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Acesse pelo endereço joaocalvino.net

Comemorando os 500 anos de João Calvino, o teólogo da Reforma, este é um blog dedicado a resumir e comentar as Instituras da Religião Cristã, obra máxima do reformador de Genebra. Que ele seja útil à comunidade, seguindo a mesma intenção de Calvino ao escrever seus livros.

"Este tem sido meu propósito: preparar e instruir de tal modo os candidatos à sagrada teologia, para a leitura da divina Palavra, que não só lhe tenham fácil acesso, mas ainda possam nesta escalada avançar sem tropeços."

Esse blog está sendo desativado. Visite-nos em www.joaocalvino.net

Objeções à providência [ 1.17.4-5 ]

Se Deus é aquele que tudo decide, por que devemos cuidar de nós mesmos? Para que agir como se pudéssemos cuidar de nossa própria vida? São essas questões que Calvino enfrentará na presente seção. A resposta do reformador é simples - Deus proveu os meios para que a proteção (ou não) de nossas vidas acontecessem.

"Aquele que nos limitou a vida com seus termos, ao mesmo tempo, depondo diante dele nossa solicitude, proveu-nos de meios e recursos de conservá-la; também nos fez capazes de antecipar os perigos; para que não nos apanhassem desprevenidos, ministrou-nos precauções e remédios." (1.17.4, p.209)

Da mesma maneira que a prudência do homem prudente é protegido por esse meio, Deus utiliza a imprudência para dar cabo do tolo. O Senhor ordena que cuidemos de nossas vidas, e o próprio fato de não conhecermos o futuro é motivo para colocarmos isso em prática.

"Pois, donde acontece que o homem providente, enquanto cuida bem de si, se desvencilha até de males iminentes, o insipiente pereça levado por temeridade, senão que tanto a insipiência quanto a prudência são instrumentos da divina administração para um e outro desses dois aspectos? Essa é a causa por que Deus quis que não conhecêssemos o futuro, para que, sendo ele incerto, nos preveníssemos e não deixássemos de usar os remédios que ele nos dá contra os perigos, até que, ou os vençamos, ou sejamos deles vencidos." (1.17.4, p.210)

Outra objeção que se levanta diz respeito aos pecados, ordenados por Deus, e, portanto, justificáveis. Calvino lembra que é na Palavra de Deus que estão os mandamentos para o homem, e que ninguém comete o mau desejoso de fazer a vontade de Deus, mas por rebeldia e concupiscência.

"Se intentamos algo contra seu preceito, isso não é obediência; pelo contrário, é contumácia e transgressão. Mas, replicarão, a não ser que ele o quisesse, não o haveríamos de fazer. Concordo. Entretanto, porventura fazemos as coisas más com este propósito, ou, seja, que lhe prestemos obediência? Com efeito, de maneira alguma Deus não no-las ordena; antes, pelo contrário, a elas nos arremetemos, nem mesmo cogitando se ele o queira, mas de nosso desejo incontido, a fremir tão desenfreadamente, que de intento deliberado lutamos contra ele." (1.17.5, p.211)

Para explicar melhor, o reformador usa uma metáfora bastante sugestiva, e com isso desbanca de vez os opositores da doutrina da providência.

"E, indago eu, donde provém o mal cheiro em um cadáver que, pelo calor do sol, não só se fez putrefato, mas até já entrou em decomposição? Todos vêem que isso é provocado pelos raios do sol; contudo, ninguém por isso diz que eles cheiram mal. Daí, como no homem mau residem a matéria e a culpa do mal, que razão há para que se conclua que Deus contrai alguma mácula se, a seu arbítrio, ele faz uso de sua atuação?" (idem)

Vemos que a preocupação de Calvino com esta doutrina não é meramente algum tipo de exercício de imaginação, mas um desejo de expressa a verdade da Escritura e, como perceberemos nas próximas seções, a preocupação pastoral de trazer conforto aos fiéis. Que nós, estudantes de teologia, também tenhamos essas coisas em nossas mentes e em nossos estudos.
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Estudando a profundidade [ 1.17.1-3 ]

O assunto da providência, tão ignorado em nossos dias, recebe de Calvino mais um capítulo, que ele gastará esclarecendo ainda mais a doutrina, e respondendo o objeções. Logo de início ele apresenta o escopo do seu estudo.

"E, em primeiro lugar, certamente deve notar-se que é preciso considerar a providência de Deus tanto em função do tempo futuro quanto do passado. Em segundo lugar, que ela a tal ponto é a moderatriz de todas as coisas, que ora opera por meios interpostos, ora sem meios, ora contra todos os meios. Em terceiro lugar, que ela aponta para o fato de que Deus mostra tomar sobre si o cuidado de todo o gênero humano, mas principalmente que vela em governar a Igreja, a qual tem por digna da mais estrita atenção." (1.17.1, p.205)

Enfim, ao mesmo tempo que não podemos ir muito além do que a Bíblia nos revela sobre esse assunto, também não podemos negar que somos chamados a contemplar e nos maravilhar diante da soberania de Deus sobre o universo. Enquanto a vontade revelada de Deus (sua Lei e seu Evangelho) nos estão claramente expostos, a vontade oculta do Senhor é comparada por Calvino com um profundo abismo [Sl 36.6; Rm 11.33,34] que não podemos negar.

"Sua admirável maneira de governar o mundo com razão se denomina de abismo, porque, a despeito de nos ser ignota, deve ser reverentemente por nós adorada. Moisés expressou magnificamente a ambos esses aspectos em poucas palavras: 'As coisas ocultas', diz ele, 'pertencem a nosso Deus; aquelas, porém, que foram aqui escritas pertencem a vós e a vossos filhos' [Dt 29.29]. Vemos, pois, que ele ordena não apenas aplicarmos diligência em meditar a lei, mas ainda reverentemente contemplarmos a providência secreta de Deus." (1.17.2, p.207)

Agostinho também é citado nesse trecho, demonstrando que temos uma lei que devemos nos submeter e a lei que a todos Deus submete, mesmo que secretamente. Cabe ao crente reconhecê-la.

"Porque não conhecemos tudo que, na melhor disposição possível, Deus opera em relação a nós, agimos só em boa vontade, segundo a lei; contudo, segundo a lei, se age em outras coisas sobre nós, pois sua providência é uma lei imutável." (Agostinho, citado em 1.17.2, p.208)

Uma dos aparentes problemas que a doutrina da providência levanta diz respeito à responsabilidade. Calvino cita alguns escritores pagãos que diziam que isso geraria o fim da responsabilidade humana, pois se Deus controla tudo, ele controla nossas decisões para o mal. O reformador falará sobre isso nas próximas seções, mas introduziremos o assunto aqui.

"Eu, porém, não sou causador, e, sim, Zeus e o Destino... Deus foi o impulsor; creio que os deuses o quiseram, porquanto se não o quisessem, sei que não teria acontecido." (citando Agamenão, de Homero, e Licônio, de Plauto, 1.17.3, p.208)

"Até mesmo concluem que haverão de ser perversas, não só totalmente supérfluas, as orações dos fiéis nas quais se pede que o Senhor proveja àquelas coisas que decretou já desde a eternidade." (1.17.3, p.209)

Assim, é necessário que nos dediquemos mais tempo a essa questão. Como já foi disto, é uma doutrina que mexe com verdades difíceis para o ser humano, e merece mais algum tempo de estudo. Que o Espírito Santo possa nos iluminar nessa empreitada.
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Providência ou acaso? [ 1.16.7-9 ]

Calvino continua sua exposição sobre a providência divina, demonstrando que as ações naturais não apenas são governadas pelo Criador, mas também levadas por ele a um propósito que lhe agrade. Tanto aquilo que ordinário quanto o extraordinário estão debaixo da soberania de Deus.

"Sua providência geral não apenas vigora nas criaturas, de sorte a continuar a ordem natural, mas ainda, por seu admirável desígnio, se aplica a um fim definido e apropriado."
(1.16.7, p.201)

Como já foi dito, essa doutrina não agrada a muitos, o que leva à uma acusação comum - estariam aqueles que defendem o governo de Deus sobre tudo se assemelhando aos antigos filósofos, que defendiam o controle da sorte, do destino ou do acaso. Evidentemente, essa objeção não se encaixa, uma vez que os cristãos defendem um universo governador por um Ser pessoal. E não apenas um Des pessoal, mas cheio de sabedoria e bondade.

"Ao contrário, de tudo constituímos a Deus árbitro e moderador, o qual, por sua sabedoria, decretou desde a extrema eternidade o que haveria de fazer, e agora, por seu poder, executa o que decretou. Daí, afirmamos que não só o céu e a terra, e as criaturas inanimadas, são de tal modo governados por sua providência, mas até os desígnios e intenções dos homens, são por ela retilineamente conduzidos à meta destinada... Nada há mais absurdo do que alguma coisa acontecer sem que Deus o ordene, pois doutra sorte aconteceria às cegas." (1.16.8, p.201s)

Calvino também fala do termo permissão, usado por Agostinho, que não pode significar que Deus simplesmente assiste os eventos do universo, deixando o acontecer o que quiser. O Criador permitir algo significa também sua ação governadora sobre todos, sendo ele a primeira causa de tudo.

"Certamente, ele não imagina Deus a repousar em ociosa torre de observação, enquanto se dispõe a permitir algo, quando intervém uma, por assim dizer, vontade presente, de qualquer modo não se poderia declarar como causa." (idem)

Por fim, Calvino também leva em consideração que muitos dos fatos que nos parecem fortuitos são providenciados por Deus, mesmo que não os entendamos. Em suas palavras, "muito aquém da altura da providência de Deus se põe a lerdeza da mente" (1.16.9, p.202). Certos eventos acontecem por causa da própria natureza dos elementos envolvidos, mas mesmo ali está a mão de Deus a guiar esses acontecimentos ordinários.

"Raciocínio idêntico vale em relação à contingência dos eventos futuros. Como todas as coisas futuras nos são incertas, por isso as temos em suspenso, como se houvessem de inclinar para um lado ou para outro. Entretanto, permanece não menos arraigado em nosso coração que nada haverá de acontecer que o Senhor já não o haja provido." (1.16.9, p.203)

Nos próximos textos, Calvino dedicará mais de sua atenção ao assunto da providência, nos levando a confiar plenamente no justo desígnio de Deus sobre a Criação. Que tenhamos esses pensamentos na mais alta conta, visto que nos servem para elevar a mente ao Criador.
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O Deus que decide [ 1.16.4-6 ]

Muitas vezes para a mente humana a idéia de um Deus que governa e determina todas as coisas gera problema. Alguns temem que sua liberdade seja suprimida por essa idéia, outros querem inocentar Deus dos eventos que consideram ruins. Porém, o que a Bíblia ensina é que o Criador realmente tem em suas mãos o controle de tudo, e age de maneira eficaz.

"Pergunto, pois, que outra coisa é governar, senão presidir de tal modo que as coisas sobre as quais se preside sejam regidas por um conselho determinado e uma ordem infalível?" (1.16.4, p.197)

Negar o que o Senhor está envolvido em cada evento, é torná-lo "Regente do universo somente em nome, não de fato" (idem). Por isso, Calvino gasta um pouco de seu estudo mostrando a providência de Deus tanto na natureza, quanto entre os homens. Uma das provas do poder de Deus sobre sua criação encontra-se no Salmo 147.

"Com efeito, Davi louva a providência geral de Deus, porque ministra alimento aos filhotes de corvos que o invocam; quando, porém, o próprio Deus ameaça de fome aos animais, porventura não declara suficientemente que ele alimenta a todos os viventes, ora com escassa medida, ora com medida mais farta, conforme bem lhe pareceu?" (1.16.5, p.198)

Da mesma forma, a humanidade não pode mover um passo, se não for guiada pelo próprio Criador e Preservador. Os exemplos bíblicos são inúmeros, e não devemo nos deixar em dúvida.

"'Do homem', diz ele, 'é a disposição do coração, e do Senhor é a preparação da língua' [Pv 16.1, 9]. Sem dúvida que é uma ridícula insânia que míseros homens deliberem agir sem Deus, quando realmente nem podem falar a não ser aquilo que ele quer." (1.16.6, p.199)

Deus também é aquele que decide quem será exaltado e quem será humilhado. Em sua justiça, ele fará aquilo que lhe agradar, e o que lhe dará glória. Cabe ao homem agradecer pela decisão de seu Criador e agir sem desespero.

"Embora os ricos estejam, no mundo, mesclados com os pobres, enquanto a cada um é divinamente assinalada sua condição, Deus, que a todos ilumina, não é de modo nenhum cego, e assim exorta os pobres à paciência, porque todos quantos não estão contentes com a própria sorte tentam alijar o fardo que Deus impôs sobre eles... Uma vez que Deus não pode despojar-se da função de Juiz, o salmista conclui daqui que de seu secreto desígnio permite que uns se enalteçam e outros permaneçam desprezíveis." (1.16.6, p.200)

A mensagem de Calvino não deve nos levar à passividade e ao conformismo, mas é necessária para entender porque somos quem somos. Deus nos criou, e rege nossa vida conforme sua vontade soberana. Aqueles que fogem dessa verdade enfrentarão temor e ansiedade, enquanto o fiel achará, mesmo em dificuldades, alegria e prazer. Que tenhamos isso em nosso coração.
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Deus, Criador e Preservador [ 1.16.1-3 ]

Se Deus é o Criador de tudo, segue-se que ele é o Sustentador e Governador também. Esse é o raciocínio de Calvino ao entrar no assunto da providência divina. Quem crê em Deus como Criador deve reconhecê-lo como soberano também.

"Se não chegamos até sua providência, por mais que pareçamos não só compreender com a mente, mas até confessar com a língua, ainda não aprendemos corretamente o que isto significa: 'Deus é Criador'.” (1.16.1, p.192)

O governo de Deus sobre a criação não se restringe a simplesmente acionar a "máquina do universo" e deixá-la funcionando, como creem os deístas (e muitos crentes), mas ele mesmo se envolve no funcionamento de tudo, seja (ao nosso ver) bonança ou desastre. Além disso, nem a sorte, nem o acaso devem ser lembrados como regentes do universo, mas somente Deus.

"Se alguém cai nas garras de assaltantes, ou de animais ferozes; se do vento a surgir de repente sofre naufrágio no mar; se é soterrado pela queda da casa ou de uma árvore; se outro, vagando por lugares desertos, encontra provisão para sua fome; arrastado pelas ondas, chega ao porto; escapa milagrosamente à morte pela distância de apenas um dedo; todas essas ocorrências, tanto prósperas, quanto adversas, a razão carnal as atribui à sorte. Contudo, todo aquele que foi ensinado pelos lábios de Cristo de que todos os cabelos da cabeça lhe estão contados [Mt 10.30], buscará causa mais remota e terá por certo que todo e qualquer evento é governado pelo conselho secreto de Deus." (1.16.2, p.193)

Assim, todas as coisas, embora tenham em sua natureza certas propriedades, só se tornam efetivas quando são movidas por Deus a realizar aquilo a que foram propostas. O crente deve guardar isso, para que se lembre que Deus é aquele que decide como governar cada ser criado. Essa doutrina nos será de grande importância, trazendo confiança e glória ao Criador e conforto à alma.

"Primeiro, que poder mui amplo de fazer o bem há com aquele em cuja posse estão o céu e aterra e a cujo arbítrio as criaturas todas voltam os olhos, de sorte a devotar-se à sua obediência. Em segundo lugar, podem descansar em segurança na proteção desse a cujo arbítrio se sujeitam todas as coisas que poderiam fazer-lhes dano; sob cuja autoridade, não menos que de um freio, Satanás é coibido, juntamente com todas as suas fúrias e todo o seu aparato; de cujo arbítrio pende tudo quanto se opõe ao nosso bem-estar." (1.16.3, p.195)

A doutrina da providência, longe de ser uma fonte de especulação (como acreditam alguns), é um oásis de segurança para o crente, em meio a tantas pessoas em busca de um sentido na vida. Somente aceitando o governo do nosso Pai sobre tudo o que há poderemos ser cristãos verdadeiramente constantes e satisfeitos em Deus.
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O livre-arbítrio [ 1.15.8 ]

Quando se pensa em Calvino, a questão da predestinação e do livre-arbítrio é a primeira coisa que vem a mente da grande maioria dos evangélicos. Curiosamente, só agora, depois de 15 capítulos, o reformador começa a tocar no assunto. Isso demonstra que a caricatura reducionista que se pinta de Calvino deve ser combatida. O teólogo de Genebra não se preocupou em sistematizar a predestinação, mas de ensinar aquilo que a Bíblia ensina, e a predestinação é apenas uma parte.

Para entendermos o que o homem é hoje, é necessário compreendermos seu estado original. Como vimos no estudo anterior, Calvino entende que a alma do homem tem duas propriedades básicas: a razão e a vontade. Assim, a vontade do homem era inteiramente ajustada ao que ponderava seu entendimento. Com isso em mente, ele explica como era Adão antes do pecado.

"A escolha do bem e do mal lhe era livre. Não só isso, mas ainda suma retidão havia em sua mente e em sua vontade, e todas as partes orgânicas estavam adequadamente ajustadas à sua obediência, até que, perdendo-se a si próprio, corrompeu todo o bem que nele havia." (1.15.8, p.190)

Assim, o livre-arbítrio só poderia ser considerado verdadeiramente livre se a vontade está debaixo dessa capacidade de julgar. O erro dos filósofos, como já dissemos, foi ignorar a corrupção do homem. E o erro de muitos cristãos hoje é darem mais consideração a um conceito grego que à revelação de Deus.

"Mas os que professam ser cristãos, e ainda buscam o livre-arbítrio no homem perdido e imerso em morte espiritual, corrigindo a doutrina da Palavra de Deus com os ensinos dos filósofos, estes se desviam totalmente do caminho e não estão nem no céu nem na terra." (idem)

Calvino aproveita para combater aqueles que tentam culpar Deus por não ter evitado a Queda. No entanto, o reformador nos lembra que Adão caiu por sua própria vontade, e que Deus não tinha a obrigação de conferir ao homem mais perseverança do que já havia dado.

"Adão recebera o poder, se quisesse; não teve, entretanto, o querer, por meio do qual pudesse, porque a perseverança acompanharia este querer. Todavia, não tem escusas quem recebeu tanto que, por seu próprio arbítrio, a si engendrasse a ruína. Aliás, nenhuma necessidade fora imposta a Deus para que não lhe outorgasse uma vontade medial e até passível de cair, para que da queda daquele derivasse matéria para sua glória." (1.15.9, p.191)

Como o próprio Calvino nos propõe, é necessário também conhecer o homem para conhecer a Deus. Aqueles que negam a incapacidade do ser humano de escolher livremente entre o bem e o mal precisam livrar-se de todo conceito que não vem da Bíblia. O crente que ignora o que a Escritura ensina sobre si pode cair em grave erro. Que sejamos submissos à Palavra do Senhor.
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Filosofando sobre o homem [ 1.15.5-7 ]

O ser humano e suas capacidades sempre foram material de estudo farto na filosofia. Por isso, Calvino dedica parte de seu estudo às teorias propostas pelos pensadores seculares. Ele começa combatendo a doutrina dos maniqueus, que ensinavam ser a alma parte da essência de Deus. O argumento contrário de Calvino compara a mudança e corruptibilidade do homem à eternidade de Deus.

"Ora, se a alma do homem procede da essência de Deus mediante transfusão, segue-se que a natureza de Deus está sujeira não só a mudança e a paixões, mas ainda a ignorância, a desejos depravados, a enfermidade e a vícios de toda espécie... Se aceitamos que a alma é porção da essência de Deus ou misterioso influxo da divindade, faz-se necessário atribuir tudo isso à natureza de Deus." (1.15.5, p.186)

A conclusão de Calvino contra os maniqueus é que "criação, porém, não é transfusão; ao contrário, é começo de essência oriunda do nada" (idem). A respeito de outros filósofos, porém, o reformador é um pouco mais positivo, reconhecendo que "as coisas que ensinam são realmente verazes, não apenas agradáveis de se conhecer, como também são proveitosas" (1.15.6, p.187).

No entanto, por mais úteis que sejam os filósofos, eles pecam por não considerar a queda do homem nos seus estudos. Na seção 1.15.8, Calvino nos dirá que o erro deles foi procurar um edifício estruturado em meio a escombros. Por isso, o reformador prefere ensinar apenas duas faculdades básicas da alma humana.

"A divisão que usaremos será considerar duas partes na alma: o entendimento e a vontade. Entretanto, a função do entendimento é discernir entre as coisas que lhe são propostas, para ver qual há de ser aprovada e qual há de ser rejeitada; a função da vontade, entretanto, é escolher e seguir o que o entendimento ditar como bom, rejeitar e evitar o que ele houver desaprovado." (1.15.7, p.189)

Aprendemos nessa seção que o estudo secular tem utilidade para o cristão, mesmo que nos sirvam apenas para reconhecermos seus erros e os evitarmos. Assim, embora beba muitas vezes dos escritos dos filósofos, para o reformador essa definição simples nos é suficiente. Esses termos serão úteis na próxima seção, quando ele falará sobre a queda do homem.

"Para que não nos enredilhemos em questões supérfluas, seja-nos bastante que o entendimento é como que o guia e piloto da alma, que a vontade sempre atenta para seu arbítrio e em seus desejos espera seu juízo." (idem)
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A imagem de Deus [ 1.15.4 ]

Afinal, o que significa a expressão "imagem de Deus"? Para Calvino, isso só pode ser respondido à luz do que a Bíblia fala a respeito do estado original e do estado regenerado do homem. O homem pecador ainda carrega essa imagem, porém deformada pelo pecado. O Espírito Santo trabalha para trazê-la à tona novamente.

"Agora ela se percebe nos eleitos, em certa medida, na extensão em que foram regenerados pelo Espírito. Entretanto, pleno fulgor ela haverá de fluir somente no céu." (1.15.4, p.185)

Para Calvino, "o propósito da regeneração é este: para que Cristo nos remolde à imagem de Deus" (1.15.4, p.184). Assim, ele nos mostra que Paulo várias vezes faz uso desse conceito, exortando-nos a nos conformarmos com Cristo. O reformador cita alguma dessas características que fazem brilhar a imagem do Criador em nós.
"Põe ele, em primeiro lugar, conhecimento; em segundo, sincera retidão e santidade. Do quê concluímos que, de início, a imagem de Deus foi conspícua na luz da mente, na retidão do coração e na saúde de todas as partes do ser humano." (idem)

Calvino também refuta as heresias de Osiandro, inclusive sua teoria de que apenas o homem seria a imagem de Deus, e não a mulher. O reformador sabe que o termo "compreende tudo quanto diz respeito à vida espiritual e eterna" (1.15.4, p.185), o que inclui o sexo feminino. Calvino também critica a especulação de Agostinho, que falava da alma como reflexo da Trindade. Por fim, combate também aqueles que associam a imagem de Deus ao domínio sobre a terra (idéia forte hoje em dia, e bastante aceitável, em minha opinião).

A mensagem que este estudo deixa, portanto, é essa - que o homem foi criado conforme a imagem de Deus, caiu dessa posição, mas Cristo nos traz de volta ao que fora dado à humanidade.

"Cristo é a perfeitíssima imagem de Deus, conformados à qual somos de tal modo restaurados que trazemos a imagem de Deus em verdadeira piedade, retidão, pureza, entendimento." (idem)
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A imortalidade da alma [ 1.15.2-3 ]

Confesso que, por maior que seja minha admiração por Calvino, não concordo com alguns pontos de sua antropologia. Me parece que, por vezes, ele está mais próximo dos gregos que dos judeus (basicamente, os autores da Bíblia). Queria saber o que os irmãos acham. De qualquer maneira, como o interesse dos leitores (e do blog) não é o que penso, mas o que o reformador pensa, prossigamos.

"Afinal, que o ser humano consta de alma e corpo, deve estar além de toda controvérsia. E pela palavra alma entendo uma essência imortal, contudo criada, que lhe é das duas a parte mais nobre." (1.15.2, p.180)

Como é comum entre os teólogos reformados, Calvino entende o homem como formado de uma parte material (seu corpo) e a parte imaterial (a alma, ou espírito), aquilo que conhecemos como dicotomia. Para o reformador, embora o corpo tenha sua dignidade, é na alma que encontramos a mais perfeita expressão da imagem de Deus.

Para Calvino, existem diversas provas da imortalidade e superioridade da alma. Por exemplo, a capacidade de discernir entre o bem e o mal, a memória, o funcionamento da mente no sono, e a própria Escritura, claro. Listaremos alguns:

"Sem dúvida que a consciência, que discernindo entre o bem e o mal responde ao juízo de Deus, é sinal indubitável do espírito imortal. Pois, como uma disposição sem essência poderia penetrar até o tribunal de Deus e a si incutiria terror de sua culpabilidade?" (1.15.2, p.180)

"Portanto, só o espírito pode ser a sede dessa inteligência. Aliás, o próprio sono, que entorpecendo o homem parece até mesmo privá-lo da vida, é uma testemunha não obscura da imortalidade, quando não só sugere pensamentos dessas coisas que jamais ocorreram, mas ainda presságios quanto ao porvir." (1.15.2, p.181)

Calvino combate o pensamento de Osiandro, que acreditava ser a imagem de Deus tanto a alma quanto o corpo, este baseado no futuro corpo do Filho encarnado. Outro erro que o reformador condena é a tentativa de diferenciar os termos "imagem" e "semelhança".

"Discussão bem acirrada há também a respeito de imagem e semelhança, enquanto entre estes dois termos buscam os intérpretes uma diferença que não existe, salvo que semelhança foi adicionada à guisa de explicação. Em primeiro lugar, sabemos que entre os hebreus as repetições eram triviais, através das quais exprimem duas vezes uma só coisa; em segundo lugar, nenhuma ambigüidade há na própria matéria, a saber, que o homem seja designado de imagem de Deus, porquanto é ele semelhante a Deus. " (1.15.3, p.183)

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e dotado com habilidades maravilhosas. Já dissemos que nos acostumamos com a Criação e muitas vezes deixamos de dar glória a Deus. Porém, quantas vezes fomos levados a adoração por reconhecer a arte e poder do Criador ao nos fazer? Mesmo caído, o homem ainda demonstrar um pouco daquilo que era - a obra máxima do Criador. Que essa consciência nos leve à verdadeira piedade.
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Sobre o homem [ 1.15.1]

A partir de agora, Calvino se volta ao conhecimento do homem. Para ele, é essencial que conheçamos a nós mesmos, se quisermos conhecer a Deus. Isso não é algum tipo de princípio antropocêntrico, mas é fruto da certeza de que o Senhor imprimiu suas marcas também na humanidade.

"Convém-nos falar agora da criação do homem, não apenas porque dentre todas as obras de Deus é ele a expressão mais nobre e sumamente admirável de sua justiça, sabedoria e bondade, mas ainda porque, como dissemos de início, Deus não nos pode ser clara e plenamente conhecido, a não ser que se acresça conhecimento correlato de nós mesmos." (1.15.1, p.179)

Por outro lado, devemos nos lembrar que a humanidade está corrompida pelo pecado. Segue-se, portanto, que o conhecimento sobre o homem divide-se entre o que sabemos sobre ele antes da queda e o que sabemos após a queda. Não podemos nos confundir quanto a isso, nem ignorar essa verdade (algo comum hoje em dia, dentro e fora das igrejas). Essa convicção também evita que alguém pense que o Criador fez a humanidade com algum tipo de falha.

"E visto ser duplo esse conhecimento de nós próprios, isto é, que saibamos como fomos criados em nosso estado original e como começou a ser nossa condição após a queda de Adão (aliás, nem seria de muito proveito conhecer nossa criação, a não ser que reconhecêssemos qual é a corrupção e deformidade de nossa natureza nesta desoladora ruína em que nos achamos)." (idem)

Por fim, antes de entrarmos nesse assunto, é necessário que lembremos que a natureza de nossa criação deve nos levar a humildade. O homem veio do pó da terra, fruto das mãos do oleiro.

"Em primeiro lugar, uma vez que o homem foi tomado da terra e do barro, é preciso reconhecer que assim ao orgulho foi posto um freio, pois nada é mais absurdo do que se gloriarem de sua excelência aqueles que não só 'habitam uma casa de barro' [Jó 4.19], mas ainda, como tais, em parte eles próprios são terra e cinza. Visto, porém, que Deus se dignou não só animar a um vaso de terra, como também quis que o mesmo fosse a habitação de um espírito imortal, Adão pôde gloriar-se nessa generosidade tão ingente de seu Criador."(1.15.1, p.180)

É sobre esse espírito imortal que Calvino falará nas próximas seções.
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O magnífico palácio [ 1.14.20-22 ]

Para esta seção, é importante ter em mente a atitude proposta por Calvino para estudar a Criação de Deus.

"Portanto, para usar de brevidade, saibam os leitores então terem aprendido, em verdadeira fé, quem é Deus o Criador do céu e da terra, se, em primeiro lugar, seguirem esta regra universal: que não deixem de atentar, seja por ingrata irreflexão, seja por ingrato esquecimento, para os esplendentes primores que Deus exibe em suas criaturas; e, em segundo lugar, assim aprendam a aplicar essas coisas a si próprios, para que se lhes apeguem profundamente ao coração." (1.14.21, p.176)

Isto é, para o reformador, devemos observar as coisas criadas contemplando as maravilhas do poder de Deus nela, e não apenas reconhecendo isso, mas aplicando ao nosso coração, a fim de agirmos em piedade e adoração. Nesse pequeno trecho, onde Calvino volta-se rapidamente ao tema da Criação outra vez, vemos algumas das mais belas passagens escritas pelo teólogo de Genebra, e podemos perceber que ele coloca em prática esses dois princípios citados acima. Comecemos com seu breve resumo da doutrina da Criação.

"Deus criou do nada o céu e a terra; daqui produziu a todo gênero, animais e coisas inanimadas; distinguiu em admirável seqüência incontável variedade de coisas; a cada gênero revestiu de sua natureza específica; designou funções, atribuiu regiões e moradas; e, visto que todas as coisas são susceptíveis à corrupção, contudo providenciou para que, preservadas, se conservem as espécies, uma a uma, até o dia final... Igualmente adornou o céu e a terra com uma abundância perfeitíssima, e a tudo com diversidade e formosura como se fosse um grande e magnífico palácio admiravelmente mobiliado." (1.14.20, p.175)

É nesse belo palácio que o homem foi colocado, com tudo o que é necessário para ele à disposição. Algo que nos deve encher de alegria e gratidão. Ao contrário do homem moderno, que conhece tantas maravilhas do universo, mas é incapaz de glorificar a Deus, Calvino, com o pouco que sabia (se comparado a nós) se enche de júbilo.

"De quão grande ingratidão haveria de ser agora duvidarmos que esse Pai boníssimo tenha cuidado de nós, quando vemos ter sido solícito a nosso respeito antes mesmo que nascêssemos! Quão ímpio seria tremer de desconfiança de que, em algum momento, sua benevolência nos falte na necessidade, quando vemos ser-nos exibido, com sua prodigalidade, tudo o que é bom, quando ainda nem éramos nascidos!" (1.14.22, p.177)

Que esse sentimento também esteja presente em nós. Por mais acostumados que estejamos com as maravilhas da Criação, devemos ensinar nossos corações a seguirem aqueles dois princípios que abrem esse post. Certamente essa experiência fará nossa vida cada vez mais contente, e nosso relacionamento com Deus cada dia mais vivo. Ao mesmo tempo, como Calvino, perceberemos que as coisas criadas demonstram aquilo que a Bíblia já ensina - que os atributos de Deus são maravilhosos e, muitas vezes, indizíveis.

"De fato, se quisermos apresentar, como lhe convém à dignidade, quanto refulja na estruturação do mundo a inestimável sabedoria, poder, justiça e bondade de Deus, não estará à altura da magnitude de empresa de tão grande proporção nenhum esplendor nem ornato de linguagem." (1.14.21, p.176)
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O inimigo contido [ 1.14.17-19 ]

Que o Diabo se levanta contra Deus e seus filhos, já sabemos, mas até onde vai o seu poder? Calvino mostra que, ao contrário da crença popular, o inimigo só pode ir até onde Deus determinou. Não existe uma luta equilibrada, pois Satanás, mesmo rebelde, ainda serve aos planos do Senhor e só pode ir até onde lhe é permitido.

"Quanto, porém, diz respeito à discórdia e luta que dissemos existir de Satanás com Deus, entretanto assim importa admitir que isto permanece estabelecido: que aquele nada pode fazer, a não ser que Deus o queira e consinta." (1.14.17, p.171)

Isso não quer dizer que o Inimigo não seja um anjo rebelde e não odeie seu próprio Criador, mas significa que o seu mal é usado por Deus a fim de alcançar o bem, e a fim de cumprir seus próprios planos. Entre seus exemplos, Calvino cita a ação do Diabo em Jó e contra Acabe (1Rs 22.20).

"Ele se opõe a Deus com vil paixão e deliberado intento. Em virtude dessa depravação, é ele incitado à tentativa dessas coisas que julga serem especialmente contrárias a Deus. Como, porém, este o mantém amarrado e tolhido pelo freio de seu poder, ele leva a bom termo apenas aquelas coisas que lhe foram divinamente concedidas, e assim, queira ou não, obedece a seu Criador, porquanto é compelido a prestar-lhe serviço aonde quer que o mesmo o impelir." (1.14.17, p.172)

Além disso, devemos ter a certeza de que o Senhor não permitirá que Satanás derrote definitavamente os cristãos. Por mais que Deus permita dificuldades, é somente sobre os incrédulos que o demônio exerce seu poder total. Isso se deve não a algo especial que os crentes têm, mas à vitória de Cristo.

"Doutra sorte, ela seria a cada instante reduzida cem vezes a nada pelo Diabo. Ora, uma vez que tal é nossa insuficiência e tal lhe é o furibundo poder, como, a não ser firmados na vitória de nosso Chefe, faríamos frente, sequer um mínimo, a seus multiformes e constantes ataques? Portanto, Deus não permite o reinado de Satanás nas almas dos fiéis, mas só nas almas dos ímpios e incrédulos, a quem não tem por dignos de serem contados em sua igreja, os abandona para que sejam por ele governados." (1.14.18, p.173)

Finalizando o estudo sobre o Diabo e os demônios, Calvino também rebate a heresia de que os espíritos maus são apenas impulsos humanos, e não verdadeiras criaturas. Ele mostra que não há sentido em pensar vários dos textos bíblicos que tratam do assunto entendendo-se os demônios como outra coisa além de seres reais pessoais.

"Quão improcedentes haveriam de ser estas expressões: que os seres diabólicos foram destinados ao juízo eterno; que fogo lhes foi preparado; que mesmo agora são atormentados e torturados pela glória de Cristo, se simplesmente não existissem nenhum diabo?" (1.14.19, p.175)

Uma lição que fica nesse último estudo é que sempre devemos exortar a igreja a não ir além do que a Palavra diz. Muitos crentes hoje vivem com medo de demônios, por aprenderem doutrinas erradas sobre o Inimigo. Não podemos dar crédito a especulações e suspostas revelações que vão contra o que o Espírito Santo nos revelou. Devemos ter cuidado, sim, com os ardis e a astúcia de Satanás, mas sem abandonar a certeza de que Deus é soberano.
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A natureza do inimigo [ 1.14.16 ]

Em seções anteriores, Calvino combateu duramente a doutrina dos maniqueus, que pregava uma paridade de origem, natureza e poder entre Deus e o Diabo. Um dos motivos dessa doutrina ser tão forte anos depois é que ela "livra" Deus da acusação de ser o criador da natureza má do Inimigo. O reformador explica como isso não é necessário, e como Deus nada tem a ver com os erros do demônio.

"Como, porém, o Diabo foi criado por Deus, lembremo-nos de que esta malignificência que atribuímos à sua natureza não procede da criação, mas da depravação. Tudo quanto, pois, tem ele de condenável, sobre si evocou por sua defecção e queda... Não venhamos, crendo que ele recebeu de Deus exatamente o que é agora, a atribuir ao próprio Deus o que lhe é absolutamente estranho." (1.14.16, p.171)

O reformador não vai muito além da pouca informação bíblica, que apenas diz que os demônios já estiveram em uma posição de glória, mas eles mesmos decidiram abandoná-la, em rebeldia. A Bíblia é clara em dizer que os anjos maus abandonaram seus postos, não foram empurrados para fora de lá.

"Pois o que era proveitoso de se conhecer, claramente se ensina em Pedro e Judas [2Pe 2.4; Jd 6]: 'Deus não poupou', dizem eles, 'aos anjos que pecaram e não conservaram sua origem; ao contrário, abandonaram sua morada.' E Paulo, mencionando os anjos eleitos [1Tm 5.21], sem dúvida contrasta com eles tacitamente os réprobos." (idem)

"Por esta razão, Cristo declara [Jo 8.44] que Satanás, quando profere a mentira, fala do que é próprio à sua natureza, e apresenta a causa: 'porque não permaneceu na verdade.' De fato, quando estatui que Satanás não persistiu na verdade, implica em que outrora ele estivera nela." (idem)

Note que ele nem cita os supostos textos-bases sobre a rebelião de Satanás, algo comum hoje em dia. Para Calvino, o Espírito Santo não quis nos tem a intenção de nos satisfazer a "curiosidade com histórias fúteis, destituídas de proveito"(idem). Portanto, precisamos ser humildes e aceitar de bom grado aquilo que a Palavra nos ensina.

"Estejamos contentes com resumirmos a matéria assim: na criação original foram anjos de Deus; mas, em degenerando, perderam-se e se fizeram instrumentos de perdição a outros." (idem)
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O inimigo da Igreja [ 1.14.13-15 ]

Terminado o estudo sobre os anjos bons, Calvino agora fala sobre os demônios, iniciando com o chefe deles - o Diabo. Sua descrição do Inimigo nos faz lembrar que lutamos contra alguém muito perigoso, alguém que é simplesmente "o autor, guia e arquiteto de toda maleficência e iniqüidade" (1.14.15, p.170). Às vezes isso é algo que desejamos esquecer.

"Ele é descrito de tal forma em Gênesis, capítulo 3, onde afasta o homem da obediência que devia a Deus, para que, a um tempo, não só despoje a Deus da justa honra, mas ainda precipita o próprio homem na ruína." (idem)

"Um inimigo prestíssimo em audácia, vigorosíssimo em forças, astutíssimo em estratagemas, infatigável em diligência e presteza, munidíssimo de todos os apetrechos bélicos, habilíssimo na arte de guerrear, conduzamos tudo a este fim: que não nos deixemos sobrepujar por inércia ou pusilanimidade, mas, em contraposição, tendo o ânimo soerguido e despertado, finquemos pé a resistir; e uma vez que esta beligerância não se finda senão com a morte, nos exortemos à perseverança."
(1.14.13, p.169)

Mais ainda, não apenas o diabo está contra nós, mas um exército de inimigos, o que deve nos deixar mais atentos às tentações e ataques satânicos. A Escritura várias vezes refere-se a essas hostes demoníacas, ainda que fale muitas vezes apenas do líder delas.

"Assim, pois, muitas vezes a referência é a um Satanás ou Diabo, no número singular, denotando-se aquele império de iniqüidade que se opõe ao reino de justiça. Pois da mesma forma que a Igreja e a sociedade dos santos têm a Cristo como Cabeça, assim também a facção dos ímpios, e a própria impiedade, nos são pintadas com seu príncipe, que nessa esfera exerce império absoluto." (1.14.14, p.170)

A chave para não sermos derrotados nessa perigosa batalha é nos apegarmos àquele que tem poder para vencer. Que tenhamos isso em mente, que deixemos de lado nosso orgulho e independência.

"Sobretudo, porém, cônscios de nossa insuficiência e obtusidade, invoquemos a assistência de Deus a nosso favor, nem tentemos coisa alguma, senão apoiados nele, visto que só a ele pertence o ministrar conselho, força, coragem e armas." (1.14.13, p.169)
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Anjos, ministros de Deus [ 1.14.11-12 ]

Finalizando seu estudo sobre anjos, Calvino levanta uma interessante questão - por que Deus utiliza-se de tais intermediários, se ele mesmo poderia nos proteger, nos trazer mensagens ou presentear-nos com bênçãos? Para o reformador, isso nos traz mais segurança.

"Por esta razão, não somente promete que haverá de cuidar de nós pessoalmente, mas ainda que dispõe de inumeráveis guardiães a quem já determinou para provernos a segurança, ou, seja, por todo o tempo em que estamos cercados da guarda e proteção destes, qualquer que seja o perigo que ameace, fomos postos além de toda contingência do mal." (1.14.11, p.167)

Esse cuidado do Senhor deve nos trazer mais conforto e segurança. Por outro lado, a falta de confiança em Deus torna-se um pecado ainda pior.

"De fato confesso que isto se nos converte em erro: que após essa inconfundível promessa acerca da proteção do Deus único, ainda volvamos o olhar em derredor, buscando donde nos venha o socorro." (idem)

O outro perigo que envolve essa doutrina sobre os seres celestiais é darmos atenção demais a eles. Calvino critica aqueles que tentam fazer pedidos a anjos, uma prática comum até hoje, mesmo em algumas igrejas. Devemos sempre voltar nossas petições ao Criador, não a seus ministros.

"Unicamente pela intercessão de Cristo, resulta que nos advenham as ministrações dos anjos, como ele próprio o afirma: 'Vereis doravante os céus abertos e os anjos descendo ao Filho do Homem' [Jo 1.51]... Ora, visto que Deus não os faz ministros de seu poder e bondade em tais moldes que partilhe com eles sua glória, assim também não nos promete sua assistência na ministração deles em relação a nós em termos tais que dividamos nossa confiança entre eles e ele." (1.14.12, p.168)

Diante desse belíssimo estudo de Calvino, devemos agradecer a Deus por esses ministros que ele coloca à disposição de sua igreja. Ainda que nem saibamos quando eles estão a nos proteger ou nos ajudar, a Palavra nos dá certeza desse serviço angelical. Que sejamos gratos a Deus por mais essa prova de bondade com seus pequenos filhos.
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O mistério dos anjos [ 1.14.8-10 ]

A Bíblia nos oferece poucas informações sobre os anjos, se comparamos com aquilo que ela fala de nós mesmos, ou da própria Criação. Por isso, nos trechos que se seguem, Calvino reune apenas aquilo que a Escritura nos ensina, rebatendo qualquer tipo de informação espúria sobre o assunto. Primeiramente, ele fala sobre hierarquia e quantidade desses seres, embora "creiamos ser desse gênero de mistérios cuja plena revelação se dará no último dia" (1.14.8, p.165).

"Reconheço que Miguel é chamado 'o grande príncipe' em Daniel [12.1] e 'o arcanjo que, com uma trombeta, convocará os homens ao juízo. Quem, entretanto, poderá daí estabelecer graus de honra entre os anjos, distinguir a cada um por suas insígnias específicas, assinalar a cada um o lugar e a posição?" (1.14.8, p.164s)

Por fim, ele chega a conclusão de que certamente a legião de anjos é gigantesca, mesmo que as informações sobre isso sejam raras. Uma nota interessante é o que Calvino diz a respeito dos anjos serem retratados como seres alados na Bíblia.

"A Escritura, sob o nome de querubins e serafins, não em vão nos pinta anjos alados, para que não tenhamos dúvida de que sempre haverão de estar presentes para, com incrível celeridade, trazer-nos auxílio, tão logo as circunstâncias o exijam, como se, com a costumeira velocidade, voasse para nós como um relâmpago despedido do céu." (1.14.8, p.165)

Uma heresia que o reformador combate diz respeito à pessoalidade dos seres celestiais. Para alguns, como os saduceus, o que chamamos de anjos são apenas os impulsos de Deus que inspiram o homem. Em resposta, Calvino cita diversos textos onde claramente associam-se características pessoais aos anjos, como por exemplo a alegria (Lc 15.10) e suas aparições em forma humana.

Antes de prosseguir nesse estudo, Calvino novamente volta a alertar-nos contr a superstição da angelolatria, ou seja, dar aos anjos honra que não lhes é devida. Devemos nos voltar a Cristo, o único que é auto-existente e auto-suficiente, e o mesmo que sustenta a bondade e os poderes angelicais.

"Não só se deve distinguir Cristo de todos os anjos, mas ainda que ele é o autor de tudo o que eles têm de bom, para que não aconteça que, deixando-o de parte nos volvamos para aqueles que não podem nem a si próprios bastar, ao contrário, tudo recebem da mesma fonte da qual nós mesmos recebemos." (1.14.10, p.167)
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Anjos de guarda [ 1.14.6-7 ]

Existe realmente um anjo da guarda para cada pessoa, ou pelo menos cada crentes? Calvino agora dedica parte de seu estudo à função que esses seres têm de cuidar dos fiéis. O próprio Deus deu ordens para que essas maravilhosas criaturas cuidassem de meros pecadores.

"A Escritura indica que eles montam guarda por nossa segurança, assumem nossa defesa, dirigem nossos caminhos, exercem solicitude para que não nos aconteça algo de adverso." (1.14.6, p.163)

Calvino cita diversos textos que comprovam a ação dos anjos em defesa dos crentes, dos quais destaco aquele que se encontra no Salmo 91 - "A seus anjos deu ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos; nas mãos te susterão, para não tropeçares em alguma pedra" (v.11,12). Certamente esses mensageiros têm a incumbência de também nos proteger.

Isso, no entanto, não dos dá base para sustentarmos a popular doutrina do anjo da guarda individual. O reformador reconhece que temos alguns textos favoráveis a essa crença, como em Mateus 18.1o - "Não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus".

"Mas disto não sei se deva concluir-se por certo que incumbe não a um só anjo o cuidado de cada um de nós, mas, antes, que todos, em um consenso único, vigiam por nossa segurança." (1.14.7, p.164)

O que dá força a essa afirmação do teólogo são alguns textos bíblicos, em que vários anjos tomam conta ou se envolvem com apenas uma pessoa. Em Lucas 16.22, vários anjos cuidaram de levar Lázaro ao seio de Abraão, enquanto em 2Reis 6.17, os carros e cavalos angelicais são milhares protegendo apenas dois homens.

Por fim, quanto a Atos 12.15, quando os cristãos falam a respeito de um suposto anjo de Pedro, Calvino nos diz o seguinte (note a referência a crenças que até hoje perduram):

"Se bem que aqui se pode também replicar que nada nos impede que entendamos a qualquer um dentre os anjos, a quem o Senhor houvesse então confiado a proteção de Pedro, e não obstante nem por isso lhe seria guarda perpétuo, tal como, popularmente, se imagina que foram designados a cada pessoa, como se fossem gênios diversos, dois anjos, um bom e um mau." (idem)

A doutrina dos anjos pode ser difícil e distante de nós. Por isso, devemos seguir o exemplo de Calvino e nos agarrarmos apenas naquilo que a Escritura nos dá certeza - que o Senhor é tão bom e amoroso, que mesmo esses maravilhosos seres são instrumentos de sua graça. Que louvemos ao Senhor por tão valorosos obreiros!
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Uma introdução aos anjos [ 1.14.4-5 ]

"Ao teólogo, porém, o propósito não é deleitar os ouvidos com argumentação loquaz, mas firmar as consciências, ensinando o verdadeiro, o certo, o proveitoso." (1.14.4, p.161)

Com essas palavras, sabemos quais são as intenções de Calvino nas próximas seções. O reformador agora passa a nos guiar em angelologia, a doutrina dos anjos - conforme a Escritura somente. Em primeiro lugar, ele lista alguns dos termos usados para designar esses seres, e a explicação do uso dessas palavras.

"Denominam-se exércitos porque, como elementos de sua guarda, rodeiam a seu Príncipe, adornam-lhe a majestade e a tornam ostensiva, e como soldados estão sempre atentos ao sinal de seu comandante, e desse modo estão preparados e prontos para cumprir-lhe as ordens, de sorte que, tão logo ele lhes acena, à ação se preparam, ou, antes, entram em ação." (1.14.5, p.162)

"Por meio deles, o Senhor expressa e manifesta maravilhosamente a força e a punjança de sua mão, daí os anjos serem chamados poderes. Porque, acima de tudo, através deles Deus exerce e administra sua soberania no universo, por isso ora são chamados principados, ora potestades, ora domínios... porque neles, de certo modo, reside a glória de Deus, por esta razão são também chamados tronos." (idem)

"Além disso, também à vista disso, não uma vez só, os anjos são chamados deuses, visto que, em seu ministério, como em um espelho, em certa medida a Deidade nos é representada." (idem)

Esse último termo pode causar confusão a alguns, mas isso não quer dizer que os judeus acreditavam em deuses menores, além de Yahweh. Trata-se realmente disso que Calvino fala - pessoas ou seres com uma medida da Deidade, que lhes conferem autoridade e a posição de juízes sobre a terra.

"Tampouco deve isso parecer-nos coisa surpreendente, porque, se a príncipes e prepostos se outorga esta honra [Sl 82.6], porquanto, em sua função, fazem as vezes de Deus, que é o Supremo Rei e Juiz, muito maior razão a que seja conferida aos anjos, em quem a efulgência da glória divina esplende muito mais copiosamente." (1.14.5, p.163)
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Contra os maniqueus [ 1.14.3 ]

Os anjos sempre foram personagens bíblicos que atrairam especulações e curiosidades de muitos. Ao continuar seu alerta, Calvino novamente nos diz para não irmos além do que se deve saber. Por exemplo, se Moisés não nos conta quando os anjos foram criados, isso não nega aquilo que sabemos - que somente Deus é incriado.

De fato, presos a especulações, muitos acabam dando a anjos honra que não são deles. Outros se interessam tanto pelo assunto que acabam menosprezando as confiáveis informações da Palavra de Deus.

"A preeminência da natureza angélica de tal modo tem obcecado a mente de muitos, que chegaram a pensar que se lhes faz agravo, se fossem, por assim dizer, forçados em sua condição de criaturas a sujeitar-se à autoridade do Deus único. E por isso chegaram a atribuir-lhes certa divindade" (1.14.3, p.160)

Porém, antes de tratar diretamente de angelologia, o reformador prefere discutir o pensamento de Mani - criador da seita dos maniqueus, de onde vem o termo "maniqueísta" - "que inventou para si dois princípios absolutos: Deus e o Diabo"(idem). Isto é, esse falso mestre acreditava num dualismo absoluto entre bem e mal, como se tanto Deus quanto o Diabo fossem detentores de poder e natureza semelhantes, como se Deus tivesse criado o que é bom, e seu inimigo aquilo que é mal. Calvino combate duramente essa idéia idólatra, que se parece muito com a idéia que alguns tem de "batalha espiritual" atualmente.

"Ora, uma vez que, por assim dizer, nada seja mais próprio de Deus que a eternidade, e a existência própria, aqueles que atribuem isto ao Diabo porventura não estão, de certo modo, a adorná-lo com o título da divindade? Onde, pois, a onipotência de Deus, se ao Diabo se concede tal poder que, contra a vontade de Deus e a despeito de sua oposição, leve a bom termo tudo quanto deseja?" (idem)

O reformador sustenta que o Diabo não tem o poder de fazer aquilo que quer sem a permissão do Criador. Além disso, o Diabo nada criou, sendo tudo obra de Deus. Temos a seguir uma declaração marcante da teologia calvinista - a ênfase na bondade das coisas criadas. Para Calvino, a Criação por si só não é algo ruim, mas apenas está afetada pelo pecado. Essa será a base para o chamado cultural do homem, que ele deve ensinar mais adiante.

"O único fundamento que os maniqueus têm – não ser próprio atribuir-se a um Deus bom a criação de qualquer coisa má –, isto nem de leve fere a fé ortodoxa, a qual não admite que no universo inteiro haja alguma natureza má, porquanto nem a depravação e malignidade, seja do homem, seja do Diabo, ou os pecados que daí nascem, provêm da natureza, mas da corrupção da natureza; nem de início há absolutamente nada que exista em que Deus não haja estampado o selo, tanto de sua sabedoria, quanto de sua justiça." (idem)
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Um novo alerta [ 1.14.1-2 ]

Terminado o longo tratado a respeito do verdadeiro Deus e do puro conhecimento do Criador, João Calvino agora dedica-se à própria Criação. Antes, porém ele resolve novamente voltar-se contra todos aqueles que desviam-se do testemunho simples da Escritura, perguntando questões inúteis sobre Deus. Ele cita, por exemplo, aqueles quer perguntam o motivo de Deus ter "demorado tanto" para criar o universo, e outros que questionam o que Deus fazia antes de criar. A resposta clássica de Agostinho é citada.

"E, judiciosamente, como em galhofa lhe perguntasse certo individuo abelhudo o que Deus estivera fazendo antes de o mundo ser criado, respondeu aquele piedoso ancião: a construir o inferno para os curiosos." (1.14.1, p.158)

Ao invés de gastarmos tempo com especulações frívolas, o Senhor nos convida a conhecer mais a respeito dele, e de nós mesmos, através das lentes que ele mesmo preparou.

"Pois, assim como os olhos, ou toldados pela decrepitude da velhice, ou entorpecidos de outro defeito qualquer, nada percebem distintamente, a menos que sejam ajudados por óculos, de igual modo nossa insuficiência é tal que, a não ser que a Escritura nos dirija na busca de Deus, de pronto nos extraviamos totalmente." (idem)

Calvino nos lembra que aquilo que Deus nos deu, sua Criação, já nos tomará muito de nossa atenção, o que significa que não há necessidade de nos determos naquilo que não nos foi revelado. Assim como há um dia de descanso, a mente deve descansar sobre certos assuntos, e ocupar-se somente com aquilo que é importante.
"Aqui também, até que, sujeita à obediência da fé, aprende a cultivar esse repouso a que nos convida a santificação do sétimo dia, vocifera a razão humana, como se tais passos na obra da criação fossem inconsistentes com o poder de Deus." (1.14.2, p.159)

Por fim, o reformador inicia o processo de analisar a Criação, focando mais uma vez informações que nos ajude a reconhecer o Deus verdadeiro como um Pai bondoso. Enfim, o teólogo de Genebra quer nos levar à adoração. Que sigamos seu exemplo no estudo da Palavra.

"Mas é preciso considerar diligentemente na própria ordem das coisas criadas o amor paternal de Deus para com o gênero humano, visto que não criou Adão antes que enchesse o mundo de toda abundância de coisas boas... assumindo o cuidado de um chefe de família provido e zeloso, mostrou Deus sua mirífica bondade para conosco." (idem)
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Um argumento histórico [ 1.13.27-29 ]

Finalizando o longo capítulo sobre a Trindade, Calvino rebate agora os argumentos históricos dos antitrinitarianos. Para alguns dos falsos mestres, os pais da igreja nunca defenderam a doutrina ortodoxa sobre o Deus Triuno, algo de que o reformador discorda solenemente. A primeira vítima da distorção é Irineu, que supostamente ensina que somente o Pai é o Deus de Israel. O reformador rebate essa acusação lembrando que o autor na verdade estava combatendo outros hereges, que negavam ser o Deus do Antigo Testamento também Deus Pai, e aproveita em seguida para citar o próprio Irineu.

"Irineu se concentra inteiramente nisto: tornar patente que na Escritura não se proclama outro Deus senão o Pai de Cristo, e que se cogita erroneamente outro, e daí não é de maravilhar-se se conclui tantas vezes que o Deus de Israel não era outro senão aquele que é celebrado por Cristo e pelos apóstolos." (1.13.27, p.153)

"Aquele que, em acepção absoluta e não particularizada, na Escritura é chamado Deus, esse é verdadeiramente o Deus único, e Cristo, com efeito, é chamado Deus em acepção absoluta." (Irineu, citado em idem)

A próxima vítima dos antitrinitarianos é Tertuliano, sob o pretexto de que coloca o Filho em segundo plano. Calvino, apesar de admitir a dificuldade nos escritos desse pai, deixa claro que ele não ensinou nada além da doutrina correta.

"É verdade que ele confessa admitir o Filho como segundo em relação ao Pai, todavia não o entende como outro senão em função da distinção pessoal. Em algum outro lugar, ele diz que o Filho é visível, entretanto, após haver arrazoado ambos os lados da questão, conclui ser ele invisível até onde é a Palavra." (1.13.28, p.154)

Depois de citar esses casos, Calvino lembra que Justino Mártir, Hilário e Inácio também ensinaram a correta doutrina, apesar do que afirmam os hereges. Prova disso é que Ário, um antitrinitariano, não apelou a nenhum deles diante do Concílio de Nicéia. Além disso, Agostinho em sua obra magistral sobre a Trindade também nada encontra de errado entre os escritos desses santos homens.

"Mercê destas considerações, contudo, o leitor piedoso por fim reconhecerá, segundo espero, estar desmantelada todas as cavilações com que Satanás tem tentado até agora perverter ou entenebrecer a pura fé da doutrina." (1.13.29, p.155)

Uma doutrina não é reconhecida como verdadeira por maioria de votos, mas pelo que diz a Escritura. No entanto, é importante quando ouvimos as vozes do passado, e todos esses santos homens concordam a respeito de algo tão complexo. Isso nos dá segurança sobre o que cremos e nos leva a desconfiar daquilo que era estranho aos pais. Calvino sabe disso, e assim conclui seu ensino sobre a Trindade, algo que nos desafia a estudar cada dia mais, e especular cada vez menos.

"Finalmente, confio que tenha sido fielmente explicada toda a suma desta doutrina, desde que os leitores imponham moderação à curiosidade, nem reivindiquem para si avidamente mais do que se faz necessário controvérsias molestas e perplexivas. Aliás, creio que bem pouco satisfeitos haverão de ficar aqueles a quem deleita o imoderado gosto de especular." (idem)
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Mais heresias antitrinitarianas [ 1.13.25-26 ]

obs.: antes de ler esse post, recomendo uma revisada no Sobre os termos técnicos [ 1.13.4-6 ], do dia03/02/09

O reformador de Genebra prossegue seu tratamento às heresias com algumas afirmações um pouco difíceis, mas que nos serão úteis se as entendermos. Novamente, ele se volta contra aqueles que dizem haver diferença entre a essência do Pai e das outras duas pessoas. Outros afirmam que acreditamos em algo semelhante a uma "quaternidade", onde a substância divina diferencia-se nas (ou mesmo, das) três subsistências, "como se supuséssemos que de uma essência única procedem, dir-se-ia por derivação, três pessoas" (1.13.25, p.151). Usarei as palavras de Rick Phillips para nos ajudar nesse assunto tão denso.

"Calvino argumenta que a essência divina, compartilhada pela Trindade inteira, é ingênita [não-gerada]. Mas as pessoas do Filho e do Espírito são geradas pelo Pai (eternamente, portanto nunca houve um tempo onde eles não existiam). As Pessoas não são separadas da essência divina, o que significaria haver três deuses, mas são diferenciadas de cada outra dentro da divina essência única." (traduzido daqui)

Dizer que Filho e Espírito não têm parte com (ou que recebebem) a essência divina do Pai, é torná-los menos que Deus, ao mesmo tempo que se nega a própria natureza do Pai, como proposta pela Bíblia. O que Phillips explica nos é dito da seguinte maneira por Calvino.

"Embora a essência não concorra à distinção de pessoas, como parte ou membro da Trindade, contudo as pessoas não subsistem sem ela ou fora dela, porquanto não só o Pai, se não fosse Deus, não podia ser Pai, mas também o Filho de outra sorte não seria Filho, a não ser porque é Deus... Finalmente, se Pai e Deus fossem sinônimos, então o Pai seria o deificador, nada no Filho restaria senão uma sombra, nem seria a Trindade outra coisa senão a conjunção do Deus único e uno com duas coisas criadas." (idem)

Outra objeção que se levanta, diz respeito à hierarquia dentro das pessoas da Trindade. Para os falsos mestres, Cristo é menor do que Deus, como alguns textos da Bíblia supostamente comprovam. Porém, Calvino nos mostra que isso se deve à distinção de funções entre as Pessoas e à encaranção, não por algo diferente na natureza do Pai e do Filho.

"Assim, quando dizia aos apóstolos: “Convém que eu suba ao Pai, porque o Pai é maior do que eu” [Jo 14.28; 16.7], não está atribuindo a si apenas uma divindade secundária, como se no que tange à essência eterna seja inferior ao Pai, mas porque, sendo Mediador que possui a glória celestial, consorcia os fiéis na participação dessa glória." (1.13.26, p.152)

É importante conhecermos a Trindade, pois por ela entendemos melhor a nossa salvação. Podemos compreender um pouco mais sobre o amor de Deus, como nessa belíssima passagem, em que Calvino expressa o ministério do Redentor.

"E de fato Cristo desceu até nós para que, elevando-nos até o Pai, ao mesmo tempo também nos elevasse a si próprio, visto ser um com o Pai." (idem)
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Heresias antitrinitarianas [ 1.13.23-24 ]

Os falsos mestres sempre tiveram dificuldades com a doutrina trinitariana. Agora analisaremos alguns de seus ensinos, e a resposta de Calvino, caso não tenha sido dada em posts anteriores.

"Pois certos biltres... confessaram que, na realidade, há três pessoas, desde que se faça, porém, a restrição de que o Pai, que é o único verdadeiro e propriamente Deus, ao formar o Filho e o Espírito, neles comunicou sua deidade... Objetam que, se ele[Cristo] é verdadeiramente o Filho de Deus, é absurdo que ele seja Filho de uma Pessoa" (1.13.23, p.146)

Ou seja, o problema desse primeiro ensinamento não é negar as três Pessoas, mas afirmar que o Pai é responsável por tornar o Filho e o Espírito, por assim dizer, Deus. Isso tornaria Cristo realmente Filho de Deus, e não "apenas" filho de uma Pessoa. Embora Calvino admita que é comum se associar ao Pai o termo "Deus", isso não exclui Cristo de subsistir em Deus, ser verdadeiro Deus e verdadeiro Filho de Deus, como vimos em estudos anteriores.

"Ora, se admitimos que toda a essência só esteja no Pai, ou ela se fará divisível, ou estará totalmente ausente do Filho; e assim, despojado de sua essência, ele será Deus apenas em nome... Além disso, em função de seu princípio, é necessário admitir que o Espírito é somente do Pai, porquanto se é ele derivação da essência primária, a qual não é própria senão ao Pai, de direito não se considerará o Espírito como sendo do Filho, o que, no entanto, é refutado pelo testemunho de Paulo, o qual o faz comum a Cristo e ao Pai [Rm 8.9]." (1.13.23, p.147s)

O próximo erro tratado é a afirmação de que quando a Escritura menciona Deus sem qualificação, deve-se entender apenas como o Pai. Afinal, dizem os falsos mestres, se não pensarmos assim, diremos que Cristo é Pai de si mesmo. Novamente, Calvino utiliza alguns dos textos que falam de Jesus como Deus, demonstrando que os hereges não entenderam corretamente a Trindade. Chama atenção em especial, a passagem onde Cristo diz que somente Deus é bom [Mt 19.17]. Ou admitem que o Verbo é Deus ou que ele não é bom.

"Pergunto se o eterno Verbo de Deus é bom ou não. Se o negam, sua impiedade fica plenamente indiciada; admitindo-o, cortam a garganta a si próprios." (1.13.24, p.149)

Por fim, o reformador também lembra da passagem da criação do homem - “Façamos o homem à nossa imagem” [Gn 1.26] - quando o Criador fala no plural. Para ele, essa é uma indicação velada da tripessoalidade de Deus.

"Ora, pois, a não ser que admitam ser comum ao Filho e ao Espírito, com o Pai, o poder de criar, e comum a autoridade de ditar ordens, se seguirá que Deus não falou consigo mesmo no âmbito de sua interioridade; ao contrário, ele dirigiu a palavra a outros artífices exteriores." (1.13.24, p.150)

A questão da Trindade sempre será discutida por mestres e falsos mestres. É importante, para não nos afastarmos do verdadeiro Deus, que tenhamos a Escritura como nossa guia. Foi isso que Calvino procurou e nos recomenda. Somente assim saberemos diferenciar entre a ortodoxia e a idolatria.
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Calvino estava errado [ 1.13.22 ]

Não importa o quanto João Calvino nos seja útil até hoje, e o quanto ele tentou viver e guiar os outros no caminho da piedade, para muitos o episódio Serveto (quando Calvino se envolveu na condenação desse herege à fogueira) será aquele que definirá que tipo de homem o reformador era. Que o mundo só leve em consideração essa mancha na vida de Calvino era de se esperar, mas é triste que muitos evangélicos cedam ao preconceito e não tentem aproveitar aquilo que o reformador também fez de bom.

Não estou defendendo Calvino de ser intolerante a ponto de usar ferramentas pecaminosas contra os inimigos da fé, apenas questionando o mau tratamento que se dá ao grande reformador. Por outro lado, já vi o site de uma igreja listar Serveto entre os heróis da igreja. Tomemos cuidado!

Dito isso, podemos abordar a próxima seção, quando Calvino inicia uma longa lista de heresias e objeções à doutrina da Trindade, começando pelas propostas pelo próprio Miguel Serveto. Como muitos falsos ensinamentos já foram rebatidos nas seções anteriores ou serão discutidos posteriormente, apenas citarei aquilo que me parece argumento novo ou interessante a favor da sã doutrina.

"A Serveto, o termo Trindade foi a tal ponto odioso, pior, abominável, que dizia serem ateus todos quantos ele denominava de trinitários... Esta, com efeito, foi sua síntese das especulações: Deus fica dividido em três partes quando se diz que ele subsiste em três pessoas na essência, e que esta Tríade é imaginária, porquanto se põe em conflito com a unidade de Deus." (1.13.22, p.145)

Além de distorcer o ensinamento bíblico sobre a Trindade, Serveto abraçou outras doutrinas estranhas, das quais Calvino faz um resumo.

"Ele indiscriminadamente mistura com todas as criaturas tanto o Filho de Deus quanto o Espírito. Ora, afirma abertamente que na essência de Deus há partes e divisões, das quais cada porção é Deus. De modo especial, porém, diz que os espíritos dos fiéis são coeternos e consubstanciais com Deus, visto que, em outro lugar, atribui deidade substancial não apenas à alma humana, mas ainda às demais coisas criadas." (1.13.22, p.146)

A falha de Calvino não transforma Serveto em um mártir da fé cristã. Mas ainda assim, ele é vítima de um exagero pecaminoso no zelo por parte do reformador. Serveto estava errado, mas nessa questão Calvino foi impiedoso. Esta foi sua pior decisão como líder em Genebra, e devemos sempre tê-la em mente, como prova da depravação humana, mas também da Graça divina sobre a vida desse homem.

Para mais informações sobre esse caso, confira esse texto do Dr. Augustus Nicodemus.
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Em defesa da Trindade [ 1.13.20-21 ]

Após a longa explanação da doutrina trinitariana, Calvino prepara-se para tratar das inúmeras heresias surgidas contra o verdadeiro ensinamento da Escritura. Ele lembra que seu propósito nunca foi adentrar em polêmicas, mas "conduzir pela mão aos que se deixam de bom grado ensinar" (1.13.21, p.143). Porém, é necessário tratar desse assunto, para que os fiéis não caiam no erro, de ir além da Palavra.

"Tenhamos o cuidado de aplicar-nos a esta questão com docilidade mais do que com sutileza, não inculcamos no espírito ou investigar a Deus em qualquer outra parte que não seja em sua Sagrada Palavra, ou a seu respeito pensar qualquer coisa, a não ser que sua Palavra lhe tome a dianteira, ou falar algo que não seja tomado dessa mesma Palavra." (1.13.21, p.144)

Assim, é importante que tenhamos em mão mais uma declração doutrinária, para que possamos prosseguir. Já que trataremos das heresias, um bom resumo da ortodoxia nos será útil. Felizmente Calvino nos providencia uma, que nos servirá de guia nas seções posteriores. A citação é longa, porém necessária.

"Quando professamos crer em um só e único Deus, pelo termo Deus entende-se uma essência única e simples, em que compreendemos três pessoas sem especificação, designam-se não menos o Filho e o Espírito que o Pai; quando, porém, o Filho é associado ao Pai, então se interpõe a relação, e com isso fazemos distinção entre as pessoas.

Mas, uma vez que as propriedades específicas implicam de si uma gradação nas pessoas, de sorte que no Pai estejam o princípio e a origem, sempre que se faz menção, simultaneamente, do Pai e do Filho, ou do Espírito, se atribui ao Pai, de modo peculiar, o termo Deus. Desse modo retém-se a unidade de essência e tem-se em conta a ordem de gradação, o que, entretanto, nada detrai da divindade do Filho e do Espírito."
(1.13.20, p.142)

Que meditemos nessa breve definição, para que possamos identificar os erros e não sermos contaminados por eles.
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Mais sobre as Três Pessoas [ 1.13.18-19 ]

Uma das lições que aprende-se desde cedo em teologia é que nunca se encontrará em toda Criação um análogo perfeito para Trindade. De fato, todas as tentativas de explicar as Três Pessoas em Um acabam caindo em algum tipo de heresia, tal é a singularidade da natureza divina. Calvino está ciente disso quando nos diz que "para expressar a força desta distinção, não sei se convenha lançar mão de comparações à base das coisas humanas" (1.13.18, p.140). Assim, humildemente, é melhor concentrar-se naquilo que as Escrituras apresentam a respeito do Criador.

"Ao Pai se atribui o princípio de ação, a fonte e manancial de todas as coisas; ao Filho, a sabedoria, o conselho e a própria dispensação na operação das coisas; mas ao Espírito se assinala o poder e a eficácia da ação." (1.13.18, p.141)

Para aqueles que ainda têm dificuldades com o relacionamento entre as Pessoas e a Unidade de Deus, Calvino novamente se detém no assunto, ainda que reconheça a dificuldade da questão. Ainda assim, o reformador nos oferece uma boa explanação.

"Esta distinção está bem longe de contraditar a simplicíssima unidade de Deus, que se permita daí provar que o Filho é um só e único Deus com o Pai, porquanto, a um tempo, com ele compartilha de um só e único Espírito, mas o Espírito não é algo diverso do Pai e do Filho, visto ser ele o Espírito do Pai e do Filho." (1.13.19, p.141)

O reformador também nos adverte a não pensarmos que alguma das Pessoas é menor que a outra, ou não possui as propriedades decorrentes da natureza divina. Ele menciona os pais da igreja, que sempre concordaram nesse assunto, destacando Santo Agostinho nessa seção.

“Cristo, em relação a si mesmo, é chamado Deus; em relação ao Pai, é chamado Filho... O Pai, em relação a si mesmo, é chamado Deus; em relação ao Filho, é chamado Pai. Quando se diz que Deus é Pai, em relação ao Filho, ele não é o Filho; quando se diz Filho, em relação ao Pai, ele não é o Pai; quando se diz que o Pai é Deus, em relação a si mesmo, e se diz que o Filho é Deus, em relação a si mesmo, ele é o mesmo Deus." (citação de Da Trindade, 1.13.19, p.142)

Nosso relacionamento com Deus torna-se cada vez mais vivo quanto mais o conhecemos. Por isso, é bom que nos dedicarmos atentamente a esse estudo sobre o Deus Trino. Que saibamos reconhecer a majestade de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito.
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Três Pessoas, Um Deus [ 1.13.16-17 ]

Pai, Filho e Espírito são Pessoas que subsistem como Um Deus. Essa é a doutrina que Calvino volta a explicar, algo de importância ímpar para quem deseja a verdadeira piedade. Essas Pessoas são distintas entre si, mas ao mesmo tempo são um. Para o verdadeiro cristão, é recomendável pensar sempre nos termos propostos com Gregório Nazianzeno:

“Não posso pensar em um e único, sem que me veja imediatamente envolvido pelo fulgor dos três; nem posso distinguir os três, sem que me veja imediatamente voltado para um e único.” (Sermão sobre o Santo Bastismo, citado em 1.13.17, p.140)

De fato, a fórmula do batismo comprova isso. Visto que há apenas um só batismo, uma só fé e um só Deus (Ef 4.5), não devemos nunca pensar em algo além do Deus único, pois "caso haja variados gêneros de fé, necessário se faz que também haja muitos deuses" (1.13.16, p.139). E, uma vez que esse único batismo é feito em nome do único Deus, faz sentido que a ordem de Jesus inclua o nome das 3 Pessoas.

"Aliás, não resta dúvida que, ao dizer: 'Batizai-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo' [Mt 28.19], Cristo, mediante esta solene injunção, desejava testificar que a perfeita luz da fé já então se manifestara, visto que, na realidade, isto equivale exatamente a serem eles batizados no nome de um só e único Deus, o qual, em plena evidência, se mostrou no Pai, no Filho e no Espírito. Do quê se faz meridianamente claro que na essência de Deus residem três pessoas, nas quais, todavia, se conhece um só e único Deus." (idem)

É importante combatermos também a heresia conhecida como sabelianismo ou modalismo, que afirma serem Pai, Filho e Espírito Santo apenas modos como Deus se apresenta ou age, ou apenas designativos entre muitos que a Deidade tem. Calvino rejeita esse falso ensino, enfatizando novamente a subsistência de três pessoas distintas em Deus.

"Que o Filho tem sua propriedade distinta do Pai no-lo mostram as referências que já citamos, pois a Palavra não haveria estado com o Pai se não fosse outra distinta do Pai; nem haveria tido sua glória junto ao Pai, a não ser que dele se distinguisse... Além disso, o Pai não desceu à terra, contudo desceu aquele que procedeu do Pai; o Pai não morreu, nem ressuscitou, e, sim, aquele que fora por ele enviado" (1.13.17, p.140)

"Cristo assinala a distinção do Espírito Santo em relação ao Pai quando diz que ele, o Espírito, procede do Pai; além disso, a distinção do Espírito em relação a si mesmo a evidencia sempre que o chama outro, como quando anuncia que outro Consolador haveria de ser por ele enviado." (idem)

Calvino é necessário ainda hoje, pois nos leva a entender melhor o Senhor e a combater os falsos ensinamentos. A doutrina da Trindade, tão desprezada e desconhecida em nossas igrejas, é uma das mais difíceis de ser compreendida. Porém, como veremos, é aquela que traz maiores recompensas, pois fala da natureza do próprio Deus. Ainda que possamos entender pouco sobre ela, esse pouco nos ensina mais sobre o amor de Deus, a comunhão entre os santos e a glória do Criador.
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