"SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!"
"Notamos que se proclamam reiteradamente ser duas vezes magnífico aquele seu nome, a eternidade e existência própria, então evocam-se suas virtudes, mediante as quais nos é descrito não quem ele é em si, mas, antes, quem ele é em relação a nós, de sorte que este conhecimento dele consista mais de viva experiência do que de vazia e leviana especulação. Na verdade, ouvimos enumerarem-se aqui suas mesmas virtudes que assinalamos luzirem no céu e na terra: clemência, bondade, misericórdia, justiça, juízo, verdade. Ora, virtude e poder estão contidos no designativo Elohim." (1.10.2, p.98)
A referência que Calvino faz à experiência é digna de nota. Ao contrário do que pensam alguns críticos do reformador francês, ele não pregava um relacionamento puramente racionalista com Deus, mas sempre enfatiza uma relação viva com o Criador, subordinada à Palavra e avivada pelo Espírito. "Logo, com a experiência por mestra, sentimos Deus ser tal qual se declara na Palavra" (idem). Assim, mais uma vez vemos a ênfase calvinista na teologia (palavra que Calvino evita) que leva à adoração cristã.
"Portanto, o conhecimento de Deus que na Escritura nos é proposto não visa a outro escopo que aquele que refulge gravado nas criaturas, isto é, nos convida, em primeiro lugar, ao temor de Deus; em seguida, à confiança nele, para que, na verdade, aprendamos a cultuá-lo não só com perfeita inocência de vida, mas ainda com obediência não fingida, e então a dependermos totalmente de sua bondade." (idem)
Por fim, Calvino argumenta que a noção do Deus único é comum a muitos povos. Mesmo aqueles que são politeístas muitas vezes falam da unicidade de Deus. Ainda assim, mesmo afirmando a existência de alguém (ou algo) que elas chamam de Deus, essas pessoas são indesculpáveis, por corromper a verdade revelada pelo Criador.
"Ora, mesmo os que adoravam ingente multidão de deuses, quantas vezes têm falado de acordo com o genuíno senso da natureza, têm usado simplesmente o termo Deus, como se um Deus único lhes fosse bastante... Tudo quanto em bases naturais sentiram a respeito do Deus único de nada lhes valeu a não ser que ficassem inescusáveis... E já o dissemos em outro lugar, todos e quaisquer subterfúgios que os filósofos tem argutamente imaginado, não lhes diluem o crime de apostasia, senão que evidenciam que a verdade de Deus foi corrompida por todos eles." (1.10.3, p.99)
De fato, vemos pessoas, que não procuram em qualquer momento da vida conformarem-se ao padrão proposto pelo Senhor, afirmando sua devoção a Deus. Sustentam apenas um termo vazio, praticam uma idéia deísta do Criador, e pensam ser isso o suficiente. Calvino encerra com uma advertência a eles, mas que também serve àqueles que procuram conhecer mais o Criador:
"Por esta razão, Habacuque, que condenou a todos os ídolos, ordena que busquem a Deus em seu templo [2.20], para que os fiéis não admitissem outro Deus senão aquele que se revelara por meio de sua Palavra." (idem)
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