"A observância dos mandamentos não é o amor por nós mesmos, mas o amor por Deus e pelo próximo, e que vive de maneira a mais nobre e a mais santa aquele que vive e luta por si o mínimo possível, e que ninguém, de fato, vive mais indignamente, nem mais iniquamente, que aquele que vive e luta apenas por si e cogita e busca somente o que lhe é do interesse. E, além disso, para que mais expressasse o Senhor com quão grande propensão nos importa aferrar-nos ao amor do próximo, reportou-se ele ao amor por nós mesmos como a seu parâmetro, visto que não tinha nenhum afeto mais veemente e mais forte pelo qual expressá-lo. " (2.8.54, p.175)
Mesmo em nossa natureza caída guardamos afetos em relação ao nosso ser, e o próximo deve receber esta mesma afeição. Ao invés de nos dedicarmos apenas a nós mesmos, temos aqui a ordem para dedicar-se aos outros.
"Em razão da depravação natural, costumava em nós residir o afeto do amor para conosco próprios, deve-se ele agora estender a outrem, de sorte que estejamos preparados para, com não menor alegria, ardor, solicitude, fazer o bem antes ao próximo que a nós mesmos." (2.8.54, p.176)
Mas quem seria o próximo? A parábola do bom samaritano nos ensina que são todos aqueles, sem exceção. Calvino entende que, é evidente, nos dedicaremos aos mais próximos de nós em especial. Mas isso não exclui nossa obrigação com todos.
"Afirmo, porém, que se deve abraçar com um só afeto de caridade a todo gênero humano, sem qualquer exceção, porquanto aqui não há nenhuma distinção de bárbaro ou grego, de digno ou indigno, de amigo ou inimigo, visto que devem ser considerados em Deus, não em si mesmos, consideração esta da qual, quando nos desviamos, não surpreende que nos emaranhemos em muitos erros." (2.8.55, p.176)
A idéia de que eles devem ser "considerados em Deus" é a base para colocarmos o mandamento de amar a todos como a nós mesmos em prática. O Senhor é aquele que nos diz para amar. Não devemos colocar nossos sentimentos pessoais acima do nosso amor pelo Criador, e nem de sua autoridade.
"Conseqüentemente, se apraz manter a verdadeira linha do amar, devem-se voltar os olhos, em primeiro plano, não para o homem, cuja visão mais freqüentemente engendraria ódio que amor, mas para Deus, que manda que o amor que lhe deferimos seja difundido em relação a todos os seres humanos, de sorte que seja este o perpétuo fundamento: seja quem for o homem, deve ele, no entanto, ser amado, já que Deus é amado." (idem)
Que não fujamos desse mandamento com desculpas de qualquer tipo, mas que sejamos graciosos como o próprio Senhor é.
Postar um comentário