"A jurisdição do legislador mortal não se estende senão à conduta externa, não se lhe violam as ordenanças senão mediante crimes consumados... Ora, uma vez que ele é um legislador espiritual, fala à alma não menos que ao corpo. Mas, o assassínio da alma é a ira e o ódio; o furto, a cobiça má e a avareza; a fornicação, a concupiscência." (2.8.6, p.134)
A Lei de Deus, como já dissemos, é a expressão do caráter do Senhor Jesus. Assim, seus seguidores não podem se enganar, limitando sua piedade a apenas o cumprimento de normas vazias. Antes, todo o coração deve estar cheio do Espírito. Não podemos ser hipócritas como aqueles que pensam não ter as mentes sondadas pelo Santo Juíz.
"Ouvem: 'Não matarás; não adulterarás; não furtarás.' Não desembainham a espada para matança; não ajuntam seus corpos às meretrizes; não lançam as mãos aos bens alheios. Tudo isso está bem até aqui. Mas, de toda a alma, respiram mortes, abrasam-se de volúpia; olham de esguelha para os bens de todos e os devoram de cobiça. Já está, na verdade, ausente o que era o ponto principal da lei." (idem)
A Lei exige pureza tanto nos atos como na mente, na alma, na vontade. Isto não é uma doutrina de Calvino, mas algo ensinado pelo próprio Cristo. Se observarmos parte do seu discurso no Sermão do Monte (Mt 5-7), veremos o Salvador corrigindo a hipocrisia dos fariseus.
"Estamos seguindo a Cristo, o melhor intérprete da lei. Como, pois, os fariseus imbuíram o povo de pervertida opinião, isto é, que cumpria cabalmente a lei quem, por ato externo, nada tivesse praticado contra a lei, Cristo condena este perigosíssimo erro e declara que é adultério a mera olhadela impudica para a mulher [Mt 5.28]." (2.8.7, p.134)
Calvino, por fim, corrige alguma possível falha de entendimento. Jesus não veio superar a antiga Lei, mas colocar aqueles que dizem praticá-la nos eixos novamente. Os fiéis que seguiam à Lei no Antigo Testamento não seguiam uma versão inferior dos mandamentos. Pelo contrário, eles entenderam o que eles significavam e os colocaram em prática. Que sejamos como esses exemplos.
"Esse popularizado axioma acerca da perfeição da lei do evangelho: que ela supera, por ampla distância, a antiga lei, o que, de muitos modos, é assaz pemicioso. Ora, do próprio Moisés, quando mais adiante coligirmos a suma de seus preceitos, evidenciar-se-á de quão indigna afronta esta maneira de ver tisna a lei divina. Insinua ela que a santidade dos patriarcas, na verdade, não se distanciou muito da hipocrisia e nos afasta daquela única e perpétua norma de justiça." (2.8.7, p.135)
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