"Sua providência geral não apenas vigora nas criaturas, de sorte a continuar a ordem natural, mas ainda, por seu admirável desígnio, se aplica a um fim definido e apropriado." (1.16.7, p.201)
Como já foi dito, essa doutrina não agrada a muitos, o que leva à uma acusação comum - estariam aqueles que defendem o governo de Deus sobre tudo se assemelhando aos antigos filósofos, que defendiam o controle da sorte, do destino ou do acaso. Evidentemente, essa objeção não se encaixa, uma vez que os cristãos defendem um universo governador por um Ser pessoal. E não apenas um Des pessoal, mas cheio de sabedoria e bondade.
"Ao contrário, de tudo constituímos a Deus árbitro e moderador, o qual, por sua sabedoria, decretou desde a extrema eternidade o que haveria de fazer, e agora, por seu poder, executa o que decretou. Daí, afirmamos que não só o céu e a terra, e as criaturas inanimadas, são de tal modo governados por sua providência, mas até os desígnios e intenções dos homens, são por ela retilineamente conduzidos à meta destinada... Nada há mais absurdo do que alguma coisa acontecer sem que Deus o ordene, pois doutra sorte aconteceria às cegas." (1.16.8, p.201s)
Calvino também fala do termo permissão, usado por Agostinho, que não pode significar que Deus simplesmente assiste os eventos do universo, deixando o acontecer o que quiser. O Criador permitir algo significa também sua ação governadora sobre todos, sendo ele a primeira causa de tudo.
"Certamente, ele não imagina Deus a repousar em ociosa torre de observação, enquanto se dispõe a permitir algo, quando intervém uma, por assim dizer, vontade presente, de qualquer modo não se poderia declarar como causa." (idem)
Por fim, Calvino também leva em consideração que muitos dos fatos que nos parecem fortuitos são providenciados por Deus, mesmo que não os entendamos. Em suas palavras, "muito aquém da altura da providência de Deus se põe a lerdeza da mente" (1.16.9, p.202). Certos eventos acontecem por causa da própria natureza dos elementos envolvidos, mas mesmo ali está a mão de Deus a guiar esses acontecimentos ordinários.
"Raciocínio idêntico vale em relação à contingência dos eventos futuros. Como todas as coisas futuras nos são incertas, por isso as temos em suspenso, como se houvessem de inclinar para um lado ou para outro. Entretanto, permanece não menos arraigado em nosso coração que nada haverá de acontecer que o Senhor já não o haja provido." (1.16.9, p.203)
Nos próximos textos, Calvino dedicará mais de sua atenção ao assunto da providência, nos levando a confiar plenamente no justo desígnio de Deus sobre a Criação. Que tenhamos esses pensamentos na mais alta conta, visto que nos servem para elevar a mente ao Criador.
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