"Convém-nos falar agora da criação do homem, não apenas porque dentre todas as obras de Deus é ele a expressão mais nobre e sumamente admirável de sua justiça, sabedoria e bondade, mas ainda porque, como dissemos de início, Deus não nos pode ser clara e plenamente conhecido, a não ser que se acresça conhecimento correlato de nós mesmos." (1.15.1, p.179)
Por outro lado, devemos nos lembrar que a humanidade está corrompida pelo pecado. Segue-se, portanto, que o conhecimento sobre o homem divide-se entre o que sabemos sobre ele antes da queda e o que sabemos após a queda. Não podemos nos confundir quanto a isso, nem ignorar essa verdade (algo comum hoje em dia, dentro e fora das igrejas). Essa convicção também evita que alguém pense que o Criador fez a humanidade com algum tipo de falha.
"E visto ser duplo esse conhecimento de nós próprios, isto é, que saibamos como fomos criados em nosso estado original e como começou a ser nossa condição após a queda de Adão (aliás, nem seria de muito proveito conhecer nossa criação, a não ser que reconhecêssemos qual é a corrupção e deformidade de nossa natureza nesta desoladora ruína em que nos achamos)." (idem)
Por fim, antes de entrarmos nesse assunto, é necessário que lembremos que a natureza de nossa criação deve nos levar a humildade. O homem veio do pó da terra, fruto das mãos do oleiro.
"Em primeiro lugar, uma vez que o homem foi tomado da terra e do barro, é preciso reconhecer que assim ao orgulho foi posto um freio, pois nada é mais absurdo do que se gloriarem de sua excelência aqueles que não só 'habitam uma casa de barro' [Jó 4.19], mas ainda, como tais, em parte eles próprios são terra e cinza. Visto, porém, que Deus se dignou não só animar a um vaso de terra, como também quis que o mesmo fosse a habitação de um espírito imortal, Adão pôde gloriar-se nessa generosidade tão ingente de seu Criador."(1.15.1, p.180)
É sobre esse espírito imortal que Calvino falará nas próximas seções.
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