"Na natureza pervertida e degenerada do homem ainda brilham centelhas que mostram ser ele um animal racional e diferir dos brutos, porquanto foi dotado de inteligência, e todavia esta luz é sufocada por mui densa ignorância, de sorte a não poder defluir eficientemente. Assim, a vontade, porque é inseparável da natureza do homem, não pereceu, mas foi cingida" (2.2.12, p.40)
Calvino vê também que há algo no ser humano que o diferencia de todas as outras criaturas - a busca e o interesse pela verdade. Se a mente do homem tivesse sido totalmente destruída essa inclinação humana não aconteceria mais. A busca pela resposta às suas perguntas, ainda que falha, é uma marca da humanidade.
"Ora, vemos que é inerente na mente humana não sei que desejo de buscar a verdade, à qual de modo algum aspiraria, a não ser que lhe fosse anteriormente sentido algum odor. Portanto, que o homem é por natureza arrebatado pelo amor da verdade, cujo menosprezo nos animais brutos lhes argúi crasso senso, sem racionalidade, é já esta alguma perspiciência do intelecto humano; não obstante, esta predisposição, seja qual for sua natureza, desfalece antes que adentre o estádio de sua corrida, porquanto cede logo à vacuidade." (idem)
É claro que o pecado afeta a mente humana, assim como afetou a vontade. Calvino fala corretamente do costume dos homens de "investigar coisas de todo vazias e irrelevantes". No entanto, como veremos nas próximas seções, ele reconhece também o valor da inteligência humana, nas mais diversas esferas - sociedade civil, artes, ciência, entre outras. Que nos unamos ao reformador em gratidão por tantos dons divinos.
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