"Afinal, que o ser humano consta de alma e corpo, deve estar além de toda controvérsia. E pela palavra alma entendo uma essência imortal, contudo criada, que lhe é das duas a parte mais nobre." (1.15.2, p.180)
Como é comum entre os teólogos reformados, Calvino entende o homem como formado de uma parte material (seu corpo) e a parte imaterial (a alma, ou espírito), aquilo que conhecemos como dicotomia. Para o reformador, embora o corpo tenha sua dignidade, é na alma que encontramos a mais perfeita expressão da imagem de Deus.
Para Calvino, existem diversas provas da imortalidade e superioridade da alma. Por exemplo, a capacidade de discernir entre o bem e o mal, a memória, o funcionamento da mente no sono, e a própria Escritura, claro. Listaremos alguns:
"Sem dúvida que a consciência, que discernindo entre o bem e o mal responde ao juízo de Deus, é sinal indubitável do espírito imortal. Pois, como uma disposição sem essência poderia penetrar até o tribunal de Deus e a si incutiria terror de sua culpabilidade?" (1.15.2, p.180)
"Portanto, só o espírito pode ser a sede dessa inteligência. Aliás, o próprio sono, que entorpecendo o homem parece até mesmo privá-lo da vida, é uma testemunha não obscura da imortalidade, quando não só sugere pensamentos dessas coisas que jamais ocorreram, mas ainda presságios quanto ao porvir." (1.15.2, p.181)
Calvino combate o pensamento de Osiandro, que acreditava ser a imagem de Deus tanto a alma quanto o corpo, este baseado no futuro corpo do Filho encarnado. Outro erro que o reformador condena é a tentativa de diferenciar os termos "imagem" e "semelhança".
"Discussão bem acirrada há também a respeito de imagem e semelhança, enquanto entre estes dois termos buscam os intérpretes uma diferença que não existe, salvo que semelhança foi adicionada à guisa de explicação. Em primeiro lugar, sabemos que entre os hebreus as repetições eram triviais, através das quais exprimem duas vezes uma só coisa; em segundo lugar, nenhuma ambigüidade há na própria matéria, a saber, que o homem seja designado de imagem de Deus, porquanto é ele semelhante a Deus. " (1.15.3, p.183)
O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e dotado com habilidades maravilhosas. Já dissemos que nos acostumamos com a Criação e muitas vezes deixamos de dar glória a Deus. Porém, quantas vezes fomos levados a adoração por reconhecer a arte e poder do Criador ao nos fazer? Mesmo caído, o homem ainda demonstrar um pouco daquilo que era - a obra máxima do Criador. Que essa consciência nos leve à verdadeira piedade.
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