"Enfim, nos benefícios recebidos reverenciará e louvará a Deus como seu principal autor, porém honrará aos homens como seus ministros e, como é de fato, compreenderá haver sido ligado pela vontade de Deus àqueles por cuja mão ele quis ser-lhes benévolo... Daí também não cessará de tomar conselhos, nem haverá de ser lerdo em implorar a assistência daqueles a quem perceberá disporem de meios donde haja de ser ajudado. Ao contrário, considerando que à mão se lhe oferecem da parte do Senhor todas e quaisquer criaturas que lhe podem prover algo, as porá para o uso como instrumentos legítimos da providência divina." (1.17.9, p.215s)
Além disso, o homem piedoso também não culpará Deus pelos seus próprios erros ou imprudência, mas aceitará o infortúnio como fruto de seu vacilo. Devemos dar o nosso melhor, mas lembrando-nos sempre que existe um Criador que tudo governa. O reformador utiliza o ótimo exemplo de Joabe para exemplificar essa atitude.
"Assim é que Joabe, ainda que reconheça que o resultado da batalha está no arbítrio e mão de Deus, contudo não se entrega à inércia, mas executa diligentemente o que lhe é da alçada; deixa, porém, ao Senhor a direção do resultado: “Erguernos- emos firmes”, diz ele, “por nosso povo e pelas cidades de nosso Deus; o Senhor, porém, faça o que é bom a seus olhos” [2Sm 10.12]." (idem)
Calvino também reconhece que, debaixo de tantos periogos que envolvem nosso cotidiano, a condição humana muitas vezes é triste e lamentável. Depois de uma lista de inúmeros problemas que podem nos ocorrer, ele conclui.
"Em meio a estas dificuldades, porventura não deve o homem sentir-se em extremo miserável, como quem na vida apenas semivivo sustenta debilmente o sôfrego e lânguido alento, não menos que se tivesse uma espada perpetuamente a pender-lhe sobre o pescoço?" (1.17.10, p.217)
No entanto, ele chega à conclusão de que existe algo pior que todo o tipo de maldição conhecida. E é essa que devemos primeiramente evitar.
"Enfim, para que aqui não me demore por mais tempo, se prestares atenção perceberás facilmente que o extremo de todas as misérias é o desconhecimento da providência, e que a suprema bem-aventurança está posta em seu reconhecimento." (1.17.11, p.219)
Que possamos usar essa doutrina tão bendita como algo que nos faça crescer em graça, e não como um motivo para indolência. Amém.
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