Calvino vai ainda além e novamente lembra que a experiência do cristão é fundamental para crermos na divindade do Espírito Santo. Vemos outra vez o reformador enfatizando um relacionamento vivo com Deus, ao mesmo tempo em que é fortemente ancorado nas Escrituras.
"A melhor comprovação, porém, como o disse, nos será da experiência comum. Pois mui distanciado está das criaturas o que as Escrituras lhe atribuem e nós mesmos aprendemos da segura experiência da piedade. Ora, ele é aquele que, difuso por toda parte, a tudo sustém, alenta e vivifica, no céu e na terra. Já do número de criaturas se exclui por isto mesmo, a saber, que ele não é circunscrito por quaisquer limites. Ao contrário, isto é mui evidentemente divino: ao transmitir-lhes sua energia, infunde essência, vida e movimento a todas as coisas." (1.13.14, p.137)
Como veremos em outra seção, essa experiência com Deus só é possível pelo novo nascimento, ou regeneração, que é operado no ser humano pelo próprio Espírito Santo. Calvino chama atenção para o fato de o Espírito ser o causador e sustentador desse nascimento, além de ser a fonte de vida eterna também, algo só possível a Deus.
"Ora, a Escritura ensina em muitos lugares que, não por energia tomada de empréstimo, ao contrário, por energia própria, é ele o autor dessa regeneração, e não só dela, mas também da imortalidade futura." (idem)
Não apenas Deus Espírito é responsável pela nossa nova vida em Cristo, como também ele habita em nós, e somos chamados de templo por isso. Citando um argumento genial de Agostinho, Calvino nos lembra que templos são lugares onde deuses (nesse caso Deus) habitam.
"Se nos fosse ordenado edificar ao Espírito um templo de madeira e pedra, uma vez que esta honra só se deve a Deus, seria cristalino argumento em prol de sua divindade. Ora, pois, temos aqui um argumento muito mais luminoso: que não devemos fazer-lhe um templo, ao contrário, nós mesmos somos seu templo!" (Agostinho, A Máximo, ep. 66., citado em 1.13.15, p.138)
Calvino cita ainda outros textos relevantes à matéria, como Atos 5.3s, 6.9 e 28.25; Is 63.10 e Mt 12.31 (cf. Mc 3.29; Lc 12.10). É importante notarmos nessa seção a sobriedade e cuidado do reformador em não ir além do que a Escritura diz. Ainda que convicto a respeito da divindade do Espírito, Calvino prefere não forçar os textos a dizerem o que ele quer, e afirma:
"Deixo, cônscia e deliberadamente, de considerar muitos testemunhos de que os antigos fizeram uso... Por isso preferi abordar, um tanto seletivamente, apenas elementos em que as mentes piedosas pudessem solidamente arrimar-se." (1.13.15, p.138)
Que o próprio Deus Espírito nos oriente a isso - respeito pela Escritura e desejo por um relacionamento vivo com o Criador.
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