"Cristo, que declara que sem ele nada podemos fazer [Jo 15.5], porventura com isso reprova e pune menos os que, à parte dele próprio, faziam o mal? Porventura com isso exorta menos a que cada um se devote às boas obras? Quão severamente Paulo investe contra os coríntios [1Co 3.3] em razão de sua negligência do amor fraternal! [1Co 16.14]. Contudo, por fim suplica que esse amor seja, pelo Senhor, dado aos mesmos coríntios." (idem)
Calvino ainda cita os mais variados textos para mostrar que uma ordem sempre é dada com a advertência de que a capacidade de cumprí-la vem do Senhor. Mas, se as coisas funcionam dessa forma, para que serve exortar as pessoas? Existem duas respostas - para ímpios e justos. Sobre os primeiros, o reformador nos diz:
"É certo que, se pelos ímpios são desdenhadas, movidos por coração obstinado, se lhes tornarão em testemunho quando acontecer de virem diante do tribunal do Senhor; além de quê, já agora mesmo lhes fustigam e ferem a consciência, porquanto, por mais que as escarneça o mais insolente de todos, não obstante não as pode condenar." (2.5.5, p.87)
Para os justos, as exortações ganham importância maior, por serem feramentas de Deus para alcançar seus propósitos redentivos.
"Ora, operando o Espírito interiormente, elas valem muitíssimo para inflamar o desejo do bem, para sacudir a indiferença, para alijar a volúpia da iniqüidade e seu envenenado dulçor; até mesmo em contrário, para gerar-lhes ódio e tédio, quem ousa acusá-las de supérfluas?" (2.5.5, p.88)
Os protagonistas dessa transformação causada pelas exortações são a Palavra e o Espírito, algo que Calvino deu grande atenção no Livro 1, e que agora voltam a aparecer, novamente trabalhando "em dupla".
"Deus opera em seus eleitos de duas maneiras: interiormente, através do Espírito; exteriormente, mediante a Palavra. Pelo Espírito, iluminando-lhes a mente e plasmando o coração ao amor e ao cultivo da retidão, os faz novas criaturas. Pela Palavra, despertando-os para que desejem, busquem, alcancem essa mesma renovação. Em ambos – o Espírito e a Palavra – ele evidencia a operação de sua mão, segundo a maneira de sua dispensação." (idem)
Portanto, é nosso papel como cristãos exortar e aconselhar que as pessoas abandonem o pecado. Não cabe a nós questionar se isso funcionará ou não. É Deus aquele que dá nova vida a um coração morto. Devemos confiar no poder de sua Palavra, aquela que não volta vazia - seja para salvação, seja para juízo.
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