"Tenhamos em mente que por cerca de quinhentos anos, durante os quais até aqui mais florescia a religião e vicejava uma doutrina mais pura, os templos cristãos eram, geralmente, vazios de imagens... Como é possível, pensamos nós, que aqueles santos pais teriam deixado ficar a Igreja por tanto tempo carente desta prática que julgariam ser-lhe útil e salutar?" (1.11.13, p.112)
Entre os críticos das representações de Deus e santos, Calvino lista o próprio Santo Agostinho:
"As imagens mais valem para desviar a infeliz alma, porquanto possuem boca, olhos, ouvidos, pés, do que para assisti-la, uma vez que não falam, não veem, nem ouvem, nem andam." (1.11.13, p.113)
Para o reformador as principais representações aceitáveis na igreja são a Ceia do Senhor e o Batismo, imagens suficientes para o crente, "de modo que não requeiram outras imagens, forjadas pela engenhosidade dos homens" (1.11.13, p.113). Está mais do que claro para ele (e para nós, se formos honestos) que não existe qualquer necessidade de ídolos em templos, prova disso são os argumentos fraquíssimos e os anátemas usados pelos sacerdotes papistas, dos quais citaremos apenas alguns.
"Outro, para provar que se devem colocar imagens nos altares, citou este testemunho: 'Ninguém acende uma candeia e a põe debaixo do alqueire' [Mt 5.15]... Semelhante é o raciocínio de Teodoro: 'Maravilhoso', diz ele: ', é Deus em seus santos' [ Sl 68.35 ], e então se lê em outro lugar: 'Quanto aos santos que estão na terra' [ Sl 16.3 ]. Portanto, isso deve referir-se às imagens!" (1.11.14, p.114)
"E para que tudo ficasse claro e não houvesse qualquer dúvida, Teodósio, bispo de Mira, confirma, com base nos sonhos de seu arcediago, com tanta certeza, que as imagens devem ser adoradas, como se o próprio Deus lho houvesse revelado." (1.11.15, p.115)
"Constâncio, bispo de Constância, em Chipre, professa abraçar reverentemente as imagens e confirma haver ele de tributar-lhes o mesmo culto de honra que rende à Santíssima Trindade, e a todo aquele que recusar-se a fazer o mesmo, ele o anatematiza e relega à companhia dos maniqueus e dos marcionitas." (1.11.16, p.115)
Aprendemos muito mais nesse estudo que simplesmente o combate às imagens. Vimos que a igreja que não se preocupa com o verdadeiro conhecimento de Deus acaba se rebaixando a um mero culto idólatra. Aqueles que desprezam uma exegese séria da Palavra acabam caindo em maus costumes, como a dependência de uma tradição enganosa, o abuso da interpretação alegórica e o apelo a supostas revelações. Fiquemos alertas para que não nos desviemos do que foi proposto por nosso Pai.
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