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Acesse pelo endereço joaocalvino.net

Comemorando os 500 anos de João Calvino, o teólogo da Reforma, este é um blog dedicado a resumir e comentar as Instituras da Religião Cristã, obra máxima do reformador de Genebra. Que ele seja útil à comunidade, seguindo a mesma intenção de Calvino ao escrever seus livros.

"Este tem sido meu propósito: preparar e instruir de tal modo os candidatos à sagrada teologia, para a leitura da divina Palavra, que não só lhe tenham fácil acesso, mas ainda possam nesta escalada avançar sem tropeços."

Esse blog está sendo desativado. Visite-nos em www.joaocalvino.net

Terceira função da Lei [ 2.7.12-13 ]

O terceiro uso da Lei diz respeito aos crentes em Jesus, aqueles regenerados e habitados pelo Espírito Santo. Para nós, as palavras de Moisés têm dois usos principais - a instrução da vontade do Senhor e a exortação para que nos desviemos do erro.

"Pois a lei lhe é o melhor instrumento mediante o qual melhor aprendam cada dia, e com certeza maior, qual é a vontade de Deus, a que aspiram, e se lhe firmem na compreensão... pois que ninguém até agora penetrou tanto a sabedoria que não possa da instrução diária da lei fazer novos progressos no conhecimento mais puro da vontade divina." (2.7.12, p.122s)

"Visto que necessitamos não só de ensinamento, mas ainda de exortação, o servo de Deus tirará ainda esta utilidade da lei para que, mediante sua freqüente meditação, seja incitado à obediência, nela seja consolidado e seja impedido de transgredir neste caminho escorregadio." (2.7.12, p.123)

Para nós que estamos em Cristo, os mandamentos devem ser doces, não amargos. Portanto, é um erro pensarmos que a Lei foi abandonada com a Nova Aliança. Ela ainda demonstra aquilo que Deus espera de nós. O padrão de Deus para seu povo foi revelado ali, e os cristãos não podem desprezar esse ensino. Aqueles que negam qualquer valor para os mandamentos de Moisés caem em grande erro.

"Ora, se não se pode negar que nela sobressai um modelo absoluto de justiça, então, a menos que não devamos ter qualquer regra de viver bem e retamente, será ímpio dela afastar-nos. Na verdade, porém, a perpétua e influxível regra de viver não são muitas, mas uma única. Pelo que, o que diz Davi, que o homem justo medita dia e noite na lei do Senhor [Sl 1.2], não se deve entender como a referência a uma só era, pois que é muitíssimo aplicável a todas as épocas, uma a uma, até o fim do mundo." (2.7.13, p.124)

Ainda que a santidade perfeita não seja alcançada aqui, devemos lutar e correr em direção a ela. Calvino usa a comparação bíblica com a corrida, na qual o grande alvo é a glória eterna, já ganha pelos méritos do Senhor Jesus.

"Nessa porfia, se não falharmos, tudo bem. Com efeito, toda esta vida é um estádio, do qual, corrido o percurso, o Senhor nos concederá que alcancemos aquela meta a que agora nossos esforços se empenham à distância." (idem)
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Segunda função da Lei [ 2.7.10-11 ]

Calvino explica a partir de agora a segunda função da Lei de Moisés. Ela está intimamente ligada à doutrina da graça comum. Àqueles que não são regenerados, os mandamentos serevem como um freio para o pecado humano. Eles não têm o coração voltado a Deus, mas as ameaças da Lei os assustam e os levam a obedecê-la.

"São, porém, contidos, não porque a disposição interior lhes seja acionada ou afetada, mas porque, como que interposto um freio, contêm as mãos de ação externa e coíbem internamente sua depravação, a qual, de outra sorte, teriam de derramar desabridamente. Na verdade, isto não os faz nem melhores, nem mais justos diante de Deus." (2.7.10, p.121)

Mesmo que não pareça, aqueles que se submetem à Lei, caso não sejam regenerados, não o fazem por amor a Deus, mas por medo deste, a quem odeiam e desprezam. Isto também serve ao governo de Deus sobre os homens, pois sem esses regimentos refreando o pecado, viveríamos numa sociedade caótica. Cabe à Lei - mesmo que muitos não reconheçam - o papel de reguladora dos homens pecadores.

"A uns, de fato, mais obscuramente; a outros, mais claramente; a todos os que ainda não são regenerados, entretanto, é tão inerente este sentimento, que são arrastados à observância da lei apenas pela violência do temor, não por submissão voluntária, mas a contragosto e renitentemente. No entanto, esta justiça, coata e compulsária, é necessária à sociedade comum dos homens, a cuja tranqüilidade este se vota, enquanto se vela para que todas as coisas não se misturem em confusão, o que aconteceria, se a todos tudo se permitisse." (idem)

Calvino repara uma consequência interessante dessa segunda função da Lei. Trata-se da preparação daqueles que são eleitos de Deus para a vida santa. Isto é, antes de serem regenerados os futuros cristãos já têm seus costumes moldados pelos mandamentos. Assim, quando convertidos, já tem a prática da Lei do Senhor em suas vidas.

"E, desta sorte, se Deus não regenera imediatamente aqueles a quem destinou à herança de seu reino, mediante as obras da lei os conserva debaixo do temor até o tempo de sua visitação, certamente não aquele temor casto e puro, qual deve haver em seus filhos, todavia, prestante para isto, sejam, segundo sua capacidade, instruídos na verdadeira piedade... Todos quantos viveram por algum tempo na ignorância de Deus confessam haver-lhes isso acontecido que fossem contidos em certo temor e deferência de Deus pelo freio da lei, até que, regenerados pelo Espírito, começassem a amá-lo de coração." (2.7.11, p.122)

Como cristãos, temos a obrigação de estudar a Lei de Deus, pois também é através dela que Deus governa nossa sociedade. Ainda hoje os mandamentos representam aquilo que o Senhor ordena ao mundo, e isso não deve ser esquecido pelos cristãos. Que façamos como o salmista, e tenhamos prazer na Lei do Senhor.
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A Lei leva à Graça [ 2.7.8-9 ]

A Lei não apenas nos mostra quão grandiosa foi a graça de Deus ao cobrir nossos pecados. Ela também nos leva a pedir por graça em nossas vidas. Diante de nossa incapacidade e do castigo sobre nós, só nos resta implorar para que o Senhor tenha misericórdia sobre nós.

"Posta de parte a opinião injustificada de sua própria capacidade, compreendam que é tão somente pela mão de Deus que são firmados e subsistem, de sorte que, nus e vazios, se refugiem na misericórdia, nesta repousem inteiramente, no recesso desta se escondam, e tão-somente a esta se apeguem por justiça e méritos, misericórdia que foi revelada em Cristo a todos quantos, em verdadeira fé, não só a buscam, mas também nela esperam." (2.7.8, p.119)

Para Calvino, enquanto Deus demonstra sua severidade e justiça pela Lei, "em Cristo sua face brilha, cheia de graça e brandura, para com os pecadores, ainda que míseros e indignos" (idem). Assim, a Lei nos leva à Graça, fato que é confirmado também por Agostinho em inúmeras citações e, em especial, na obra Do Espírito e da Letra.

"A lei ordena; a graça ministra o poder para cumprir... Deus ordena as coisas que não podemos, para que saibamos o que lhe devamos pedir."

Concluindo, Calvino nos deixa a oração em que Agostinho pede a Deus que o capacite a cumprir os mandamentos. Que sejamos como esses dois homens, e a humildade esteja sempre em nossos lábios.

"Assim faze, ó Senhor; assim faze, ó Senhor misericordioso; ordena o que não se pode cumprir; sim, ordena o que não se pode cumprir, a não ser por tua graça, para que, uma vez que os homens não o possam cumprir por suas próprias forças, toda boca se cale e ninguém se faça grande a si mesmo. Sejam todos pequeninos e o mundo todo se faça culpado diante de Deus." (três últimas citações de Agostinho tiradas de 2.7.9, p.120)
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Primeira função da Lei [ 2.7.6-7 ]

Para Calvino, a Lei Moral tem três funções principais. A primeira delas já começamos a tratar brevemente - a lei serve para demonstrar a condição pecaminosa do homem. "Não há um justo sequer", dizem Davi e Paulo (Sl 14.1-3; Rm 3.10), e os mandamentos do Senhor evidenciam nossa injustiça, nos desprovindo de qualquer tentativa de engrandecer-se. Sobre o homem não-regenerado, que se considera santo, Calvino nos diz:

"Por quanto tempo se lhe permite firmar em seu próprio julgamento, fomenta a hipocrisia em lugar da justiça, contente com a qual se levanta contra a graça de Deus, não sei com que engendradas justiças. Entretanto, depois que é obrigado a pesar sua vida na balança da lei, posta de parte a presunção dessa justiça imaginária, percebe estar distanciado da santidade por imenso espaço; pelo contrário, que superabunda de infinitos vícios dos quais até aqui parecia livre." (2.7.6, p.118)

Como se nossa condição não fosse já lamentável, a Lei também lembra que existe uma série de maldições sobre aqueles que vivem em pecado. Ela não apenas nos declara a condição do incrédulo, mas as consequências de seus atos.

"Pois aquele a quem falta a capacidade para seguir a justiça, este está de modo absoluto atolado em um lamaçal de pecados. Ao pecado se segue imediatamente a maldição. Portanto, quanto mais a lei nos convence de que somos homens que têm cometido transgressão, tanto mais nos mostra que somos dignos de pena e castigo." (2.7.7, p.118)

O reformador esclarece que em nenhum momento procura diminuir a Lei do Senhor. Pelo contrário, visto ser ela expressão da justiça e santidade divina, seria útil para a salvação do homem, se a humanidade não buscasse apenas a própria glória. No entanto, ainda assim podemos desfrutar desta primeira função, uma vez que, diante de nosso pecado a graça do Senhor a cada dia se mostra mais grandiosa. Que nossos corações estejam gratos, como aquele a quem muito foi perdoado (Lc 7.36-47).

"Ora, daí se evidencia cabalmente que por nossa corrupção e perversidade somos impedidos de fruir da bem-aventurança de vida revelada mediante a lei. Donde se torna mais dulçorosa a graça de Deus que nos socorre sem o subsídio da lei e mais aprazível sua misericórdia que no-la confere, mediante a qual aprendemos que ele jamais se cansa de continuamente conceder-nos benefícios e cumular-nos de novas dádivas." (2.7.7, p.119)
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As promessas da Lei [ 2.7.3-5 ]

Sendo a expressão da vontade de Deus, a Lei nos mostra altíssimos padrões de justiça, algo que o homem pecador não pode alcançar. Assim, para Calvino, um dos propósitos da Lei é levar o homem a perceber a inutilidade de seus esforços e ansiar pelas promessas daqueles que cumprem os mandamentos.

"Portanto, resta isto somente: que da excelência destas promessas melhor estime o homem sua própria miséria, enquanto, cortada a esperança da salvação, reconhece ameaçá-lo, inexoravelmente, a morte." (2.7.3, p.115)

Então essas promessas da Lei não passam de mera zombaria? Se não podemos alcançá-las, para que prometê-las? Calvino explica:

"Se bem que, até onde são condicionais, as promessas da lei dependem da perfeita obediência da lei, obediência que em parte alguma se achará, contudo não foram dadas em vão. Pois, quando tivermos aprendido que elas nos haverão de ser fúteis e ineficazes, salvo se, de sua graciosa bondade, sem levar em consideração as obras, Deus nos abrace e, de igual modo, pela fé sejamos abraçado por essa bondade a nós exibida pelo evangelho, por certo que as promessas não carecem de sua eficácia, mesmo com a condição anexa." (2.7.4, p.115s)

Caso alguém tenha dúvidas sobre a incapacidade humana, Calvino deixa claro que a Escritura sempre afirma que é impossível ao homem pecador cumprir toda Lei. Para o reformador, trata-se de um sofisma afirmar algo que a Escritura e superstição crer que algum santo do passado não cometeu pecados.

"Se retornarmos ao mais remoto período, afirmo que nenhum dos santos jamais existiu que, revestido do corpo de morte [Rm 7.24], a este grau de amor haja atingido, que amasse a Deus de todo o coração, de todo o entendimento, de toda a alma, de toda a força; por outro lado, ninguém que não tenha sentido o poder da concupiscência. Quem o contradiz? Vejo, com efeito, que sorte de santos nos imagine a estulta superstição, isto é, santos a cuja pureza mal correspondem os anjos dos céus, mas o repelem tanto a Escritura quanto o ditame da experiência." (2.7.5, p.116)

Assim, que sejamos gratos ao Senhor, por nos presentear com bênçãos que não conquistamos, mas que ele conquistou para nós. Que nos lembremos sempre das palavras do reformador sobre o assunto.

"De tal forma tudo nos confere graciosamente o Senhor que também isto acrescente ao vasto acervo de sua benevolência: que, não rejeitando nossa imperfeita obediência, e suprindo o que lhe falta em completamento, nos faz perceber o fruto das promessas da lei, exatamente como se por nós fosse cumprida a condição." (2.7.4, p.116)
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A Lei do Senhor [ 2.7.1-2 ]

Neste novo capítulo, Calvino tratará sobre a natureza e o propósito da Lei, abrindo caminho para a exposição dos mandamentos, que se dará no capítulo VIII. Nesta primeira seção, o reformador se preocupa em afirmar a Lei como parte da ação redentora de Deus sobre os homens. A Nova Aliança não é uma ruptura da Antiga, mas a continuação da obra do Senhor na vida de seu povo.

"A lei foi acrescentada cerca de quatrocentos anos após a morte de Abraão não para afastar de Cristo o povo eleito; pelo contrário, para que mantivesse as mentes suspensas até sua vinda, até mesmo lhe acendesse o desejo e na expectação os firmasse, para que não esmorecessem por uma demora mais longa." (2.7.1, p.112)

É importante ressaltar que, nesse trecho, Calvino entende como Lei toda a religião proposta no Antigo Testamento. Para ele, essas práticas seriam meros ritos se não apontassem para o Messias. Ao invés de terem um fim em si mesma, a religião veterotestamentária deveria levar o povo a procurar seu cumprimento.

"Todo o sistema cultual da lei, se é considerado em si, nem mesmo contém sombras e figuras a que corresponda a verdade, será coisa inteiramente risível." (idem)

"Em vão é ensinada a justiça pelos mandamentos até que Cristo a confira, tanto por graciosa
imputação, quanto pelo Espírito de regeneração. Pelo que, com justiça, Paulo chama a Cristo o cumprimento ou fim da lei, porquanto de nada valeria sabermos o que Deus exige de nós, se aos que se esforçam e estão oprimidos sob seu jugo e fardo intolerável Cristo não os socorresse."
(2.7.2, p.114)

Além disso, a aliança do Senhor com Davi também serve como espelho daquela que seria a Aliança definitiva entre Deus e seu povo escolhido.

"O reino que foi, afinal, estabelecido na família de Davi é parte da lei e está contido sob a ministração de Moisés. Donde se segue que, tanto em toda a linhagem levítica, quanto nos pósteros de Davi, Cristo fora posto diante dos olhos do povo antigo como que diante de um duplo espelho." (2.7.2, p.113)

Assim, a Lei em si mesma não é algo ruim. Por vezes, Paulo utiliza a expressão como antagônica à graça. No entanto, isto ele faz quando enfrenta a distorção provocada pelos mestres de sua época, que tentavam alcançar a reconciliação com Deus por meio de suas obras. Para o Apóstolo (e para o reformador) a Lei nos é útil, assim como foi útil enquanto guia do antigo Israel.

"Os judeus foram mantidos como que sob a custódia de um “pedagogo” até que viesse a semente a cujo favor a promessa fora dada [G1 3.24]. Ora, uma vez que Cristo ainda não se dera a conhecer intimamente, foram eles semelhantes a crianças, cuja insuficiência não podia ainda suportar o pleno conhecimento das coisas celestes." (2.7.2, p.113s)

Que nos dediquemos a estudar e meditar na Lei do Senhor. Que ela não seja desvalorizada mas amada e guardada em nossos corações.
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A necessidade do Mediador [ 2.6.3-4 ]

"Ora, ainda que, em tempos idos, muitos se tenham gloriado de adorar o nome supremo, e Artífice do céu e da terra, entretanto uma vez, que não tinham nenhum Mediador, não pôde acontecer que, de fato, degustassem a misericórdia de Deus e fossem assim persuadidos de que ele era seu Pai. Portanto, porque não se atinham ao Cabeça, isto é, a Cristo, evanescido foi entre eles o conhecimento de Deus, donde também resultou que, tombados afinal em crassas e repelentes superstições, pusessem à mostra sua ignorância." (2.6.4, p.111)

A idéia de que o interesse de alguém por Deus implica em sua salvação é algo ainda presente hoje. Muitos declaram amar e confiar num Criador, mas poucos são aqueles que vivem conforme a vontade dele. Por que isso acontece? Essas pessoas seguem um ídolo por não conhecerem aquele que revela o Pai.

"O primeiro passo para a piedade é reconhecer que Deus nos é o Pai, para que nos proteja, governe e sustente, até que nos congregue na eterna herança de seu reino. Daqui se faz patente o que dissemos há pouco: à parte de Cristo não subsiste o conhecimento salvífico de Deus, e por isso desde o princípio do mundo ter sido ele posto diante de todos os eleitos, para quem voltassem os olhos e em quem descansassem sua confiança." (2.6.4, p.110s)

Isto também é válido para o povo antigo, ainda que eles vivessem em um período de sombras, sem a revelação completa de nosso Deus. Jesus é o cumprimento daquele pacto feito muito tempo antes de sua vinda.

"'Eis a virgem conceberá e dará à luz um filho' [Is 7.14], indicando indiretamente que, embora, por sua depravação, o rei e o povo rejeitassem a promessa que lhes era oferecida, como se de propósito se lançassem a abalar a fidedignidade de Deus, no entanto o Pacto não haveria de vir a ser nulo - o Redentor viria a seu tempo." (2.6.3, p.109)

Assim, os cristãos devem se lembrar sempre dessa verdade. Sem Cristo, não há salvação, não há reconciliação e não há nem mesmo um relacionamento com Deus. Numa era de frouxidão doutrinária, o maior perigo para igreja pode ser esquecer da necessidade de um Mediador. Que Deus nos use para falar dele!

"'Credes em Deus; também crede em mim', diz ele [Jo 14.1]. Pois, falando apropriadamente, embora a fé se eleve de Cristo ao Pai, deixa ele claro, no entanto, que, embora se apóie firme em Deus, ela aos poucos se desvanece, a não ser que na condição de Mediador intervenha esse mesmo que a retém em sólida firmeza." (2.6.4, p.110)
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A figura do Mediador [ 2.6.1-2 ]

Após vários capítulos explanando a natureza da Queda do homem, João Calvino passa do problema à solução. Ainda que não adentre muito no assunto, as próximas seções ele falará sobre a necessidade de um mediador entre o homem pecador e Deus. Este mediador só pode ser Cristo, e a idéia de que todas as religiões nos aproximam de Deus é falsa. Assim, somente os judeus encontraram a verdadeira piedade, uma vez que esperavam o Messias.

"Com estas palavras [Jo 4.22] não só condena como falsas a todas e quaisquer religiões dos povos, mas assinala também a razão: porque, sob a lei, somente ao povo eleito se prometeu o Redentor. Donde se segue que jamais culto algum agradou a Deus a não ser aquele que contemplasse a Cristo." (2.6.1, p.106)

Essa crença em Cristo está clara no Antigo Testamento, onde nos precursores do Messias (os ungidos do Senhor), Israel se estabeleceu fundamentado na mesma fé que a Igreja. Tanto as promessas a Abraão, a Lei de Moisés e o reinado de Davi apontam para a figura do Mediador.

"Está patente, portanto, em uma única cabeça foi primordialmente computada a semente de Abraão, nem foi manifesta a salvação prometida, até que essa semente viesse a Cristo, cujo ofício é ajuntar as coisas que foram dispersas. Portanto, da graça do Mediador dependia a adoção original do povo eleito. O que, embora em Moisés ainda não se exprimisse em termos claros, contudo se faz bastante patente ter sido geralmente conhecido de todos os piedosos." (2.6.2, p.107)

"Nem de fato há dúvida de que o Pai celeste quisesse que se contemple em Davi e em seus pósteros a imagem viva de Cristo. Por isso, desejando exortar os piedosos ao temor de Deus, Davi manda beijar ao Filho [Sl 2.12], ao que de fato responde esta declaração do evangelho: 'Quem não honra ao Filho, não honra ao Pai' [Jo 5.23]." (idem)

Portanto, não existe diferença radical entre o povo da Antiga Aliança e o da Nova Aliança. Ainda que existam grandes diferenças sobre a maneira como o Senhor governava seu povo e sua religião, a salvação viria somente pela graça, pela fé na figura do Ungido. Que tenhamos isso em mente enquanto proseguirmos nesse estudo. Glória a Deus por seu Messias!

"Sem dúvida que depois da queda do primeiro homem nenhum conhecimento de Deus valeu para a salvação, sem o Mediador, pois que Cristo, quando diz que a vida eterna é esta: conhecer ao Pai como o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem ele enviou [Jo 17.3], fala não apenas de seu tempo, pelo contrário compreende a todos os séculos." (2.6.1, p.106)
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Outras objeções IV [ 2.5.18-19 ]

O próximo texto vem de Eclesiástico, um dos apócrifos. Embora Calvino considere sua autoridade duvidosa, resolve tratar da questão. Nos diz a passagem que "no princípio Deus criou o homem, e o entregou ao seu próprio juízo; deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos. " (15.14,15)

Calvino compara esse texto com outro, este sim inspirado - Eclesiastes 7.29: "Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias". Os dois tratam da criação do homem, quando ele poderia escolher entre vida e morte. Após a queda, porém, não é mais assim.

"No entanto, uma vez que, em conseqüência de sua degeneração, o homem fez naufrágio não só de si próprio, mas também de todas as coisas boas que em si havia, qualquer coisa que lhe é atribuída, provinda da criação original, não mais compete à natureza viciada e degenerada." (2.5.18, p.103)

O próximo texto encontra-se na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.25-37). Nos diz a Escritura que o homem vitimizado pelos bandidos foi deixado "meio-morto" (v.30). Os detratores do reformador entendem essa passagem como uma indicação de que o homem não está totalmente morto, mas ainda retém certas habilidades. Para responder, Calvino critica primeiro a fraquíssima intepretação do texto.

"Em primeiro lugar, o que diriam, se eu negar que há algum lugar para sua alegoria?... As alegorias não devem ultrapassar os limites da norma que a Escritura lhes antepõe; pois longe estão de ser suficientes e adequadas para servirem de base a qualquer doutrina." (2.5.19, p.103s)

O reformador nos lembra que Efésios 2 ensina que o homem está totalmente morto. Não estávamos semivivos em nossos delitos, mas mortos espiritualmente, necessitando de uma verdadeira ressurreição, que só o Espírito dá. O reformador, porém, admite que poderíamos considerar a presença dos dons naturais como algum resquício de vida, mas isso não tem relação com a vida espiritual do homem.

"Foram subtraídos ao homem, após a queda, os dons graciosos de que depende para a salvação; corrompidos e poluídos, porém, foram os dotes naturais." (idem)

Assim, este capítulo conclui. Aprendemos que a doutrina de Calvino é uma coluna forte contra qualquer tipo de ataque. Ainda que o reformador não tenha respondido a todas as questões, todo o estudo que veio antes desse capítulo pode nos trazer muitas respostas. Louvemos a Deus pela habilidade deste grande homem em expor a Palavra de Deus.
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Outras objeções III [ 2.5.16-17 ]

A utilização de versos-prova para refutar doutrinas pode funcionar às vezes, mas também podem servir de muletas para alguém que não tem uma mente moldada pelas Escrituras. Ao invés da pessoa pensar a Palavra como um todo, ela prefere catar um texto aqui e ali para refutar o que não aceita bem. Isso não quer dizer que quem usa os próximos textos para comprovar sua doutrina anticalvinismo é assim, mas pode ser o caso de alguns. De qualquer maneira, sem mais delongas, vamos aos textos:

"Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar." (Gênesis 4.7)

Na tradução de Calvino, essa frase pode ser entendida ou como uma ordem ou uma promessa. Devemos saber disso antes de lermos sua explicação para o verso. Seu argumento é simples: Deus não falou sobre a capacidade de Caim, mas sobre sua obrigação.

"Se está ordenando, já demonstramos que daí não se deduz nenhuma prova de capacidade humana; se está prometendo, onde jaz o cumprimento da promessa, uma vez que Caim sucumbiu ao pecado ao qual deveria dominar?... Ora, se esse domínio se refere ao pecado, ninguém nutre dúvida de que a oração seja imperativa, na qual não se define que possamos; pelo contrário, que devamos, embora acima de nosso poder." (2.5.16, p.101)

O próximo texto tratado encontra-se em Romanos 9.16: "Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece" - curiosamente, um dos textos mais utilizados por calvinistas. Para os oponentes de Calvino, o texto significa que a graça de Deus colabora com nossa fraca capacidade de correr e querer. Sobre isso o reformador diz:

"Mais simples, porém, é a mente de Paulo: Não é a vontade, não é a corrida que nos preparam o caminho para a salvação; aqui entra somente a misericórdia do Senhor. Pois tampouco o Apóstolo fala aqui de uma maneira diferente de Tito [3.4-5], onde escreve que a bondade e a humanidade de Deus se fizeram manifestas não por meio de obras de justiça que porventura tenhamos feito, mas em virtude de sua imensa misericórdia." (2.10.17, p.102)

O último texto é 1Co 3.9: "Porque nós somos cooperadores de Deus". O reformador não gasta muito tempo com este, dedicando apenas um parágrafo rápido.

"Sem a mínima dúvida se restringe só aos ministros. Entretanto, chamam-se cooperadores não porque por si sós proporcionem alguma coisa; ao contrário, porque Deus se serve de sua obra, depois de os qualificar e os prover dos dotes necessários." (idem)
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Uma rápida explicação [ 2.5.15 ]

Abrindo espaço em meio às objeções, Calvino explica novamente a natureza da regeneração. Como já foi dito, é nossa vontade que está agindo, mas ao mesmo tempo é algo totalmente transformado pelo Espírito. Em uma frase que pode significar um paradoxo para alguns, o reformador explica que ao mesmo tempo a vontade do pecador é reparada, mas também recriada.

"A vontade não é destruída pela graça; ao contrario, é antes reparada, pois que ambos esses conceitos se harmonizam esplendidamente, de modo que se pode dizer que a vontade do homem é restaurada, enquanto, corrigida a viciosidade e depravação, é ela dirigida à verdadeira norma da justiça, e ao mesmo tempo se pode dizer que é criada no homem uma vontade nova, porquanto está viciada e corrompida a tal ponto que ele tem por necessário induzir-lhe no íntimo uma nova natureza." (2.5.15, p.100)

Isso não quer dizer que tenhamos alguma participação na salvação sem a obra do Espírito Santo em nós. Toda ação vem de Deus, ainda que sejamos nós agindo. Como diz o Senhor, "sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5). Para o reformador, ainda que os atos sejam nossos, devemos dar glória a Deus, pois por sua benignidade é que eles são nossos, ainda que originados nele.

"Uma vez que, entretanto, o querer nos é naturalmente ingênito, nos é dito não sem causa que efetuamos essas coisas cujo louvor, de direito, Deus para si reivindica, em primeiro lugar, porque nosso é, por sua benignidade, tudo quanto ele opera em nós, uma vez que compreendamos que não procedem de nós; em segundo lugar, visto que nossa é a mente, nossa a vontade, nosso o esforço, estes são por ele dirigidos para o bem." (idem)

Depois dessa rápida explicação, o reformador voltará a se concentrar nas objeções contra sua doutrina, escolhendo alguns versos utilizados pelos precursores do arminianismo. Que Deus nos dê sabedoria e iluminação para continuarmos nesses estudos, sem nos desviarmos da sã doutrina.
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Outras objeções II [ 2.5.14 ]

A questão que se levanta agora diz respeito aos atos que a Bíblia chama de nossos. Ora, se a Escritura associa a nós o louvor e as boas obras, por exemplo, como podemos dizer que eles não vêm de nós, mas de Deus. Por acaso seria o homem como uma simples pedra, lançada de um lado para o outro? Calvino não entende assim.

"Se porventura se alegasse este ponto único, a saber: que se dizem nossas as boas obras, eu, por minha vez, objetaria que se diz nosso o pão que rogamos que Deus nos dê [Mt 6.11]. Que haverão de entender do pronome possessivo, senão que, de modo algum, o que se nos deve de outra maneira, nosso se faz pela benignidade de Deus e por seu gratuito favor?" (2.5.14, p.98)

Uma variação dessa objeção diz que a própria Escritura ensina que de nós mesmos vem a adoração a Deus, a perseverança, a justiça, entre outros. Calvino considera esse questionamento mais forte, mas nos mostra que sua doutrina não é afetada por ele. Seu argumento começa falando dos ímpios. Se Deus usa a ação dos injustos para seus propósitos, isso significa que não têm eles a vontade para isso?

"Portanto, o homem criminoso que, enquanto diligencia por obedecer apenas à sua concupiscência, assim serve ao poder de Deus, porventura o compararemos com uma pedra que, acionada por impulso alheio, não é impelida nem por motilidade, nem por sensibilidade, nem por vontade própria? Vemos, pois, a grande diferença que existe!" (2.5.14, p.99)

Da mesma forma acontece conosco, quando realizamos um ato bom. Deus usa nossas escolhas, ainda que esteja ele agindo para que elas obedeçam a seus mandamentos. O mérito é todo do Senhor, ainda que a ação seja nossa. Novamente, o reformador usa o auxílio de Agostinho:

"Dir-me-ás: Portanto, não agimos, sofremos ação. Pelo contrário, ages e sofres ação, e então ages bem, se do bom estás a sofrer a ação. O Espírito de Deus que age sobre ti é ajudador dos que agem. O designativo ajudador prescreve que também tu ajas em certa medida." (idem)

Calvino alerta que isso não significa que existe algum mérito que possa ser atribuído a nós nessa situação. Pelo contrário, continuamos sendo instrumentos de Deus, e devemos nos alegrar por sermos usados por ele, para seus bons propósitos, e ainda sermos considerados os feitores de tais atos.

"O querer nos é da natureza, o querer bem, no entanto, nos é da graça. Por isso, [Agostinho] dissera pouco antes: 'A não ser que Deus nos venha em auxílio, não só não poderemos vencer, mas nem mesmo lutar'." (idem)
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Outras objeções I [ 2.5.12-13 ]

"Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?" (Dt 30.11,12)

O reformador continua a responder seus adversários, admitindo que esse verso de Deuteronômio poderia colocá-lo "em grande apuro para responder" (2.5.12, p.96). Porém, ao seguir a premissa de que "a Escritura interpreta a Escritura", Calvino entende que Moisés não estaria aqui falando simplesmente dos preceitos da Lei, mas também do Evangelho, como Paulo afirma em Romanos 10.8. De qualquer maneira, em versos anteriores o Senhor cita sua ação sobre os israelitas para que esse mandamento fosse cumprido.

"Logo, nada é mais certo do que Moisés haver compreendido com estas palavras o pacto de misericórdia que havia promulgado juntamente com a exação da lei. Ora, havia também ensinado, poucos versos antes, a saber, que nos é indispensável que o coração seja circuncidado pela mão de Deus, para que o amemos [Dt 30.6]. Conseqüentemente, esta capacidade de que fala logo em seguida não a colocou no poder do homem, mas na assistência e proteção do Espírito Santo, que em nossa fraqueza leva a bom termo sua obra, poderosamente, embora não se deva entender esta passagem simplesmente acerca dos preceitos." (idem)

A próxima objeção diz respeito a um verso de Oséias: "Irei e voltarei ao meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, de madrugada me buscarão" (5.15). Sobre isto, Calvino nos lembra que o distanciamento que Deus avisa significa supressão da profecia, não ausência de graça.

"Mas, o afastamento do Senhor para longe denota a supressão da profecia. Ficar observando o que porventura os homens hão de fazer significa acossá-los por algum tempo com aflições várias, silencioso e como que às escondidas. A ambos faz o Senhor para que nos torne mais humildes, pois, a não ser que, por seu Espírito, nos predispusesse a essa suscetibilidade em aprender, seríamos mais depressa chagados do que corrigidos pelos azorragues das coisas adversas." (2.5.13, p.97)
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Sobre as advertências [ 2.5.11 ]

Calvino dedica o capítulo 5 de seu segundo livro às objeções à sua doutrina da liberdade humana. Nessa seção ele trata das advertências que o Senhor nos dá, alertando para as consequências judiciais de nossos pecados - catástrofes, maldições, inimigos, entre outros. Para os detratores do reformador, se o homem não possui o livre-arbítrio, essas censuras tornam-se inúteis e vazias. Novamente, trata-se de um erro básico, pois a doutrina de Calvino não ensina a nulidade da vontade humana, mas a sua escravidão.

"Respondam, portanto, se porventura podem negar que a causa de sua obstinação é por ser sua vontade depravada. Se acham a fonte do mal dentro de si próprios, por que se extenuam à busca de causas estranhas, para que a si não pareçam ser eles mesmos os autores da própria ruína?" (2.5.11, p.94)

Assim, da mesma maneira que as promessas levam ímpios e justos à clamar pela graça de Deus, essas reprimendas também têm esse papel. Tratam-se de avisos do Senhor para que não cometamos o mal, ou sofreremos as consequências disso. Diante da tentação, o pecado pode ser evitado caso essas ameaças nos venham à memória.

"Se persistirem obstinadamente nos desregramentos, que aprendam nas calamidades a acusar e detestar antes sua própria depravação, em vez de acusar a Deus de injusta crueldade; se não se despojaram da aptidão para aprender, tomados de tédio dos pecados, de cujo merecimento se vêem miseráveis e perdidos, retornem ao caminho e, em séria confissão, reconheçam que o Senhor, ao reprovar, desperta a lembrança." (idem)

Calvino nos lembra, como duas passagens que a disposição para obedecer a Deus vem do próprio Deus. Por isso, não devemos pensar que o Senhor nos deixa sozinhos, tentando escapar do destino dos ímpios. Pelo contrário, sua mão nos guia para longe de sua própria ira.

"Diz o Profeta: Inclinei meu coração a observar teus preceitos [Sl 119.112]; na verdade porque havia se devotado a Deus, de bom grado e de jovial disposição de espírito; contudo não se gaba de ser o autor dessa disposição, a qual, no mesmo Salmo, confessa ser dádiva de Deus [Sl 119.33-40]." (2.5.11, p.95)

"[Sobre Fl 2.12,13] Por certo que lhes assinala participação ativa, para que não se refestelem no torpor da carne; por outro lado, preceituando-lhes medo e solicitude, abate-os de tal modo que se lembrem ser obra própria de Deus o mesmo que lhes é ordenado fazer. Com o que exprime claramente que, visto que a capacidade lhes é suprida do céu, agem os fiéis, por assim dizer, passivamente, para que de modo algum reivindiquem algo para si." (idem)

Que Deus nos abençoe e nos ajude a guardar essa doutrina tão grandiosa. Que não nos esqueçamos de reconhecer nossa pequenez diante do Salvador.
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Sobre as promessas [ 2.5.9-10 ]

Calvino continua a tratar da objeção sobre o que ordena a Lei de Deus e qual a nossa capacidade de cumprir isto. Primeiro, ele fala daqueles chamados à conversão que se encontram na Escritura. Como ele já deixou claro em estudos anteriores, o homem não tem a capacidade de cumprir o que Deus deseja.

"No mínimo, se exige de nós mais do que sejamos capazes de executar. Na verdade, não se pode diluir de quaisquer cavilações essa afirmação de Jeremias: que foi sem efeito o pacto de Deus firmado com o povo antigo, porque o era apenas da letra; nem ser além disso estabelecido de outra maneira, que é o Espírito quem plasma os corações à obediência [Jr 31.32]." (2.5.9, p;92)

Uma variação desse objeção diz respeito às promessas feitas a nós. Se não temos capacidade de cumprir para receber aquilo que nos é prometido, então Deus zomba de nós. Calvino explica que essas promessas têm funções - para incrédulos e para os piedosos. Sobre os ímpios ele diz:

"Deus punge a consciência dos ímpios, para que não se deliciem nos pecados de forma tão deliciosa, sem nenhuma lembrança de seus juízos, assim nas promessas lhes faz de certo modo testificar quão indignos são de sua benignidade... Nas promessas enuncia esta lei: que finalmente receberão então suas bênçãos, caso se apartem da depravação; ou, só por isto: que compreendam ser com razão excluídos daquelas bênçãos que se devem aos verdadeiros adoradores de Deus." (2.5.10, p.93)

A respeito dos piedosos, Calvino nos explica que as promessas do Senhor nos fazem desejar cada vez mais viver uma vida que o agrade, e isto nos leva ao arrependimento e à fé. Clamamos ao Salvador que nos salve e nos liberte de nossa incapacidade.

"Ensinados pelos preceitos acerca da vontade de Deus, somos advertidos de nossa miséria, nós que, de todo o coração, dela tanto discrepamos. Ao mesmo tempo, somos instigados a invocar-lhe o Espírito, por quem somos dirigidos pelo reto caminho. No entanto, uma vez que nossa displicência não é suficientemente acicatada pelos preceitos, acrescentam-se as promessas para que, por um certo dulçor, a seu amor nos aliciam." (idem)

Vemos aqui que temos um Pai maravilhoso, que nos dá bênçãos que não merecíamos. Que a gratidão seja nossa principal motivação para crescer cada dia mais em santidade.
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A Lei e a Graça [ 2.5.6-8 ]

Ainda falando sobre a questão das exortações bíblicas, Calvino nos diz que as ordens que nos são dadas pela Lei não são a medida de nosso livre-arbítrio. Para o reformador, essa idéia é falsa. Pois muitas vezes a Bíblia nos lembra que devemos pedir a Deus o poder para cumprir sua Lei. Ela deixa claro o pecado e a nossa incapacidade.

"Pergunto, pois, que lhes significam estas passagens: 'A lei foi outorgada por causa das transgressões' [Gl 3.19]; 'O conhecimento do pecado é mediante a lei' [Rm 3.20]; 'A lei engendra o pecado' [Rm 7.7, 8]; 'Sobreveio a lei para que abundasse a ofensa' [Rm 5.20]? A lei deveria limitar-se às nossas forças, para que não fosse dada em vão? Pelo contrário, antes a lei foi posta muito acima de nós, para que nos convencesse de nossa incapacidade." (2.5.6, p.88)

O reformador entende que existem três categorias básicas da Lei, cada qual com seu propósito. E em nenhuma delas devemos entender que isso implica na capacidade do homem para obedecer. O primeiro tipo nos ordena a conversão a Deus, o segundo que cumpramos os mandamentos do Senhor, e o terceiro que permaneçamos na graça de Deus. Calvino desenvolverá melhor esse tema depois, então é importante sabermos apenas que dependemos da graça para realizar o que é esperado de nós.

"Ela ensina que o poder de obedecer procede da bondade de Deus, e por isso nos convida às preces, mediante as quais imploremos que nos seja dado esse poder... Quando porém, ao mesmo tempo, se lhes associam promessas, as quais proclamam que não só necessitamos do auxílio da graça divina, mas ainda de todo poder, as mesmas comprovam mais que suficientemente que somos de todo inaptos, para não dizer incapazes, para observar a lei." (2.5.7, p.89s)

Assim, a Lei não é aquela que nos diz o que podemos fazer, mas aquela que nos mostra o que deveríamos fazer, mas não conseguimos. Ela aponta para a justiça, mas realça nosso pecado. A nossa única salvação é clamar pelo socorro de Deus, pedir pela ação da graça divina e batalhar por nossa vida. Somente nos reconhecendo incapazes, começaremos a ser capacitados a cumprir toda a justiça. As palavras de Agostinho expressam isso muito bem:

"Deus ordena o que não podemos, para que saibamos o que devamos dele suplicar."

"Deus dá o que ordena e então ordena o que quer." (2.5.7, p.90)
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Quarta objeção pelagiana [ 2.5.4-5 ]

Uma das objeções mais comuns à doutrina calvinista é essa: se não temos a capacidade de cumprir o que Deus deseja, por que ele nos ordena? Para responder isso, Calvino nos lembra que essa é uma idéia comum na Bíblia, entre Cristo e os apóstolos.

"Cristo, que declara que sem ele nada podemos fazer [Jo 15.5], porventura com isso reprova e pune menos os que, à parte dele próprio, faziam o mal? Porventura com isso exorta menos a que cada um se devote às boas obras? Quão severamente Paulo investe contra os coríntios [1Co 3.3] em razão de sua negligência do amor fraternal! [1Co 16.14]. Contudo, por fim suplica que esse amor seja, pelo Senhor, dado aos mesmos coríntios." (idem)

Calvino ainda cita os mais variados textos para mostrar que uma ordem sempre é dada com a advertência de que a capacidade de cumprí-la vem do Senhor. Mas, se as coisas funcionam dessa forma, para que serve exortar as pessoas? Existem duas respostas - para ímpios e justos. Sobre os primeiros, o reformador nos diz:

"É certo que, se pelos ímpios são desdenhadas, movidos por coração obstinado, se lhes tornarão em testemunho quando acontecer de virem diante do tribunal do Senhor; além de quê, já agora mesmo lhes fustigam e ferem a consciência, porquanto, por mais que as escarneça o mais insolente de todos, não obstante não as pode condenar." (2.5.5, p.87)

Para os justos, as exortações ganham importância maior, por serem feramentas de Deus para alcançar seus propósitos redentivos.

"Ora, operando o Espírito interiormente, elas valem muitíssimo para inflamar o desejo do bem, para sacudir a indiferença, para alijar a volúpia da iniqüidade e seu envenenado dulçor; até mesmo em contrário, para gerar-lhes ódio e tédio, quem ousa acusá-las de supérfluas?" (2.5.5, p.88)

Os protagonistas dessa transformação causada pelas exortações são a Palavra e o Espírito, algo que Calvino deu grande atenção no Livro 1, e que agora voltam a aparecer, novamente trabalhando "em dupla".

"Deus opera em seus eleitos de duas maneiras: interiormente, através do Espírito; exteriormente, mediante a Palavra. Pelo Espírito, iluminando-lhes a mente e plasmando o coração ao amor e ao cultivo da retidão, os faz novas criaturas. Pela Palavra, despertando-os para que desejem, busquem, alcancem essa mesma renovação. Em ambos – o Espírito e a Palavra – ele evidencia a operação de sua mão, segundo a maneira de sua dispensação." (idem)

Portanto, é nosso papel como cristãos exortar e aconselhar que as pessoas abandonem o pecado. Não cabe a nós questionar se isso funcionará ou não. É Deus aquele que dá nova vida a um coração morto. Devemos confiar no poder de sua Palavra, aquela que não volta vazia - seja para salvação, seja para juízo.
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Terceira objeção pelagiana [ 2.5.3 ]

A próxima objeção à doutrina de Calvino diz respeito à diferenciação entre bons e maus. Isto é, se não podemos escolher entre bem e mal, então deveriam ser todos justos ou todos injustos. Mais ainda, se não há a possibilidade de escolha, como tantos se desviam da fé?

Ora, a resposta do reformador é simples e rápida - é a eleição de Deus que determina se aparentes fiéis persistirão ou não. Da mesma maneira, é a graça do Senhor que retira alguns da miséria do pecado e outros não.

"Todos laboremos em igual enfermidade, só recobram saúde aqueles a quem aprouve ao Senhor aplicar a mão curadora. Os outros, a quem, em seu justo juízo, pretere, definham em sua podridão até de todo consumir-se. Nem é de outra parte que uns perseveram até o fim, outros tombam, apenas iniciada a corrida." (2.5.3, p.86)

Assim, mesmo a perseverança dos santos é fruto do poder divino, e não algo em que colaboramos com o Senhor, recebendo algum mérito. A razão pela qual alguns cristãos nominais desviam-se da fé é que a mão de Deus não os presenteou com a capacitação para vencerem.

"Com efeito, também a própria perseverança é dom de Deus, dom que não prodigaliza a todos indiscriminadamente; ao contrário, confere a quem bem lhe parece. Se se procura a causa da diferença, por que uns perseveram constantes, outros por instabilidade desfalecem, não nos é mostrada nenhuma outra causa senão que àqueles, firmados por seu poder, o Senhor os sustenta para que não pereçam; a estes não lhes ministra o mesmo poder, para que sejam exemplos de inconstância." (idem)
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Segunda objeção pelagiana [ 2.5.2 ]

A segunda objeção levantada envolve também os bons atos que os homens praticam. Calvino afirma que esse argumento foi levantado por Crisóstomo, Jerônimo, e até Aristóteles. Diz o seguinte: "Se não procedem da livre escolha do arbítrio, sejam as virtudes, sejam os vícios, não é congruente que ao homem se inflija castigo, ou se outorgue recompensa." (2.5.2, p.84)

Sobre a questão dos atos maus, mais uma vez lemos que não se trata de uma questão de alguém poder ser livre para fazer algo além do pecado, mas se esse ato foi praticado voluntariamente, por alguém desejoso de cometê-lo.

"Ora, que importa se de livre ou servil juízo se peque, contanto que o seja pelo desejo da vontade, especialmente quando o homem, como pecador, argumenta com base nisto: que está debaixo da servidão do pecado?" (idem)

A respeito da questão dos galardões, vemos aqui uma belíssima exposição de Calvino, auxiliado por Agostinho. Essas recompensas não são fruto de nosso mérito, mas é a própria graça de Deus agindo em nossas vidas, quando o Senhor considera como nosso algo que foi conseguido por ele mesmo.

"Deus não coroa a nossos méritos, mas a seus próprios dons; galardões, porém, se chamam aqueles que não se devem a nossos méritos; ao contrário, que são retribuídos por graças já outorgadas... Se a ti se houver de pagar o que é devido, punido terás de ser. Portanto, que acontece? Deus não te pagou a pena devida; pelo contrário, confere graça não devida. Se queres ser estranho à graça, vangloria-te de teus méritos." (idem)

O resumo desse ensino é que "a graça não procede do mérito, mas o mérito, da graça" (2.5.2, p.85). Isto é, mais uma vez Deus inverte o que era esperado e dá ao homem mais do que ele merece e precisa. Recebemos dele algo que não é nosso, mas que por sua bondade é tido como propriedade dos fiéis. Que louvemos ao Senhor por isso!

"Uma vez que a benignidade e liberalidade de Deus são inesgotáveis e multíplices, porque faz nossas as graças que nos confere, as recompensa exatamente como se fossem virtudes nossas." (idem)
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Primeira objeção pelagiana [ 2.5.1 ]

As próximas seções Calvino dedicará a possíveis objeções levantadas à sua doutrina da vontade humana. Em sua opinião, tratam se pessoas que carregam "um falso conceito de liberdade" (2.5.1, p.83). Para facilitar o estudo, farei um post para cada uma delas. A primeira delas, pode ser resumida na seguinte frase: "Se o pecado, dizem eles, é por necessidade, então deixa de ser pecado; se é voluntário, então pode ser evitado". (idem)

Esse argumento, que remonta a Pelágio (séc.V), pode ser resumido da seguinte forma: o pecado deve ser voluntário, pois somente assim o pecador será culpado. O reformador argumenta que o ser humano é pecador por corrupção em sua natureza, não por uma criação falha de Deus. Além disso, Calvino nos lembra que a culpa do homem não se baseia apenas em suas ações, mas também na condenação que Adão trouxe a seus filhos.

"Donde, pois, essa incapacidade que os ímpios de bom grado invocariam como pretexto, senão que, por sua livre vontade, Adão se entregou à tirania do Diabo? Daqui, pois, a corrupção de cujos laços somos mantidos atados, ou, seja, que o primeiro homem desertou de seu Criador." (idem)

Novamente o exemplo do Diabo e dos anjos é usado aqui. Enquanto o inimigo peca tanto por necessidade quanto por vontade, e é culpado disso, os anjos desejam o bem, ainda que lhes seja necessário por sua natureza. Uma citação adaptada de Bernardo aqui é útil.

"Mais miseráveis somos nós por isto: que a necessidade é voluntária, necessidade que, todavia, a tal ponto nos mantém sujeitos a si, que nos tornamos escravos do pecado, como já referimos." (idem)

O que existe, Calvino conclui, é uma confusão entre vontade e liberdade. Um ato pode ser praticado voluntariamente, mas ainda assim não ser um ato livre. É importante guardarmos isso, para não cairmos em erro e sabermos responder as dúvidas sobre a sã doutrina.
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Ação divina sobre os homens [ 2.4.5-8 ]

Calvino expande um pouco mais a questão da soberania de Deus sobre as vontades, e mostra que até em ações mais simples Deus está no controle. Um exemplo disso é a prestatividade dos egípcios em doar bens ao povo de Deus ou o comando do Senhor sobre as nações pagãs. Novamente, essa uma doutrina necessária para glorificar nosso Pai e nos confortarmos nele, não para que vivamos em especulações ou negações.

"Sempre que Deus, querendo fazer caminho à sua providência, dobra e revolve a vontade dos homens até mesmo nas coisas externas, nem lhes é livre a escolha, de modo que o arbítrio de Deus não lhe reja a liberdade. Queiras ou não, que teu intento é pendente antes da impulsão de Deus do que da liberdade de tua escolha, esta é a experiência diária." (2.4.7, p.81)

Para complementar seu pensamento, Calvino mais uma vez apela aos escritos de Agostinho, que, com genialidade, nos explica melhor essa desafiadora doutrina.

"Se é diligentemente examinada, a Escritura mostra que não só as boas vontades dos homens, que de más ele assim as faz, e uma vez feitas, dirige para as boas ações e a vida eterna, mas também aquelas que conservam a criatura no mundo, assim estão sob o poder de Deus, de modo que, por seu mui secreto, porém mui justo juízo, as faz inclinar-se para onde quiser, quando quiser, seja para prestarem benefícios, seja para infligirem castigos.” (citado em 2.4.7, p.82)

Por fim, uma ressalva de Calvino - a questão da liberdade humana não diz respeito à capacidade das pessoas de alcançarem seus objetivos. Isto é, alguns tentam provar que o homem não tem a vontade livre por não conseguirem aquilo que planejaram. No entanto, essa doutrina não diz respeito a isso, mas ao próprio interior do homem.

"Pois, na discussão do livre-arbítrio, não se está a indagar se porventura se permite ao homem, por entre os ofícios externos, executar e consumar tudo quanto haja determinado na mente, mas se, em qualquer coisa que seja, tenha livre tanto a escolha do juízo quanto a inclinação da vontade, o que, se ambas assistem aos homens, de não menos livre-arbítrio será Atílio Régulo, confinado na estreiteza de um tonel crivado de pregos, que Augusto César a governar, de seu arbítrio, a grande parte do orbe terrestre." (2.4.8, p.82)
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Ação divina sobre Satanás [ 2.4.5 ]

Em uma seção curta, Calvino fala sobre a soberania de Deus sobre o diabo. O próprio inimigo de Deus também é instrumento da vontade divina, cumprindo decretos, maldições e juízos sobre os homens. Um exemplo bíblico encontra-se em 1Samuel, quando um espírito maligno foi convocado para atormentar Saul.

"Saul ou foi 'arrebatado', ou foi 'entregue' a 'um mau espírito do Senhor' e a 'um mau espírito da parte do Senhor' [1Sm 16.14; 18.10; 19.9]. Atribuir isto ao Espírito Santo é uma impiedade. Logo, chama-se 'espírito de Deus' a um espírito impuro, porque este lhe atende ao mando e poder, mais um instrumento seu em ação do que um agente de si próprio." (2.4.5, p.79s)

Essa doutrina nos deve trazer paz, e não confusão. Não se tratam de atos maus da parte de Deus, mas de seus decretos, que nos dão a certeza de que não estaremos jamais indefesos. Hoje muitos evangélicos vivem temendo o inimigo, pois não reconhecem esse ensinamento bíblico. Que tenhamos a mesma convicção de Calvino ao tratar desse tema.

"Entretanto, com grande diferença, sempre se distingue em um mesmo ato aquilo que o Senhor faz daquilo que Satanás e os ímpios porfiam por fazer. Aquele faz com que sirvam à sua justiça estes instrumentos maus que tem sob a mão e pode volver para onde quer. Estes, na medida em que são maus, em seu agir dão à luz a iniqüidade concebida pela depravação da mente." (2.4.5, p.80)
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Ação divina sobre os ímpios [ 2.4.3-4 ]

Falando sobre a dificuldade que os teólogos têm a respeito da soberania de Deus mesmo nos corações pecaminosos, Calvino lamenta que o próprio Agostinho tenha às vezes vacilado nesse assunto (embora os editores, tanto da Cultura Cristã, quanto da UNESP, entendam ser uma citação do Pseudo-Agostinho). Para o reformador, precisamos ser honestos com as palavras da Bíblia em entender que Deus move o coração do réprobo de duas formas, a saber:

"Primeira como se, com efeito, removida sua luz, nada resta senão trevas e cegueira; ou, retirado seu Espírito, em pedra se torna nosso coração; ou, cessando-lhe a direção, à tortuosidade se transvia, com razão se diz que ele cega, endurece, inclina àqueles a quem priva da capacidade de ver, de obedecer, de seguir retamente.

A segunda maneira, a qual se aproxima muito mais à propriedade dos termos, é que, para executar seus juízos, mediante o ministro de sua ira, Satanás não só lhes determina os desígnios, como lhe apraz, mas ainda lhes desperta a vontade e firma os esforços."
(2.4.3, p.78)

Alguns versos que confirmam o primeiro tipo de juízo divino se encontram em Jó 12.20,24 e Isaías 63.17. Enquanto da segunda maneira temos o caso de Faraó (Êx 4.21), além de passagens como Deuteronômio 2.30 e Salmo 105.25. A Bíblia claramente ensina que Deus está por trás desses atos, ainda que esses homens permaneçam culpados por sua maldade. Um exemplo comum é quando o Senhor levanta uma nação pagã contra Israel.

"Além disso, sempre que lhe aprouve punir a transgressão do povo, como levou a bom termo sua obra mediante os réprobos? De tal modo que vejas que a eficiência do agir esteve nele e que eles simplesmente contribuíram com o desempenho. Pelo que, ora ameaçava convocá-los com seu assobio [Is 5.26; 7.18], ora usava os ímpios como uma rede para emaranhá-los [Ez 12.13; 17.20]; ora como um malho para ferir aos israelitas [Jr 50.23]." (2.4.4, p.79)

Para concluir, o reformador nos deixa outra brilhante reflexão de Agostinho (agora o verdadeiro!). Que meditemos sobre ela e nos maravilhemos com nosso Deus.

"Que os maus pequem, isso eles fazem por natureza; porém que ao pecarem, ou façam isto ou aquilo, isso provém do poder de Deus, que divide as trevas conforme lhe apraz." (idem)
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Tríplice operação [ 2.4.1-2 ]

Como a vontade humana é guiada para o bem ou para o mal? Este é o assunto tratado por Calvino nas próximas seções. Para isso, o reformador usa primeiro a comparação oferecida por Agostinho, de que o homem, semelhante a um cavalo, é levado por Deus pelo reto caminho, ou montado por Satanás corre por despenhadeiros íngremes.

"Portanto, que se diz estar a vontade do homem natural sujeita ao jugo do Diabo, tanto que daí é acionada, não significa que ela seja constrangida à obediência, relutante e renitente, como, por direito de senhorio, obrigamos a escravos indispostos a obedecerem a nossas ordens; pelo contrário, fascinada pelas artimanhas de Satanás, mostra-se-lhe necessariamente obediente a todo ditame." (2.4.1, p.76)

O reformador entende que, embora chamemos certos males como obras do diabo, vários deles têm como raiz a própria vontade humana, cuja malícia fundamenta o reino do inimigo. Mas a questao que se levanta com isso é: como conciliar a decisão humana, com a manipulação diabólica e, para piorar, a soberania divina. Vemos Jó, por exemplo, associar as ações malignas dos caldeus a Deus, enquanto o narrador já havia citado a ação do diabo no caso. Calvino entende que há diferença por conta de dois fatores - o fim e o modo.

"O desígnio do Senhor é exercitar pela calamidade a paciência de seu servo; Satanás está empenhado em levá-lo ao desespero; os caldeus buscam, fora do direito e da ética, auferir ganho da coisa alheia. Tão grande diversidade nos intentos já distingue sobejamente a operação de cada um."(2.4.2, p.77)

"Não menos de diferença há no modo do agir. O Senhor permite a Satanás que seu servo seja afligido; concede e entrega, para que os caldeus sejam impelidos por ele, a quem escolheu por ministros para que executem isto. Satanás, por outro lado, com seus aguilhões envenenados, espicaça o espírito depravado dos caldeus para que perpetrem esta abominação; estes se arrojam furiosamente à injustiça e atrelam e contaminam nessa perversidade a todos os seus membros." (idem)

Calvino adverte que ele está tratando do caso específico da história de Jó. Mas mesmo assim, podemos identificar esse princípio universal quando pensarmos no governo do Senhor sobre o mundo. Teremos nossos corações tranquilizados e seremos cuidadosos em nossas decisões, a fim de sermos vasos de honra.

"Logo, vemos que não é absurdo atribuir o mesmo ato a Deus, a Satanás e ao homem; ao contrário, a diversidade no propósito e na maneira faz com que reluza aqui, sem culpa, a justiça de Deus; com seu opróbrio se manifeste a impiedade de Satanás e do homem." (idem)
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Agostinho estava certo [ 2.3.13-14 ]

Para dar força a seu argumento, Calvino usa a autoridade daquela que é sua maior influência, Santo Agostinho. Certamente, este é o nome mais citado nas Institutas, e o reformador usará as próximas duas seções para demonstrar que o ensino sobre a graça apresentado em sua obra é o mesmo do Bispo de Hipona. A estratégia não é procurar autoridade da tradição, mas demonstrar, por meio de um nome respeitado entre protestantes e católicos, que nada de novo foi ensinado até agora.

"A graça de persistir no bem fora dada a Adão, se ele a quisesse exercitar; a nós nos é dada para que queiramos, e através da vontade superemos a concupiscência. Portanto, teria ele tido o poder, se o quisesse, porém não teve o querer, para que pudesse; a nós nos é dado não só o querer, mas ainda o poder. A primeira liberdade foi de poder não pecar; a nossa é muito maior: não poder pecar." (Da Correção e da Graça, citado em 2.3.13, p.73)

A questão da graça operante e graça cooperante é também tratada por Agostinho. Para ele, todo o bem praticado por nós é fruto da ação divina sobre nossas vidas, de maneira que não há qualquer mérito humano ou capacidade que possa ser associada a homens e mulheres agindo por eles mesmos.

"A vontade dos fiéis é de tal maneira guiada pelo Espírito Santo, que podem agir bem porque assim o querem; e querem, porque Deus faz com que queiram [2Co 12.9]... Só a graça opera em nós toda boa obra" (citado em 2.3.13, p.73)

Calvino lembra que isso não significa que Agostinho (e, consequentemente, ele) acreditava que a vontade humana era suprimida pela graça de alguma forma, mas que ela continua, mas agora trasnformada. A objeção de que o amorou a fé só existem se nascem espontaneamente não se aplica aqui.

"O homem não é de tal maneira impulsionado, que seja impelido sem a disposição do coração, como se movido por uma força externa; ao contrário, é interiormente acionado, de tal forma que obedece de coração." (2.3.14, p.74)

Assim, com Agostinho, Calvino conclui o seguinte sobre a vontade humana:

"E assim, ao homem é deixado um livre-arbítrio tal, se assim se prefere chamá-lo, que escreve em outro lugar: que nem se pode converter a Deus, nem em Deus persistir, senão pela graça: tudo quanto pode, o pode pela graça." (2.3.14, p.7)
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Graça sempre operante [ 2.3.11-12 ]

Uma dos sintomas de não se creditar à graça de Deus toda boa vontade humana é a idéia de que ela continua subjugada aos desejos e aos méritos do homem. Isto é, após o homem ter feito bom uso da primeira graça, ele recebe como recompensa novas dádivas. Novamente a idéia semipelagiana de graça operante e cooperante entra no debate.

"Contudo, aqui se erra de duas maneiras, a saber: além de ensinarem que nossa gratidão é para com a primeira graça, e seu legítimo uso é remunerado por dons subseqüentes, ainda acrescentam que a graça já não opera em nós sozinha, ao contrário, ela é apenas cooperante."(2.3.11, p.71)

Isso não quer dizer que Calvino negue doutrinas bíblicas, e em particular, palavras de Jesus a respeito de seus servos. É evidente que a Bíblia fala que os servos que são sábios no uso de seus dons receberão graça sobre graça. Isso está fora de questão. O debate aqui diz respeito à de onde vem a sabedoria desses servos.

"Quanto melhor uso fizerem das graças precedentes, de tanto maiores bênçãos haverão de ser aumentadas a seguir. Todavia, afirmo que esse uso também procede do Senhor, e que esta recompensa provém de sua graciosa benevolência, e que usam perversamente, não menos que desgraçadamente, essa desgastada distinção de graça operante e graça cooperante. É verdade que Agostinho fez uso desta distinção, contudo atenuando-a com uma cômoda definição: Deus executa, cooperando, o que começa, operando; e é a mesma graça, porém muda o nome, conforme o diferente modo do efeito" (2.3.11, p.72)

Assim, para Calvino, existe uma distinção entre a graça trabalhando sozinha e a graça cooperando com nossa vontade. O que o diferencia dos outros teólogos é que mesmo essa vontade que está cooperando com a graça é fruto da obra do Espírito Santo em nós. Nossa vida com Deus é baseada no que ele chama de multiplicidade da graça. E isto concorda com as palavras de Paulo em 1Co 15.10: "Trabalhei mais do que todos estes, não eu, mas a graça de Deus comigo". O reformador entende esse texto da seguinte maneira:

"Ora, o Apóstolo não está escrevendo que a graça do Senhor havia operado com ele de modo a fazer dele co-participante do labor, senão que, antes, transfere todo o louvor da ação somente à graça, mediante esta correção: 'todavia não eu', diz ele, 'mas a graça de Deus que estava presente comigo'." (2.3.12, p.73)

Assim, Calvino nos ensina a reconhecer mesmo nossos atos bons como frutos da ação poderosa de Deus sobre nossa vida, e não como um apoio para a graça divina. Ele nos chama a, como Bernardo, dizer:

"Ó Deus, atrai-me como por força, para fazer o que eu quero; arrasta-me, que sou moroso, para que me faças correr." (Sermões sobre Cântico dos Cânticos, XXI; idem)
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