A Bíblia nos oferece poucas informações sobre os anjos, se comparamos com aquilo que ela fala de nós mesmos, ou da própria Criação. Por isso, nos trechos que se seguem, Calvino reune apenas aquilo que a Escritura nos ensina, rebatendo qualquer tipo de informação espúria sobre o assunto. Primeiramente, ele fala sobre hierarquia e quantidade desses seres, embora "creiamos ser desse gênero de mistérios cuja plena revelação se dará no último dia" (1.14.8, p.165)."Reconheço que Miguel é chamado 'o grande príncipe' em Daniel [12.1] e 'o arcanjo que, com uma trombeta, convocará os homens ao juízo. Quem, entretanto, poderá daí estabelecer graus de honra entre os anjos, distinguir a cada um por suas insígnias específicas, assinalar a cada um o lugar e a posição?" (1.14.8, p.164s)
Por fim, ele chega a conclusão de que certamente a legião de anjos é gigantesca, mesmo que as informações sobre isso sejam raras. Uma nota interessante é o que Calvino diz a respeito dos anjos serem retratados como seres alados na Bíblia.
"A Escritura, sob o nome de querubins e serafins, não em vão nos pinta anjos alados, para que não tenhamos dúvida de que sempre haverão de estar presentes para, com incrível celeridade, trazer-nos auxílio, tão logo as circunstâncias o exijam, como se, com a costumeira velocidade, voasse para nós como um relâmpago despedido do céu." (1.14.8, p.165)
Uma heresia que o reformador combate diz respeito à pessoalidade dos seres celestiais. Para alguns, como os saduceus, o que chamamos de anjos são apenas os impulsos de Deus que inspiram o homem. Em resposta, Calvino cita diversos textos onde claramente associam-se características pessoais aos anjos, como por exemplo a alegria (Lc 15.10) e suas aparições em forma humana.
Antes de prosseguir nesse estudo, Calvino novamente volta a alertar-nos contr a superstição da angelolatria, ou seja, dar aos anjos honra que não lhes é devida. Devemos nos voltar a Cristo, o único que é auto-existente e auto-suficiente, e o mesmo que sustenta a bondade e os poderes angelicais.
"Não só se deve distinguir Cristo de todos os anjos, mas ainda que ele é o autor de tudo o que eles têm de bom, para que não aconteça que, deixando-o de parte nos volvamos para aqueles que não podem nem a si próprios bastar, ao contrário, tudo recebem da mesma fonte da qual nós mesmos recebemos." (1.14.10, p.167)

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