"Ora, se a alma do homem procede da essência de Deus mediante transfusão, segue-se que a natureza de Deus está sujeira não só a mudança e a paixões, mas ainda a ignorância, a desejos depravados, a enfermidade e a vícios de toda espécie... Se aceitamos que a alma é porção da essência de Deus ou misterioso influxo da divindade, faz-se necessário atribuir tudo isso à natureza de Deus." (1.15.5, p.186)
A conclusão de Calvino contra os maniqueus é que "criação, porém, não é transfusão; ao contrário, é começo de essência oriunda do nada" (idem). A respeito de outros filósofos, porém, o reformador é um pouco mais positivo, reconhecendo que "as coisas que ensinam são realmente verazes, não apenas agradáveis de se conhecer, como também são proveitosas" (1.15.6, p.187).
No entanto, por mais úteis que sejam os filósofos, eles pecam por não considerar a queda do homem nos seus estudos. Na seção 1.15.8, Calvino nos dirá que o erro deles foi procurar um edifício estruturado em meio a escombros. Por isso, o reformador prefere ensinar apenas duas faculdades básicas da alma humana.
"A divisão que usaremos será considerar duas partes na alma: o entendimento e a vontade. Entretanto, a função do entendimento é discernir entre as coisas que lhe são propostas, para ver qual há de ser aprovada e qual há de ser rejeitada; a função da vontade, entretanto, é escolher e seguir o que o entendimento ditar como bom, rejeitar e evitar o que ele houver desaprovado." (1.15.7, p.189)
Aprendemos nessa seção que o estudo secular tem utilidade para o cristão, mesmo que nos sirvam apenas para reconhecermos seus erros e os evitarmos. Assim, embora beba muitas vezes dos escritos dos filósofos, para o reformador essa definição simples nos é suficiente. Esses termos serão úteis na próxima seção, quando ele falará sobre a queda do homem.
"Para que não nos enredilhemos em questões supérfluas, seja-nos bastante que o entendimento é como que o guia e piloto da alma, que a vontade sempre atenta para seu arbítrio e em seus desejos espera seu juízo." (idem)
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