"Portanto, para usar de brevidade, saibam os leitores então terem aprendido, em verdadeira fé, quem é Deus o Criador do céu e da terra, se, em primeiro lugar, seguirem esta regra universal: que não deixem de atentar, seja por ingrata irreflexão, seja por ingrato esquecimento, para os esplendentes primores que Deus exibe em suas criaturas; e, em segundo lugar, assim aprendam a aplicar essas coisas a si próprios, para que se lhes apeguem profundamente ao coração." (1.14.21, p.176)
Isto é, para o reformador, devemos observar as coisas criadas contemplando as maravilhas do poder de Deus nela, e não apenas reconhecendo isso, mas aplicando ao nosso coração, a fim de agirmos em piedade e adoração. Nesse pequeno trecho, onde Calvino volta-se rapidamente ao tema da Criação outra vez, vemos algumas das mais belas passagens escritas pelo teólogo de Genebra, e podemos perceber que ele coloca em prática esses dois princípios citados acima. Comecemos com seu breve resumo da doutrina da Criação.
"Deus criou do nada o céu e a terra; daqui produziu a todo gênero, animais e coisas inanimadas; distinguiu em admirável seqüência incontável variedade de coisas; a cada gênero revestiu de sua natureza específica; designou funções, atribuiu regiões e moradas; e, visto que todas as coisas são susceptíveis à corrupção, contudo providenciou para que, preservadas, se conservem as espécies, uma a uma, até o dia final... Igualmente adornou o céu e a terra com uma abundância perfeitíssima, e a tudo com diversidade e formosura como se fosse um grande e magnífico palácio admiravelmente mobiliado." (1.14.20, p.175)
É nesse belo palácio que o homem foi colocado, com tudo o que é necessário para ele à disposição. Algo que nos deve encher de alegria e gratidão. Ao contrário do homem moderno, que conhece tantas maravilhas do universo, mas é incapaz de glorificar a Deus, Calvino, com o pouco que sabia (se comparado a nós) se enche de júbilo.
"De quão grande ingratidão haveria de ser agora duvidarmos que esse Pai boníssimo tenha cuidado de nós, quando vemos ter sido solícito a nosso respeito antes mesmo que nascêssemos! Quão ímpio seria tremer de desconfiança de que, em algum momento, sua benevolência nos falte na necessidade, quando vemos ser-nos exibido, com sua prodigalidade, tudo o que é bom, quando ainda nem éramos nascidos!" (1.14.22, p.177)
Que esse sentimento também esteja presente em nós. Por mais acostumados que estejamos com as maravilhas da Criação, devemos ensinar nossos corações a seguirem aqueles dois princípios que abrem esse post. Certamente essa experiência fará nossa vida cada vez mais contente, e nosso relacionamento com Deus cada dia mais vivo. Ao mesmo tempo, como Calvino, perceberemos que as coisas criadas demonstram aquilo que a Bíblia já ensina - que os atributos de Deus são maravilhosos e, muitas vezes, indizíveis.
"De fato, se quisermos apresentar, como lhe convém à dignidade, quanto refulja na estruturação do mundo a inestimável sabedoria, poder, justiça e bondade de Deus, não estará à altura da magnitude de empresa de tão grande proporção nenhum esplendor nem ornato de linguagem." (1.14.21, p.176)
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