Como foi dito, Calvino agora trata da questão do castigo sobre as gerações no segundo mandamento. Para o reformador, a promessa de castigar filhos pelos pecados dos pais não combina com a justiça divina, como nos ensina Ezequiel 18.20, por exemplo. No entanto, o mandamento faz essa afirmação estranha e devemos tratar dela.
"A justa maldição do Senhor pesa não apenas sobre a cabeça do ímpio, mas também sobre toda sua família. Onde esta maldição pesou, que se pode esperar, senão que o pai, destituído do Espírito de Deus, vive mui abominavelmente, e o filho, semelhantemente abandonado pelo Senhor por causa da iniqüidade do pai, segue o mesmo caminho de perdição? Finalmente, o neto e o bisneto, execrável semente de homens abomináveis, após eles se lancem em precipícios?" (2.8.19, p.146)
No entanto, o reformador entende que, mesmo nessa situação, Deus sobressai-se como justo. Se os filhos caem nos mesmos pecados dos pais, é porque eles também se desviaram do Senhor. Deus, de forma justa, retirou sua mão graciosa de suas vidas, mantendo-se santo, a despeito dessa punição. De qualquer maneira, o Senhor não tem obrigação de salvar qualquer homem.
"Perecem por sua própria iniqüidade, não por ódio iníquo de Deus. Nem lhes é deixada qualquer desculpa por que à salvação não são ajudados pela graça de Deus a exemplo de outros. Portanto, uma vez que esta punição é aplicada aos ímpios e depravados em vista de suas abominações, assim que suas casas sejam privadas da graça de Deus por muitas gerações, quem haja de intentar incriminação a Deus por causa desta justíssima represália?" (2.8.20, p.146)
Ainda assim, Calvino entende que é possível, em certo sentido, que a descendência leve a culpa do pai. Porém, isso acontece somente quando, em sua impenitência, os filhos insistem em seguir o caminho de seus precursores, mantendo sobre si o quer seriam "maldições" da família, embora eles mesmos também as mereçam.
"Se a visitação da qual agora se fala é aplicada quando o Senhor retira da família dos ímpios a graça, luz de sua verdade e os auxílios restantes para salvação, é porque, cegados e afastados d'Ele, os filhos insistem em seguir as pegadas dos pais, sustentando as maldições dos crimes paternos. Sendo prontamente subjugados, por um justo juízo de Deus, tanto às misérias temporais quanto à ruína eterna, não são punidos pelos pecados alheios, mas pela própria iniquidade." (2.8.20, p.366s, edição da UNESP)
Vemos, portanto, que o ensino de Calvino sobre esta cláusula do segundo mandamento é muito mais satisfatório que as idéias propostas principalmente por líderes neopentecostais. Deus não é injusto e fará sofrer alguém alcançado pela sua graça. Somente famílias que perpetuam a impiedade receberão continuamente a punição divina.
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