"Quanto, porém, diz respeito à discórdia e luta que dissemos existir de Satanás com Deus, entretanto assim importa admitir que isto permanece estabelecido: que aquele nada pode fazer, a não ser que Deus o queira e consinta." (1.14.17, p.171)
Isso não quer dizer que o Inimigo não seja um anjo rebelde e não odeie seu próprio Criador, mas significa que o seu mal é usado por Deus a fim de alcançar o bem, e a fim de cumprir seus próprios planos. Entre seus exemplos, Calvino cita a ação do Diabo em Jó e contra Acabe (1Rs 22.20).
"Ele se opõe a Deus com vil paixão e deliberado intento. Em virtude dessa depravação, é ele incitado à tentativa dessas coisas que julga serem especialmente contrárias a Deus. Como, porém, este o mantém amarrado e tolhido pelo freio de seu poder, ele leva a bom termo apenas aquelas coisas que lhe foram divinamente concedidas, e assim, queira ou não, obedece a seu Criador, porquanto é compelido a prestar-lhe serviço aonde quer que o mesmo o impelir." (1.14.17, p.172)
Além disso, devemos ter a certeza de que o Senhor não permitirá que Satanás derrote definitavamente os cristãos. Por mais que Deus permita dificuldades, é somente sobre os incrédulos que o demônio exerce seu poder total. Isso se deve não a algo especial que os crentes têm, mas à vitória de Cristo.
"Doutra sorte, ela seria a cada instante reduzida cem vezes a nada pelo Diabo. Ora, uma vez que tal é nossa insuficiência e tal lhe é o furibundo poder, como, a não ser firmados na vitória de nosso Chefe, faríamos frente, sequer um mínimo, a seus multiformes e constantes ataques? Portanto, Deus não permite o reinado de Satanás nas almas dos fiéis, mas só nas almas dos ímpios e incrédulos, a quem não tem por dignos de serem contados em sua igreja, os abandona para que sejam por ele governados." (1.14.18, p.173)
Finalizando o estudo sobre o Diabo e os demônios, Calvino também rebate a heresia de que os espíritos maus são apenas impulsos humanos, e não verdadeiras criaturas. Ele mostra que não há sentido em pensar vários dos textos bíblicos que tratam do assunto entendendo-se os demônios como outra coisa além de seres reais pessoais.
"Quão improcedentes haveriam de ser estas expressões: que os seres diabólicos foram destinados ao juízo eterno; que fogo lhes foi preparado; que mesmo agora são atormentados e torturados pela glória de Cristo, se simplesmente não existissem nenhum diabo?" (1.14.19, p.175)
Uma lição que fica nesse último estudo é que sempre devemos exortar a igreja a não ir além do que a Palavra diz. Muitos crentes hoje vivem com medo de demônios, por aprenderem doutrinas erradas sobre o Inimigo. Não podemos dar crédito a especulações e suspostas revelações que vão contra o que o Espírito Santo nos revelou. Devemos ter cuidado, sim, com os ardis e a astúcia de Satanás, mas sem abandonar a certeza de que Deus é soberano.
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