"A Escritura indica que eles montam guarda por nossa segurança, assumem nossa defesa, dirigem nossos caminhos, exercem solicitude para que não nos aconteça algo de adverso." (1.14.6, p.163)
Calvino cita diversos textos que comprovam a ação dos anjos em defesa dos crentes, dos quais destaco aquele que se encontra no Salmo 91 - "A seus anjos deu ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos; nas mãos te susterão, para não tropeçares em alguma pedra" (v.11,12). Certamente esses mensageiros têm a incumbência de também nos proteger.
Isso, no entanto, não dos dá base para sustentarmos a popular doutrina do anjo da guarda individual. O reformador reconhece que temos alguns textos favoráveis a essa crença, como em Mateus 18.1o - "Não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus".
"Mas disto não sei se deva concluir-se por certo que incumbe não a um só anjo o cuidado de cada um de nós, mas, antes, que todos, em um consenso único, vigiam por nossa segurança." (1.14.7, p.164)
O que dá força a essa afirmação do teólogo são alguns textos bíblicos, em que vários anjos tomam conta ou se envolvem com apenas uma pessoa. Em Lucas 16.22, vários anjos cuidaram de levar Lázaro ao seio de Abraão, enquanto em 2Reis 6.17, os carros e cavalos angelicais são milhares protegendo apenas dois homens.
Por fim, quanto a Atos 12.15, quando os cristãos falam a respeito de um suposto anjo de Pedro, Calvino nos diz o seguinte (note a referência a crenças que até hoje perduram):
"Se bem que aqui se pode também replicar que nada nos impede que entendamos a qualquer um dentre os anjos, a quem o Senhor houvesse então confiado a proteção de Pedro, e não obstante nem por isso lhe seria guarda perpétuo, tal como, popularmente, se imagina que foram designados a cada pessoa, como se fossem gênios diversos, dois anjos, um bom e um mau." (idem)
A doutrina dos anjos pode ser difícil e distante de nós. Por isso, devemos seguir o exemplo de Calvino e nos agarrarmos apenas naquilo que a Escritura nos dá certeza - que o Senhor é tão bom e amoroso, que mesmo esses maravilhosos seres são instrumentos de sua graça. Que louvemos ao Senhor por tão valorosos obreiros!
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