"João, porém, é de todos o que fala muito mais claramente, quando declara que aquela Palavra que desde o princípio era Deus com Deus, juntamente com Deus o Pai, é a causa de todas as coisas. Ora, João não só atribui ao Verbo uma essência real e permanente, mas ainda lhe assinala algo peculiar e mostra, com luminosa claeza, como Deus foi o criador do mundo mediante a Palavra" (1.13.7, p.123)
Porém, existem aqueles dizem ser Deus o Verbo, mas como um ser que só passou a existir quando "Deus abriu seus sacros lábios na criação" (1.13.8, p.123). Essa doutrina tão sutil é combatida duramente por Calvino, pois implicitamente ensina que há variação na natureza divina. Isso o verdadeiro crente não pode aceitar.
"A piedade não reconhece nem admite nenhum título que sugira haver ocorrido algo novo a Deus em si mesmo. Porque, se nele tivesse havido algo adventício, cairia por terra essa afirmação de Tiago: 'todo dom perfeito promana de cima e desce do Pai das luzes, em quem não há mudança ou sombra de variação.'" (idem)
Alguns diziam ser o fiat lux (haja luz) o surgimento da Palavra, quando Deus falou pela primeira vez. A estes Calvino também tem uma resposta.
"Ora, só porque algo começa a manifestar-se em determinado tempo não se deve por isso concluir que jamais existira antes. Eu, porém, chego a conclusão bem diferente: como no exato momento em que Deus disse: Haja luz, o poder da Palavra tenha emergido e se tenha patenteado, ela já existia muito antes. Mas, se alguém perguntar quanto tempo antes, não se achará nenhum começo." (idem)
Um dos maiores motivos para glorificarmos nosso Criador são as suas perfeições. Nosso louvor e nossa adoração são dados a um Deus perfeito, que não prova mudanças em si mesmo, de quem não há nada em falta ou que se deva diminuir. Aceitar a doutrina da eternidade do Verbo é isso: confirmar a imutabilidade de Deus, e declarar sua perfeição.
Postar um comentário