Novamente, o mestre francês mira nas idéias inovadoras dos escolásticos. Dessa vez, Calvino critica a noção errônea entre pecados mortais e veniais. Entenda-se pecado venial como "um desejo pecaminoso sem assentimento deliberado, que viceja no coração não por tempo demorado" (Tomás de Aquino, citado em 2.8.58, p.159). Isto é, teríamos um tipo de mal que não seria tão grave ofensa contra Deus quantos os pecados "comuns". No entanto, o reformador explica que tanto esse desejo quanto a ação vêm do mesmo lugar."Eu, porém, digo que certamente não se pode suscitar tal desejo, a não ser em virtude da falta dessas coisas que se requerem na lei... Donde provêm esses impulsos, ainda que lânguidos, senão porque há algo vazio na alma para dar acolhida a tentações desta natureza?" (idem)
Quando Deus nos ordena que amemos com todo nosso ser, está claro que toda a alma deve estar voltada a ele, sem exceção para desejos malignos rápidos. Além disso, o décimo mandamento justamente nos proibe de ter pensamentos maus, significando que isto é algo tão pecaminoso quanto a própria ação consumada.
"O preceito é sobre amar a Deus de todo o coração, de toda a mente, de toda a alma. Portanto, a não ser que para o amor de Deus se voltem todos os poderes da alma, já é alienamento da obediência da lei, porquanto os inimigos que aí se insurgem contra seu reino, e lhe obstam os decretos, provam não estar bem firmado em nossa consciência o trono a Deus... Sobre a transgressão da lei sempre se descarrega a maldição de Deus. Portanto, não há por que eximamos da sentença de morte a qualquer cobiça, ainda as mais leves." (idem)
A idéia de pecados menos terríveis parece mais agradável por nos deixar a consciência mais tranquila. No entanto, não é isto que ensina a Palavra. Se Deus é aquele que ordena, como poderia um desacato a sua autoridade ser menos que mortal?
"Com efeito, deveriam considerar não só o que se ordena, mas também quem é que o ordena, visto que nela a mínima transgressão da lei que ele estabeleceu é ferida sua autoridade. Porventura lhes é de pouca importância que a majestade de Deus seja violada em qualquer coisa? Ademais, se na lei expôs Deus sua vontade, desagrada-lhe tudo quanto é contrário à lei." (2.8.59, p.180)
Por outro lado, felizmente, em relação aos que estão debaixo da graça de Cristo nenhum pecado mais é mortal. Fomos cobertos pelo sangue de Cristo, ele levou sobre si a morte que seria nossa. Que louvemos ao Senhor por tanto amor.
"Quanto aos pecados que os santos e os fiéis cometem, saibam que são veniais, não por sua natureza, mas porque pela misericórdia de Deus são perdoados." (idem)
























