Para alguns, é possível chegar-se a um conhecimento verdadeiro do Criador apenas por meio do estudo e contemplação da Criação - podemos aprender sobre sua sabedoria, sobre sua bondade, etc. Para outros, esse conhecimento é possível, porém devido à semente divina colocada na mente do homem. Sem ela, o homem contemplaria as coisas, mas jamais poderia chegar ao conceito de Deus. Existe ainda um grupo de estudiosos que acreditam que esse conhecimento adquirido por meio da observação da natureza pode levar alguém a ser salvo.
"Não só implantou Deus na mente humana essa semente de religião a que nos temos referido, mas ainda de tal modo se revelou em toda a obra da criação do mundo, e cada dia nitidamente se manifesta, que eles não podem abrir os olhos sem serem forçados a contemplá-lo." (1.5.1, p.55)
Para Calvino, a semente divina é complementada pela manifestação da sabedoria e poder divinos na Criação. Porém, como já foi dito antes, este conhecimento não leva ninguém ao arrependimento e à salvação, mas deixa os homens indesculpáveis diante de Deus.
"Em primeiro lugar, para todo e qualquer rumo a que dirijas os olhos, nenhum recanto há do mundo, por mínimo que seja, em que não se vejam brilhar ao menos algumas centelhas de sua glória." (1.5.1, p.55)
A expressão calvinista de que a Criação é o "formosíssimo teatro" da glória de Deus (1.14.20, p.175) é conhecida nos diversos ramos do Cristianismo. Pela internet encontramos pentecostais e católicos citando isso, mesmo sem saber seu autor. Realmente, para o reformador, aqueles que se aventuram em ciências como astronomia e medicina podem descobrir um pouco mais sobre nosso Criador.
"De fato, quantos nessas artes liberais à farta se abeberaram, ou mesmo apenas de leve as experimentaram, ajudados por sua contribuição, são levados muito mais longe na penetração dos segredos da divina sabedoria... Como, ao serem essas coisas perscrutadas, mais explicitamente se projeta a providência divina, assim, para contemplar-lhe a glória, impõe-se à alma que se eleve um tanto mais alto." (1.5.2, p.56)
A colaboração do pensamento protestante ao desenvolvimento da ciência moderna é um fato que apenas os mais céticos (leia-se: naturalistas) negam, e vemos aqui Calvino sem temer qualquer constrangimento que a pesquisa e o estudo poderiam trazer. No entanto, aqueles que não são cientistas também podem aprender por meio da observação das coisas criadas.
"Nem mesmo a pessoa mais simples e as de cultura mais elementar, que foram ensinadas só pelo recurso dos olhos, não podem ignorar a excelência da divina arte a revelar-se profusamente nesta incontável e, além do mais, particularmente, distinta e harmoniosa variedade da milícia celestial; salta à vista que não existe ninguém a quem o Senhor não manifeste sobejamente sua sabedoria." (1.5.2, p.56)
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