Esse argumento, que remonta a Pelágio (séc.V), pode ser resumido da seguinte forma: o pecado deve ser voluntário, pois somente assim o pecador será culpado. O reformador argumenta que o ser humano é pecador por corrupção em sua natureza, não por uma criação falha de Deus. Além disso, Calvino nos lembra que a culpa do homem não se baseia apenas em suas ações, mas também na condenação que Adão trouxe a seus filhos.
"Donde, pois, essa incapacidade que os ímpios de bom grado invocariam como pretexto, senão que, por sua livre vontade, Adão se entregou à tirania do Diabo? Daqui, pois, a corrupção de cujos laços somos mantidos atados, ou, seja, que o primeiro homem desertou de seu Criador." (idem)
Novamente o exemplo do Diabo e dos anjos é usado aqui. Enquanto o inimigo peca tanto por necessidade quanto por vontade, e é culpado disso, os anjos desejam o bem, ainda que lhes seja necessário por sua natureza. Uma citação adaptada de Bernardo aqui é útil.
"Mais miseráveis somos nós por isto: que a necessidade é voluntária, necessidade que, todavia, a tal ponto nos mantém sujeitos a si, que nos tornamos escravos do pecado, como já referimos." (idem)
O que existe, Calvino conclui, é uma confusão entre vontade e liberdade. Um ato pode ser praticado voluntariamente, mas ainda assim não ser um ato livre. É importante guardarmos isso, para não cairmos em erro e sabermos responder as dúvidas sobre a sã doutrina.
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