Calvino compara esse texto com outro, este sim inspirado - Eclesiastes 7.29: "Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias". Os dois tratam da criação do homem, quando ele poderia escolher entre vida e morte. Após a queda, porém, não é mais assim.
"No entanto, uma vez que, em conseqüência de sua degeneração, o homem fez naufrágio não só de si próprio, mas também de todas as coisas boas que em si havia, qualquer coisa que lhe é atribuída, provinda da criação original, não mais compete à natureza viciada e degenerada." (2.5.18, p.103)
O próximo texto encontra-se na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.25-37). Nos diz a Escritura que o homem vitimizado pelos bandidos foi deixado "meio-morto" (v.30). Os detratores do reformador entendem essa passagem como uma indicação de que o homem não está totalmente morto, mas ainda retém certas habilidades. Para responder, Calvino critica primeiro a fraquíssima intepretação do texto.
"Em primeiro lugar, o que diriam, se eu negar que há algum lugar para sua alegoria?... As alegorias não devem ultrapassar os limites da norma que a Escritura lhes antepõe; pois longe estão de ser suficientes e adequadas para servirem de base a qualquer doutrina." (2.5.19, p.103s)
O reformador nos lembra que Efésios 2 ensina que o homem está totalmente morto. Não estávamos semivivos em nossos delitos, mas mortos espiritualmente, necessitando de uma verdadeira ressurreição, que só o Espírito dá. O reformador, porém, admite que poderíamos considerar a presença dos dons naturais como algum resquício de vida, mas isso não tem relação com a vida espiritual do homem.
"Foram subtraídos ao homem, após a queda, os dons graciosos de que depende para a salvação; corrompidos e poluídos, porém, foram os dotes naturais." (idem)
Assim, este capítulo conclui. Aprendemos que a doutrina de Calvino é uma coluna forte contra qualquer tipo de ataque. Ainda que o reformador não tenha respondido a todas as questões, todo o estudo que veio antes desse capítulo pode nos trazer muitas respostas. Louvemos a Deus pela habilidade deste grande homem em expor a Palavra de Deus.
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