"Ele ordenou que aí, nos templos, se proponha uma doutrina comum a todos na proclamação de sua Palavra e nos sagrados mistérios; mas os que andam olhando de um lugar a outro, contemplando as imagens, mostram suficientemente que não lhes é muito grata esta doutrina" (1.11.7, p.106)
Essas palavras de Calvino podem parecer radicais para alguns, mas nada mais conveniente para nossa época. O homem hodierno torna-se cada vez mais dependente de figuras que chamem sua atenção. Mesmo este blog preocupa-se em sempre publicar alguma imagem, para não tornar a leitura tão enfadonha. Isto, em parte é bom, pois a princípio não há nada de errado em uma boa estética, mas pode revelar esse nosso desprezo pela letra escrita. Existem pregadores que já são incapazes de pregar sem apresentações de slides, como se sua audiência fosse desprovida totalmente de atenção. Precisamos crer no ministério da pregação.
"Paulo testifica que, mediante a verdadeira pregação do evangelho, Cristo é pintado vivo e, de certo modo, crucificado ante nossos olhos." (idem)
A origem dos ídolos, o reformador explica, encontra-se na necessidade do homem de enxergar ou tocar alguma coisa. Insatisfeitas pela maneira como o Deus invisível se revela, as pessoas necessitam de um apoio à sua crença, o que resulta no erro da idolatria.
"O homem tenta exprimir Deus em sua obra segundo o concebera interiormente. Logo, a mente gera o ídolo, a mão o dá à luz. Sendo esta a origem da idolatria: que os homens não creem que Deus esteja com eles, a não ser que sua presença lhes seja exibida em forma concreta, o demonstra o exemplo dos israelitas... Sabiam, realmente, que era Deus aquele cujo poder haviam experimentado em tantos milagres; porém não confiavam que ele estivesse perto deles, salvo se pudessem, com os olhos, contemplar uma representação corpórea da figura, representação que lhes fosse testemunho de um Deus a dirigi-los." (1.11.8, p.108)
Lendo esse texto, veio à minha mente a forte ênfase sensorial que nossos cânticos tem hoje. Será que nessa grande necessidade de ver, tocar, abraçar, beijar, etc. dos nossos ministros de louvor não há, ali, um pouco desse sentimento do povo hebreu? Isto não é uma acusação, apenas um desafio para que olhemos para nós mesmos e nos examinemos em relação a esse pecado.
Josaías, parabéns pelo seu blog. Já está na minha seção de favoritos. Senti falta de uma área com a história de Calvino, pra quem não conhece o reformador.
A Paz do Senhor Jesus, e que Ele abençoe seu projeto.
Josaías, eu acredito que todo ser humano tem a tendência de preferir imagens no sentido mais lato. Segundo alguns estudos, a imagem precede o pensamento. Uma imagem pode expressar uma idéia completa. No caso de Deus, há então uma grande diferença: Ele é o Santo, aquele que não é como nós e nós não temos como apreendê-Lo a não ser por meio da Sua revelação. Fazer uma imagem divina seria um substituto da revelação que o Espírito imprime em nós por meio da Palavra de Deus. O pensamento hebreu basicamente trabalha com imagens concretas, e isso evidencia mais ainda como o mandamento de não fazer imagens era algo totalmente oposto ao modo de pensar da época.
Charles
Rm 8.32
Charles, concordo com você. Inclusive seria um hipócrita se achasse algo errado nessa tendência natural do homem - trabalho com isso, estudo isso, me divirto com isso. Direção de arte, fotografia, quadrinhos, design - estou sempre mexendo com essas coisas.
Mas o fato é que não podemos negar que as pessoas estão cada vez mais viciadas em imagens, e ai daquele que não se atenta a isso. Para mim o perigo está aí. Especialmente quando falamos de vida cristã.