"A lei foi acrescentada cerca de quatrocentos anos após a morte de Abraão não para afastar de Cristo o povo eleito; pelo contrário, para que mantivesse as mentes suspensas até sua vinda, até mesmo lhe acendesse o desejo e na expectação os firmasse, para que não esmorecessem por uma demora mais longa." (2.7.1, p.112)
É importante ressaltar que, nesse trecho, Calvino entende como Lei toda a religião proposta no Antigo Testamento. Para ele, essas práticas seriam meros ritos se não apontassem para o Messias. Ao invés de terem um fim em si mesma, a religião veterotestamentária deveria levar o povo a procurar seu cumprimento.
"Todo o sistema cultual da lei, se é considerado em si, nem mesmo contém sombras e figuras a que corresponda a verdade, será coisa inteiramente risível." (idem)
"Em vão é ensinada a justiça pelos mandamentos até que Cristo a confira, tanto por graciosa
imputação, quanto pelo Espírito de regeneração. Pelo que, com justiça, Paulo chama a Cristo o cumprimento ou fim da lei, porquanto de nada valeria sabermos o que Deus exige de nós, se aos que se esforçam e estão oprimidos sob seu jugo e fardo intolerável Cristo não os socorresse." (2.7.2, p.114)
Além disso, a aliança do Senhor com Davi também serve como espelho daquela que seria a Aliança definitiva entre Deus e seu povo escolhido.
"O reino que foi, afinal, estabelecido na família de Davi é parte da lei e está contido sob a ministração de Moisés. Donde se segue que, tanto em toda a linhagem levítica, quanto nos pósteros de Davi, Cristo fora posto diante dos olhos do povo antigo como que diante de um duplo espelho." (2.7.2, p.113)
Assim, a Lei em si mesma não é algo ruim. Por vezes, Paulo utiliza a expressão como antagônica à graça. No entanto, isto ele faz quando enfrenta a distorção provocada pelos mestres de sua época, que tentavam alcançar a reconciliação com Deus por meio de suas obras. Para o Apóstolo (e para o reformador) a Lei nos é útil, assim como foi útil enquanto guia do antigo Israel.
"Os judeus foram mantidos como que sob a custódia de um “pedagogo” até que viesse a semente a cujo favor a promessa fora dada [G1 3.24]. Ora, uma vez que Cristo ainda não se dera a conhecer intimamente, foram eles semelhantes a crianças, cuja insuficiência não podia ainda suportar o pleno conhecimento das coisas celestes." (2.7.2, p.113s)
Que nos dediquemos a estudar e meditar na Lei do Senhor. Que ela não seja desvalorizada mas amada e guardada em nossos corações.
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