"Isaías, que é muito incisivo nesta demonstração, visto que ensina que a majestade de Deus é maculada de vil e absurda ficção, quando o incorpóreo é nivelado à matéria corpórea, o invisível à representação visível, o espírito à coisa inanimada, o imenso a um pequeno pedaço de madeira, pedra ou ouro." (1.11.2, p.101)
Alguns argumentam que o fato de Deus manifestar-se em formas visíveis no Antigo Testamento significa que nos é permitido criar representações e figuras do Criador. Contra isso, Calvino também tem algo a dizer:
"Ora, nuvem, fumaça e chama, uma vez que eram símbolos da glória celestial, como que a interpor um frio, coibiam as mentes de todos para que não tentassem penetrar mais fundo... Acresce a isto que os profetas pintam os serafins que lhes foram manifestos em visão com a face velada em relação a nós, significando com isso ser tão grande o fulgor da glória divina, que até os próprios anjos se continham de contemplação direta, e as tênues centelhas que refulgem em seus anjos nos são subtraídas aos olhos." (1.11.3, p.102)
O reformador também se lembra de Juvenal, escritor pagão que, na obra Sátiras, "censura aos judeus por adorarem as meras nuvens e a divindade do céu" (idem). Isso demonstra que a religião verdadeira da antiga aliança não envolve a construção de esculturas para serem adoradas.
"Por certo que ele está falando pervertida e impiamente. Entretanto, negando existir entre eles qualquer éfigie divina, fala mais verazmente que os papistas, que grasnam haver existido entre os judeus alguma representação visível de Deus." (idem)
É claro que muitas vezes os judeus cairam nesse erro, mas Calvino nos lembra que não é algo que existia somente entre aqueles homens, mas uma "inclinação que em nós existe para a idolatria" (idem). Se aquele povo que viu tantos sinais errou, mais ainda nós devemos estar atentos para não tentarmos reduzir a glória do Criador à reles criatura.
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