Continuando a argumentação em favor da divindade de Cristo, Calvino passa agora a citar o Novo Testamento, demonstrando como os apóstolos trataram a pessoa de Jesus como divina, sem cair na idolatria ou no politeísmo. A lista de passagens bíblicas e de motivos para aceitarmos a natureza divina do Filho é imensa, de maneira que somente a cegueira do pecado impede os homens de percebê-la. Justamente por essa quantidade de argumentos, citarei apenas alguns exemplos.
"Quando Isaías profetiza que o Senhor dos Exércitos haveria de ser aos judeus e israelitas por pedra de tropeço e rocha de escândalo [Is 8.14], Paulo afirma que isso se cumpriu em Cristo [Rm 9.33]. Logo, Paulo declara que Cristo é esse Senhor dos Exércitos." (idem)
"E esse é Paulo, que assim fala [1Co 8.5-6]: “Ainda que muitos se chamem deuses, seja no céu, seja na terra, para nós, entretanto, há um só Deus, de quem procedem todas as coisas.” Quando da mesma boca ouvimos que Deus se manifestou em carne [1Tm 3.16], com cujo próprio sangue Deus adquiriu a Igreja para si [At 20.28], por que imaginamos um segundo Deus, a quem aquele de modo algum reconhece? E não há a mínima dúvida de que o mesmo foi o sentimento de todos os piedosos." (1.13.11, p.134)
Os apóstolos também falam de Jesus como alguém que tem autoridade de perdoar pecados, algo que somente Deus, que é o juíz de toda a terra, pode arrogar-se.
"Brada o Senhor através do Profeta [Is 43.25]: “Sou eu, sou eu, aquele que apaga tuas iniqüidades por amor de mim.” Como, à luz desta reiteração, os judeus pensassem que a Deus se infligia ofensa por Cristo perdoar pecados, Cristo afirmou não só com palavras que esse poder lhe competia, mas até o comprovou mediante milagre [Mt 9.6]. Vemos assim que ele possui não apenas o exercício, mas ainda o poder de remissão de pecados, o qual o Senhor nega que se pode transferir a outrem." (1.13.12, p.134s)
Além disso, Cristo também ia além da operação de milagres, mas outorgava aos seus discípulos o dom necessário para que realizassem esses sinais também, algo que somente Deus pode fazer, mas que é operado "em nome de Jesus". Também é a seu nome são dadas várias das orações dos crentes da igreja primitiva, sem que haja ali idolatria. Paulo várias vezes pede a Cristo aquilo que também pede ao Pai, e mostra que o conhecimento de Cristo é onde devemos nos gloriar. De fato, é esse conhecimento de Deus por Cristo a razão da nossa própria existência, e algo que o próprio Calvino pôde perceber.
"Este conhecimento prático é, indubitavelmente, mais preciso e mais seguro que especulação ociosa de qualquer sorte. Pois a alma piedosa percebe a Deus mui presente, e como que quase o toca, ali onde se sente vivificar, iluminar, preservar, justificar e santificar." (1.13.13, p.136)
Que nos relacionemos com Jesus da mesma maneira.
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