"'Gemem todas as criaturas', diz Paulo, 'não por sua própria vontade, sujeitas à corrupção' [Rm 8.20, 22]. Caso se busque a causa disso, não há dúvida de que estão a sofrer parte daquele castigo que o homem mereceu, para cujo proveito elas foram criadas. Portanto, quando, de alto a baixo, por sua culpa atraiu a maldição que grassa por todos os recantos do mundo, nada há de ilógico se ela foi propagada a toda sua descendência." (2.1.5, p.20)
Chesterton já disse que o pecado é a doutrina cristã que podemos mais efetivamente demonstrar. De fato, essa "corrupção hereditária" (idem) é inata a todos os seres humanos, como filhos dos primeiros seres humanos. Assim, não se sustenta a opinião de Pelágio, de que somos pecadores por imitação e não por uma deformação em nossa natureza.
"Naturalmente, com esta artimanha de encobrir a enfermidade, Satanás tentou torná-la incurável. Como, porém, pelo claro testemunho da Escritura se mostrasse que o pecado foi transmitido do primeiro homem a toda a posteridade [Rm 5.12], sofismavam haver-se transmitido por imitação, não por geração."(idem)
No entanto, a Bíblia não nos permite tirar essa conclusão - de que o homem nasce puro, para depois "aprender" o que é o pecado. Além do já citado texto de Romanos 5.12, Calvino nos apresenta mais algumas provas, como veremos adiante.
"Por certo que não é ambíguo o que Davi confessa, a saber, ter sido gerado em iniqüidades e de sua mãe concebido em pecado [Sl 51.5]. Não está ele aí a censurar as faltas do pai ou da mãe; antes, para que melhor enalteça a bondade de Deus para consigo, faz remontar a confissão de sua iniqüidade à própria concepção." (idem)
"Portanto, todos que descendemos de uma semente impura, nascemos infeccionados pelo contágio do pecado. Na verdade, antes que contemplemos esta luz da vida, à vista de Deus já estamos manchados e poluídos. Pois, “quem do imundo tirará o puro?” Certamente, como está no livro de Jó [14.4], ninguém!" (idem)
Negar a corrupção humana é uma das heresias que mais atacam a igreja. Ao minimizar os efeitos da queda em nós, corrermos o risco de não encarar de frente o problema da humanidade. Corremos o risco de desvalorizar a obra de Cristo e a graça de Deus. O Senhor nos livre desse erro trágico.
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