"Pergunto, pois, que lhes significam estas passagens: 'A lei foi outorgada por causa das transgressões' [Gl 3.19]; 'O conhecimento do pecado é mediante a lei' [Rm 3.20]; 'A lei engendra o pecado' [Rm 7.7, 8]; 'Sobreveio a lei para que abundasse a ofensa' [Rm 5.20]? A lei deveria limitar-se às nossas forças, para que não fosse dada em vão? Pelo contrário, antes a lei foi posta muito acima de nós, para que nos convencesse de nossa incapacidade." (2.5.6, p.88)
O reformador entende que existem três categorias básicas da Lei, cada qual com seu propósito. E em nenhuma delas devemos entender que isso implica na capacidade do homem para obedecer. O primeiro tipo nos ordena a conversão a Deus, o segundo que cumpramos os mandamentos do Senhor, e o terceiro que permaneçamos na graça de Deus. Calvino desenvolverá melhor esse tema depois, então é importante sabermos apenas que dependemos da graça para realizar o que é esperado de nós.
"Ela ensina que o poder de obedecer procede da bondade de Deus, e por isso nos convida às preces, mediante as quais imploremos que nos seja dado esse poder... Quando porém, ao mesmo tempo, se lhes associam promessas, as quais proclamam que não só necessitamos do auxílio da graça divina, mas ainda de todo poder, as mesmas comprovam mais que suficientemente que somos de todo inaptos, para não dizer incapazes, para observar a lei." (2.5.7, p.89s)
Assim, a Lei não é aquela que nos diz o que podemos fazer, mas aquela que nos mostra o que deveríamos fazer, mas não conseguimos. Ela aponta para a justiça, mas realça nosso pecado. A nossa única salvação é clamar pelo socorro de Deus, pedir pela ação da graça divina e batalhar por nossa vida. Somente nos reconhecendo incapazes, começaremos a ser capacitados a cumprir toda a justiça. As palavras de Agostinho expressam isso muito bem:
"Deus ordena o que não podemos, para que saibamos o que devamos dele suplicar."
"Deus dá o que ordena e então ordena o que quer." (2.5.7, p.90)
Postar um comentário