Sobre cada mandamento, Calvino tem muito a dizer. Por isso, parece-nos necessário dedicar apenas um post à seção em que ele explica o primeiro preceito do Decálogo. Diz-nos o Senhor que não podemos dar a outro aquilo que só a ele pertence.
"O fim deste mandamento é que Deus quer ser o único a ter a preeminência em seu povo e nele exercer seu direito em plena medida... não podemos ter Deus sem que, ao mesmo tempo, abracemos as coisas que lhe são próprias. " (2.8.16, p.142)
Por trás de uma ordem simples, o reformador encontra os mais diversos princípios. Aqui, por exemplo, encontramos importantes coisas que devemos dedicar apenas a Deus. Calvino lista 4 delas: adoração, confiança, invocação e ação de graças.
"Chamo adoração a veneração e o culto que qualquer um de nós lhe rende, quando se lhe submete à grandeza. Por isso, não improcedentemente, incluo à adoração a submissão de nossa consciência à sua lei. Confiança é a segurança de nele descansar, em virtude do reconhecimento de seus predicados, quando, atribuindo-lhe toda sabedoria, justiça, poder, verdade, bondade, reconhecemos que somos bemaventurados somente em sua comunhão. Invocação é o recurso de nossa mente à sua fidelidade e assistência, como ao sustentáculo único, sempre que alguma necessidade insiste. Ação de graças é a gratidão com que se lhe atribui o louvor de todo bem." (idem)
Tudo isso deve ser entregue somente a Deus e mais ninguém. Note a importância que Calvino dá ao cumprimento da Lei do Senhor como forma de adoração, algo tão esquecido hoje em dia. É preciso que sempre examinemos nossas mentes se quisermos ser verdadeiros adoradores. Um homem que confia em sua força, que agradece ao dinheiro, depende só do Estado ou é motivado pela aprovação da sociedade pode estar erigindo falsos deuses. Estamos sempre diante do Senhor, algo que Calvino chama atenção com a ilustração do matrimônio.
"A frase que segue, diante de minha face, intensifica a indignidade, pela qual Deus é provocado ao ciúme sempre que em seu lugar pomos nossas invenções, tal como se uma esposa despudorada, trazido escancaradamente o amante diante dos olhos do marido, mais lhe incendesse o ânimo... não se podem admitir novas deidades sem que seja ele testemunha e observador de seu sacrilégio. Mas, a esta petulância acrescenta-se o máximo de impiedade, a saber, que, em seus desvios, o homem julga poder burlar os olhos de Deus." (2.8.16, p.143)
Que nossos corações entreguem somente ao Senhor aquilo que é dele. Que ele seja nossa motivação, nosso porto seguro, nosso braço forte. Por fim, que não sejamos ingratos.
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