"São, porém, contidos, não porque a disposição interior lhes seja acionada ou afetada, mas porque, como que interposto um freio, contêm as mãos de ação externa e coíbem internamente sua depravação, a qual, de outra sorte, teriam de derramar desabridamente. Na verdade, isto não os faz nem melhores, nem mais justos diante de Deus." (2.7.10, p.121)
Mesmo que não pareça, aqueles que se submetem à Lei, caso não sejam regenerados, não o fazem por amor a Deus, mas por medo deste, a quem odeiam e desprezam. Isto também serve ao governo de Deus sobre os homens, pois sem esses regimentos refreando o pecado, viveríamos numa sociedade caótica. Cabe à Lei - mesmo que muitos não reconheçam - o papel de reguladora dos homens pecadores.
"A uns, de fato, mais obscuramente; a outros, mais claramente; a todos os que ainda não são regenerados, entretanto, é tão inerente este sentimento, que são arrastados à observância da lei apenas pela violência do temor, não por submissão voluntária, mas a contragosto e renitentemente. No entanto, esta justiça, coata e compulsária, é necessária à sociedade comum dos homens, a cuja tranqüilidade este se vota, enquanto se vela para que todas as coisas não se misturem em confusão, o que aconteceria, se a todos tudo se permitisse." (idem)
Calvino repara uma consequência interessante dessa segunda função da Lei. Trata-se da preparação daqueles que são eleitos de Deus para a vida santa. Isto é, antes de serem regenerados os futuros cristãos já têm seus costumes moldados pelos mandamentos. Assim, quando convertidos, já tem a prática da Lei do Senhor em suas vidas.
"E, desta sorte, se Deus não regenera imediatamente aqueles a quem destinou à herança de seu reino, mediante as obras da lei os conserva debaixo do temor até o tempo de sua visitação, certamente não aquele temor casto e puro, qual deve haver em seus filhos, todavia, prestante para isto, sejam, segundo sua capacidade, instruídos na verdadeira piedade... Todos quantos viveram por algum tempo na ignorância de Deus confessam haver-lhes isso acontecido que fossem contidos em certo temor e deferência de Deus pelo freio da lei, até que, regenerados pelo Espírito, começassem a amá-lo de coração." (2.7.11, p.122)
Como cristãos, temos a obrigação de estudar a Lei de Deus, pois também é através dela que Deus governa nossa sociedade. Ainda hoje os mandamentos representam aquilo que o Senhor ordena ao mundo, e isso não deve ser esquecido pelos cristãos. Que façamos como o salmista, e tenhamos prazer na Lei do Senhor.
Postar um comentário