"Portanto, resta isto somente: que da excelência destas promessas melhor estime o homem sua própria miséria, enquanto, cortada a esperança da salvação, reconhece ameaçá-lo, inexoravelmente, a morte." (2.7.3, p.115)
Então essas promessas da Lei não passam de mera zombaria? Se não podemos alcançá-las, para que prometê-las? Calvino explica:
"Se bem que, até onde são condicionais, as promessas da lei dependem da perfeita obediência da lei, obediência que em parte alguma se achará, contudo não foram dadas em vão. Pois, quando tivermos aprendido que elas nos haverão de ser fúteis e ineficazes, salvo se, de sua graciosa bondade, sem levar em consideração as obras, Deus nos abrace e, de igual modo, pela fé sejamos abraçado por essa bondade a nós exibida pelo evangelho, por certo que as promessas não carecem de sua eficácia, mesmo com a condição anexa." (2.7.4, p.115s)
Caso alguém tenha dúvidas sobre a incapacidade humana, Calvino deixa claro que a Escritura sempre afirma que é impossível ao homem pecador cumprir toda Lei. Para o reformador, trata-se de um sofisma afirmar algo que a Escritura e superstição crer que algum santo do passado não cometeu pecados.
"Se retornarmos ao mais remoto período, afirmo que nenhum dos santos jamais existiu que, revestido do corpo de morte [Rm 7.24], a este grau de amor haja atingido, que amasse a Deus de todo o coração, de todo o entendimento, de toda a alma, de toda a força; por outro lado, ninguém que não tenha sentido o poder da concupiscência. Quem o contradiz? Vejo, com efeito, que sorte de santos nos imagine a estulta superstição, isto é, santos a cuja pureza mal correspondem os anjos dos céus, mas o repelem tanto a Escritura quanto o ditame da experiência." (2.7.5, p.116)
Assim, que sejamos gratos ao Senhor, por nos presentear com bênçãos que não conquistamos, mas que ele conquistou para nós. Que nos lembremos sempre das palavras do reformador sobre o assunto.
"De tal forma tudo nos confere graciosamente o Senhor que também isto acrescente ao vasto acervo de sua benevolência: que, não rejeitando nossa imperfeita obediência, e suprindo o que lhe falta em completamento, nos faz perceber o fruto das promessas da lei, exatamente como se por nós fosse cumprida a condição." (2.7.4, p.116)
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