Calvino entende este mandamento como uma ordem que inclui aspectos positivos e negativos. Isto é, não apenas somos impedidos de assassinar, mas precisamos colocar-nos como responsáveis pelo bem-estar de cada pessoa.
"Visto que o Senhor vinculou o gênero humano como que por uma unidade precisa, a cada um deve ser delegada a preservação de todos. Em suma, é-nos, portanto, proibida toda violência e brutalidade, e, de um modo geral, toda e qualquer ação deletéria pela qual venha a sofrer dano o corpo do próximo. Conseqüentemente, inculca-se-nos aplicá-lo fielmente, se algo em nosso poder é de valia para proteger a vida do próximo, buscar o que lhe contribui para a tranqüilidade, sermos vigilantes em desviar dele as coisas prejudiciais, dar-lhe ajuda, caso esteja em alguma situação de perigo." (2.8.39, p.162)
Este mandamento também inclui emoções e pensamentos que envolvam o ódio contra alguém. Deus não é aquele que regula apenas os atos do corpo, mas o Legislador sobre toda a mente e todo coração, o que lhe dá autoridade sobre o que cultivamos interiormente a respeito dos outros.
"Por esta lei não só se proíbe o homicídio do coração, mas também se prescreve a disposição interior de conservar-se a vida de um irmão. A mão, de fato, perpetra o homicídio; concebe-o, porém, a mente, enquanto é impregnada pela ira e pelo ódio. Vê se te possas irar contra um irmão sem que ardas em desejo de ir à forra." (idem)
"Logo, não se furtou necessariamente ao crime de homicídio aquele que simplesmente se conteve do derramamento de sangue. Se em ato perpetras algo que seja contrário ao bem-estar de outrem, se em tentativa o tramas, se em desejo e intenção o concebes, és tido por culpado de homicídio. Ademais, a não ser que, na medida de tua capacidade e oportunidade, te esforces por protegê-lo, estás também a transgredir a lei com esta desumanidade." (2.8.40, p.163)
As razões para que não deixemos nosso coração ser tomados de sentimentos mortais são duas principais para o reformador: como seres humanos, portamos a imagem de Deus em nós, e estamos todos vinculados por sermos da mesma natureza.
"A Escritura assinala dupla razão em que se assenta este mandamento: que o ser humano é não só a imagem de Deus, mas ainda nossa própria carne. Por isso, a não ser que apraza profanar a imagem de Deus, devemos considerá-lo sacrossanto; e a não ser que apraza despojar-nos de toda humanidade, devemos tratá-lo como nossa própria carne." (idem)
Com essas verdades expostas, é importante que policiemos constantemente nossos sentimentos em relação aos outros, a fim de que não assassinemos pessoas em nossas mentes. Deus nos dê um espírito manso.
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