"Ao expor a síntese desses elementos que se requerem no verdadeiro conhecimento de Deus, ensinamos que, em razão de sua magnitude, não pode ele ser de nós concebido sem que imediatamente nos vemos diante de sua majestade, a qual nos impele à adoração. Na parte referente ao conhecimento de nós mesmos, estabelecemos este ponto capital: que, vazios da presunção de virtude própria e despidos da confiança de justiça pessoal, pelo contrário quebrantados e esmagados pela consciência de nossa indigência, aprendamos a genuína humildade e reconhecimento de nossa insuficiência."(2.8.1, p.129)
Adoração e humildade - isto a Lei traz àquele que medita nela dia e noite. Este conhecimento não nos é estranho por natureza. Calvino afirma que em nosso interior já temos gravado o que se deve aprender da Lei. Entretanto, devido a pecado não é mais algo confiável, o que pede uma lei escrita.
"Por isso, porquanto era necessário, tanto a nosso embotamento quanto a nossa contumácia, proveu-nos o Senhor a lei escrita para que não só atestasse com certeza maior o que era demasiadamente obscuro na lei natural, mas também, sacudido o torpor, a mente e a memória nos ferissem com mais intensa vividez." (2.8.1, p.130)
A Lei, como já dissemos, é a pura expressão da vontade do Criador. Não devemos menosprezá-la e considerar seus mandamentos em baixa conta. Negá-los seria negar o próprio Deus. Aqueles que pensam adorar ao Senhor, mas ignoram seus mandamentos demonstram apenas hipocrisia e palavras vazias.
"Deus, uma vez que é nosso Criador, tem portanto por direito, em relação a nós como Pai e Senhor, e por esta razão de nós se lhe devem glória, reverência, amor, temor... Pendentes de seu arbítrio, devemos firmarnos somente naquilo que lhe seja do agrado... Ora, se então, afinal, lhe exibirmos a reverência que de nós se demanda, quando preferirmos sua vontade à nossa, segue-se que outro não lhe é o culto genuíno, senão a observância da justiça, da santidade, da pureza." (2.8.2, p.130)
Embora a Lei se mostre superior à nossa capacidade de cumpri-la, não podemos reclamar inocência. Para o reformador, dizer que é impossível alcançar os padrões de Deus é condenar-se por dizer que o mal está em nós, e não em Deus. Não podemos diminuir a glória de Deus por causa de nossa fraqueza. Só nos resta pedir por misericórdia, que certamente virá.
"Pois não é defensável que meçamos a glória de Deus pela medida de nossa capacidade, porquanto, seja o que de fato somos, Aquele permanece sempre semelhante a si mesmo, amigo da justiça, imune à iniqüidade. Tudo quanto de nós exija, visto que ele não pode exigir senão o que é reto, a necessidade permanece de obedecermos por obrigação de natureza." (idem)
"Um e outro sentimento geram humildade e depreciação própria, de sorte que, ao fim, acontece que o homem, completamente aterrorizado pelo senso da morte eterna, a qual vê a ameaçá-lo como castigo de sua carência de retidão, se volve exclusivamente à misericórdia de Deus como ao único porto de salvação, e assim, sentindo que não é de sua capacidade saldar o que deve à lei, tomado de desespero em seu íntimo, cobre alento para buscar e esperar socorro de outra parte." (2.8.3, p.131)
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