O primeiro mandamento inicia-se com a apresentação de quem é o Legislador. Para alguns estudiosos, isso funciona como todo pacto suserano-servo, existe uma clásula apresentando o governante, seus distintivos e o relacionamento histórico. Calvino entende como uma argumentação que confere maior autoridade à Lei, caso o povo tente esquecer quem a outorgou.
"A si reivindica o poder e o direito de soberania a fim de que constrinja o povo eleito pela necessidade de obedecer-lhe. Exara a promessa de graça, mercê de cuja doçura alicie o mesmo ao zelo de santidade. Traz à lembrança o benefício conferido, para que acuse aos judeus de ingratidão, caso não lhe respondam à benignidade." (2.8.13, p.140)
Um resumo das palavras de Deus seriam, para Calvino, “eu vos escolhi para mim por povo, a quem houvesse de beneficiar não apenas na presente vida, mas ainda houvesse de prodigalizar a bem-aventurança da vida futura” (2.8.14, p.140). A afirmação de ser o Senhor lembra que ele é soberano e a "teu Deus" frisa o amor divino e a verdade da eleição. A lembrança da libertação do Egito enche o coração do desejo de agradecer-lhe por meio da obediência.
"Tão logo o nome de Deus é referido, nossa mente não pode deixar de cair em alguma vã invenção. Portanto, visto que Deus quer propiciar remédio a este mal, adorna ele sua divindade de títulos seguros, e dessa forma nos cerca como que de determinadas cercas, para que não vaguemos para cá ou para lá, e desatinadamente inventemos para nós algum Deus novo, se deixado de parte o Deus vivo suscitemos um ídolo em seu lugar."(2.8.15, p.141)
Essa lembrança da libertação realizada por Deus não apenas servia para que os israelistas fossem levados à submissão, mas também nos lembra que fomos libertos do poder do mal por este mesmo Senhor. Que nos lembremos dessa verdade diante de tentações.
"Não deve haver homem algum, cujo coração não se sinta inflamado ao atentar para a lei, promulgada por aquele que é Rei de reis e supremo Monarca, de quem todas as coisas procedem, e para as quais justamente devem ordenar-se e dirigir-se a seu fim. Ninguém, afirmo, há que não deva ser arrebatado a abraçar o Legislador, à observância de cujos mandamentos é ensinado ter sido escolhido de modo especial; de cuja bondade espera não somente a abundância de todas as coisas boas, mas ainda a glória de uma vida imorta1; de cujo admirável poder e misericórdia se sabe muito bem ser libertado das fauces da morte." (2.8.15, p.141s)
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