"As imagens, dizem eles, não são consideradas como seres divinos. Nem tão absurdamente obtusos eram os judeus, que não se lembrassem de que fora Deus quem por cuja mão tinham sido conduzidos para fora do Egito, antes de haverem forjado o bezerro... Já aqueles que, em por seu próprio dizer, eram de uma religião mais refinada, afirmavam que não adoravam nem a imagem, nem a potestade aí figurada, mas, mediante a representação material, visualizavam um sinal dessa entidade que deveriam cultuar." (1.11.9, p.109)
A advertência de Calvino nos lembra uma líder evangélica, que disse ter sentido, certa vez, a estátua de um leão ministrar em sua vida. Provavelmente ela apenas se expressou mal, mas ainda assim fica o alerta. É claro que belas imagens (como a própria Criação, por exemplo) podem nos levar à adoração, mas existe uma diferença entre dizer que algo leva à adoração e algo "ministra" em sua vida. Veremos adiante que Calvino não é contra a arte, mas ao mau uso dessa arte pelos fiéis papistas, com a desculpa de saberem que as estátuas não são deuses.
"Ninguém ora ou adora com os olhos assim postos em uma imagem que não seja afetado a tal ponto que não pense ser por ela ouvido ou não espere que dela lhe seja concedido aquilo que deseja... 'Não as chamamos', dizem eles, 'de nossos deuses'. Nem outrora aqueles as chamavam deuses, quer judeus, quer gentios. E no entanto os profetas não cessavam de reiteradamente condenar-lhes as fornicações com a madeira e a pedra, por apenas estas coisas que são diariamente praticadas por aqueles que desejam ser havidos por cristãos, isto é, que veneravam a Deus carnalmente na madeira e na pedra." (1.11.10, p.110)
O reformador também combate a falsa distinção Latria (adoração à imagem) e Dulia (serviço à imagem), "como se na verdade adorar não fosse em nada mais atenuado que servir" (1.11.11, p.111). De fato, os apóstolos sempre se apresentam como servos (doulos) de Cristo, demonstrando que há apenas um Senhor. Por isso, a dura acusação de Calvino procede.
"O que dizem equivale exatamente a uma confissão de que cultuam suas imagens, porém sem dar-lhes culto!... Ora, um adúltero ou um homicida não se livrará da incriminação, se com dissimulação sutilmente inventar outro nome para o seu crime." (idem)
Que tenhamos cuidado em nossas práticas e costumes durante a adoração.
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