"Diz ele: 'Teus olhos viram aqueles sinais e portentos ingentes, e o Senhor não te deu coração para entender, nem ouvidos para ouvir, nem olhos para ver' [Dt 29.3, 4]. Que mais precisaria dizer, se no que tange à consideração das obras de Deus, nos chamou de broncos?" (2.2.20, p.47)
Em seguida o próprio Cristo deixa patente nossa bancarrota espiritual - termo usado por Lloyd-Jones.
"Cristo, por sua palavra, também confirmou isto claramente, quando dizia que ninguém podia vir a ele, a não ser aquele a quem fosse dado por seu Pai [Jo 6.44]... Portanto, ele não pôde mostrar de forma mais clara qual é nossa capacidade para conhecermos a Deus, do que quando nega que tenhamos olhos para contemplar-lhe a imagem mesmo onde tão claramente ela se exibe." (idem)
Nas palavras de Calvino, é necessário que o Espírito forme ouvidos novos em cada homem, a fim de que eles possam ouvir o Evangelho. Aliás, as figuras usadas pela Bíblia são das mais variadas. Uma das mais comuns é a comparação da regeneração com o fim da cegueira. Isso é explicitado em especial no texto de Efésios que também é exposto pelo reformador.
"Dessa forma, o que aqui detrai aos homens, só a Deus, em oração, atribui em outro lugar: 'O Deus', diz ele, 'e Pai da glória vos dê o Espírito de sabedoria e de revelação' [Ef 1.17]. Ouves já nessas palavras que toda sabedoria e revelação é dom de Deus. Então, o que diz ele em seguida a isso? 'Iluminados os olhos de vossa mente' [Ef 1.181]. Certamente, se carecem de nova revelação, é que por si mesmos são cegos. Segue-se, então: 'Para que saibais qual seja a esperança de vossa vocação' [Ef 1.18], etc. Logo, confessa que as mentes dos homens não são capazes de tão grande entendimento, ao ponto de conhecerem sua vocação." (2.2.21, p.48)
Essa doutrina, como já dissemos mais de uma vez, não é meramente uma depreciação da humanidade, mas parte do remédio necessário para a salvação do homem. Somente ao nos reconhecermos necessitados de Deus iremos ao seu encalço. Lembremo-nos sempre que Deus favorece o humilde, mas rejeita os orgulhosos.
"Se o que buscamos de Deus, confessamos assim faltar-nos, e ele próprio acusa nossa indigência naquilo que promete, que ninguém vacile em confessar que só será capaz de entender os mistérios de Deus quando tiver sido iluminado por sua graça. Quem mais entendimento se atribui, tanto mais cego e menos reconhece sua cegueira." (2.2.21, p.49)
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