"Isto nos cabe realmente sustentar: enquanto por instrumentalidade dos ímpios Deus leva a bom termo o que decretou em seu juízo secreto, não são eles escusáveis, como se estivessem obedecendo a seu preceito, o qual deliberadamente violam em sua desregrada cupidez." (1.18.4, p.229)
Novamente Calvino usa do auxílio de Agostinho para defender essa doutrina que ele já expôs por bastante tempo. Chama atenção essa boa influência na vida do reformador, ainda que ele rejeite aquilo que discorda do bispo de Hipona. O argumento é o que já dissemos no estudo anterior - Deus e o homem diferem em seus objetivos para um mesmo ato.
"Uma vez que o Pai haja entregado o Filho, e Cristo seu corpo, e Judas o Senhor, por que nesta entrega Deus é justo e o homem réu, senão porque, em um e o mesmo ato que praticaram, a causa em função da qual o praticaram não é uma e única?" (Agostinho, Epístola XLVIII (93), a Vicente, capítulo 7, citado em 1.18.4, p.230)
A respeito do controle de Deus sobre a morte de seu próprio Filho, o reformador tem a dizer o mesmo que Santo Agostinho. Por fim, conclui - as intenções dos ímpios acabam os condenando, por mais que sejam eles instrumentos da bondade de Deus. Ninguém pratica o mal por ordem do Senhor.
"Certamente que, na traição de Judas, atribuir a Deus a culpa do ato nefando, visto que ele próprio não só quis que o Filho fosse entregue, como inclusive o entregou à morte, em nada será mais lícito que transferir a Judas o louvor da redenção... neste exame Deus não indaga o que os homens têm podido, ou o que têm feito, porém o que têm querido, de sorte que o que se leva em conta é o propósito e a vontade." (1.18.4, p.231)
Conclusão do Livro 1
Aprendemos muitas coisas nesse ensino piedoso que Calvino nos traz. Dessas, destaco algumas que devemos manter conosco ao fechar esse tomo das Institutas: que o conhecimento de Deus é necessário para nossa felicidade, que a Escritura é a fonte primordial desse conhecimento vivo e dinâmico, e que o Criador também controla tudo por meio de seu poder e sabedoria. Que estejamos dispostos a sorver cada vez mais da Palavra de Deus.
"Ora, nosso saber não deve ser outra coisa senão abraçar com branda docilidade, e certamente sem restrição, tudo quanto foi ensinado nas Sagradas Escrituras." (idem)
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