que Deus, como alguns textos da Bíblia supostamente comprovam. Porém, Calvino nos mostra que isso se deve à distinção de funções entre as Pessoas e à encaranção, não por algo diferente na natureza do Pai e do Filho.
"Assim, quando dizia aos apóstolos: “Convém que eu suba ao Pai, porque o Pai é maior do que eu” [Jo 14.28; 16.7], não está atribuindo a si apenas uma divindade secundária, como se no que tange à essência eterna seja inferior ao Pai, mas porque, sendo Mediador que possui a glória celestial, consorcia os fiéis na participação dessa glória." (1.13.26, p.152)
É importante conhecermos a Trindade, pois por ela entendemos melhor a nossa salvação. Podemos compreender um pouco mais sobre o amor de Deus, como nessa belíssima passagem, em que Calvino expressa o ministério do Redentor.
"E de fato Cristo desceu até nós para que, elevando-nos até o Pai, ao mesmo tempo também nos elevasse a si próprio, visto ser um com o Pai." (idem)
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