"Eu, porém, digo que certamente não se pode suscitar tal desejo, a não ser em virtude da falta dessas coisas que se requerem na lei... Donde provêm esses impulsos, ainda que lânguidos, senão porque há algo vazio na alma para dar acolhida a tentações desta natureza?" (idem)
Quando Deus nos ordena que amemos com todo nosso ser, está claro que toda a alma deve estar voltada a ele, sem exceção para desejos malignos rápidos. Além disso, o décimo mandamento justamente nos proibe de ter pensamentos maus, significando que isto é algo tão pecaminoso quanto a própria ação consumada.
"O preceito é sobre amar a Deus de todo o coração, de toda a mente, de toda a alma. Portanto, a não ser que para o amor de Deus se voltem todos os poderes da alma, já é alienamento da obediência da lei, porquanto os inimigos que aí se insurgem contra seu reino, e lhe obstam os decretos, provam não estar bem firmado em nossa consciência o trono a Deus... Sobre a transgressão da lei sempre se descarrega a maldição de Deus. Portanto, não há por que eximamos da sentença de morte a qualquer cobiça, ainda as mais leves." (idem)
A idéia de pecados menos terríveis parece mais agradável por nos deixar a consciência mais tranquila. No entanto, não é isto que ensina a Palavra. Se Deus é aquele que ordena, como poderia um desacato a sua autoridade ser menos que mortal?
"Com efeito, deveriam considerar não só o que se ordena, mas também quem é que o ordena, visto que nela a mínima transgressão da lei que ele estabeleceu é ferida sua autoridade. Porventura lhes é de pouca importância que a majestade de Deus seja violada em qualquer coisa? Ademais, se na lei expôs Deus sua vontade, desagrada-lhe tudo quanto é contrário à lei." (2.8.59, p.180)
Por outro lado, felizmente, em relação aos que estão debaixo da graça de Cristo nenhum pecado mais é mortal. Fomos cobertos pelo sangue de Cristo, ele levou sobre si a morte que seria nossa. Que louvemos ao Senhor por tanto amor.
"Quanto aos pecados que os santos e os fiéis cometem, saibam que são veniais, não por sua natureza, mas porque pela misericórdia de Deus são perdoados." (idem)