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Acesse pelo endereço joaocalvino.net

Comemorando os 500 anos de João Calvino, o teólogo da Reforma, este é um blog dedicado a resumir e comentar as Instituras da Religião Cristã, obra máxima do reformador de Genebra. Que ele seja útil à comunidade, seguindo a mesma intenção de Calvino ao escrever seus livros.

"Este tem sido meu propósito: preparar e instruir de tal modo os candidatos à sagrada teologia, para a leitura da divina Palavra, que não só lhe tenham fácil acesso, mas ainda possam nesta escalada avançar sem tropeços."

Esse blog está sendo desativado. Visite-nos em www.joaocalvino.net

Falsos deuses, falso culto [ 1.12.1-3 ]

Como já afirmei aqui algumas vezes, um traço marcante da teologia de João Calvino é a ênfase no verdadeiro conhecimento de Deus, que tem como marcas a verdadeira piedade e a verdadeira adoração. Não é de se admirar, portanto, que concluindo a seção sobre ídolos e falsas divindades, o reformador volte-se novamente para a questão do culto a Deus.

"Dissemos no início que o conhecimento de Deus não está posto em fria especulação, mas traz consigo o culto... a não ser que resida no Deus único tudo quanto é próprio da Deidade, ele é despojado de sua dignidade e profanado é seu culto." (1.12.1, p.117s)

Chama atenção que uma das consequências de juntar Deus e outros deuses é gerar para o Criador uma "fria noção de autoridade suprema" (1.12.1, p.118). Mais uma vez vemos que Calvino não faz o tipo "acadêmico tíbio". Para ele, o conhecimento de Deus deve nos levar uma relação dinâmica e intensa com o Criador.

Dito isso, a falsa distinção entre Latria (culto, adoração) e Dulia (serviço) é novamente atacada, demonstrando a falácia dos papistas.

"De fato douleía é serviço, latréia, honra. Portanto, por certo que ninguém põe em dúvida que servir seja algo mais que honrar. Ora, com muita frequência seria penoso servir àquele a quem não recusarias render honra. Logo, seria uma partilha iníqua consignar aos santos o que é maior, e deixar a Deus o que é menor." (1.12.2, p.119)

Com todos esses argumentos levantados, só resta ao reformador fechar o caso, apresentando alguns exemplos de como a Bíblia rejeita servidão e honra a qualquer outro que não seja Deus.

"Paulo, quando traz à lembrança aos gálatas o que foram eles antes de haver sido iluminados no conhecimento de Deus, diz que haviam exibido dulia para com aqueles que por natureza não eram deuses [Gl 4.8]. Portanto, uma vez que não a denomina latria, porventura a superstição lhes seria escusável?" (1.12.3, p.119)

"E quando Cristo repele a investida de Satanás com este escudo: 'Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás' [Mt 4.10], não entrava literalmente a questão latria, porque Satanás não requeria senão προσκυνήσεις [prostrar-se de joelhos em reverência]." (idem)

"Ao prostrar-se diante de Pedro, [Cornélio] evidentemente não o faz com o propósito de adorá-lo no lugar de Deus. Pedro, no entanto, o proíbe terminantemente de fazê-lo. Por quê, senão pelo fato de que os homens nunca fazem distinção tão precisa entre o culto de Deus e das criaturas, que não transfiram promiscuamente à criatura o que é próprio de Deus?" (1.12.3, p.120)

Mesmo os mais sinceros podem cair no laço da idolatria. Que nos examinemos para não repetirmos os erros do passado, escondidos debaixo de falácias e questões semânticas.
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Maus costumes e argumentos [ 1.11.13-16 ]

Após tratar do bom uso da arte, o reformador volta-se novamente para os argumentos papistas a favor de imagens e esculturas nos templos. Ele se lembra que, ao contrário do que ensina, essa prática não era comum nos primórdios da igreja, o que invalida o argumento da tradição.

"Tenhamos em mente que por cerca de quinhentos anos, durante os quais até aqui mais florescia a religião e vicejava uma doutrina mais pura, os templos cristãos eram, geralmente, vazios de imagens... Como é possível, pensamos nós, que aqueles santos pais teriam deixado ficar a Igreja por tanto tempo carente desta prática que julgariam ser-lhe útil e salutar?" (1.11.13, p.112)

Entre os críticos das representações de Deus e santos, Calvino lista o próprio Santo Agostinho:

"As imagens mais valem para desviar a infeliz alma, porquanto possuem boca, olhos, ouvidos, pés, do que para assisti-la, uma vez que não falam, não veem, nem ouvem, nem andam." (1.11.13, p.113)

Para o reformador as principais representações aceitáveis na igreja são a Ceia do Senhor e o Batismo, imagens suficientes para o crente, "de modo que não requeiram outras imagens, forjadas pela engenhosidade dos homens" (1.11.13, p.113). Está mais do que claro para ele (e para nós, se formos honestos) que não existe qualquer necessidade de ídolos em templos, prova disso são os argumentos fraquíssimos e os anátemas usados pelos sacerdotes papistas, dos quais citaremos apenas alguns.

"Outro, para provar que se devem colocar imagens nos altares, citou este testemunho: 'Ninguém acende uma candeia e a põe debaixo do alqueire' [Mt 5.15]... Semelhante é o raciocínio de Teodoro: 'Maravilhoso', diz ele: ', é Deus em seus santos' [ Sl 68.35 ], e então se lê em outro lugar: 'Quanto aos santos que estão na terra' [ Sl 16.3 ]. Portanto, isso deve referir-se às imagens!" (1.11.14, p.114)

"E para que tudo ficasse claro e não houvesse qualquer dúvida, Teodósio, bispo de Mira, confirma, com base nos sonhos de seu arcediago, com tanta certeza, que as imagens devem ser adoradas, como se o próprio Deus lho houvesse revelado." (1.11.15, p.115)

"Constâncio, bispo de Constância, em Chipre, professa abraçar reverentemente as imagens e confirma haver ele de tributar-lhes o mesmo culto de honra que rende à Santíssima Trindade, e a todo aquele que recusar-se a fazer o mesmo, ele o anatematiza e relega à companhia dos maniqueus e dos marcionitas." (1.11.16, p.115)

Aprendemos muito mais nesse estudo que simplesmente o combate às imagens. Vimos que a igreja que não se preocupa com o verdadeiro conhecimento de Deus acaba se rebaixando a um mero culto idólatra. Aqueles que desprezam uma exegese séria da Palavra acabam caindo em maus costumes, como a dependência de uma tradição enganosa, o abuso da interpretação alegórica e o apelo a supostas revelações. Fiquemos alertas para que não nos desviemos do que foi proposto por nosso Pai.
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Calvino e a arte [ 1.11.12 ]

Uma das acusações - inclusive feita pela conhecida líder evangélica citada no post anterior - contra os reformadores e protestantes em geral é que nós, com o apelo ao fim de ícones e ídolos, desvalorizamos a arte. Essa acusação é baseada em falta de informação e de estudo, como veremos nessa seção das Institutas.

"Nem me deixo tomar dessa superstição a tal ponto que afirme não dever-se admitir, em hipótese alguma, qualquer imagem. Mas, uma vez que a escultura e a pintura são dons de Deus, admito o uso puro e legítimo, tanto de um quanto da outra, para que não aconteça que essas coisas que o Senhor nos outorgou para sua glória e nosso bem não só sejam poluídas por ímpio abuso, mas ainda também se convertam à nossa ruína." (1.11.12, p.111)

"Resta, portanto, que se pinte e esculpa somente aquilo que está ao alcance dos olhos, de sorte que a majestade de Deus, que paira muito acima da percepção dos olhos, não se corrompa mediante representações descabidas e fantasiosas." (1.11.12, p.112)

Portanto, o reformador francês considera essas duas formas de arte como dons de Deus a nós, e que têm como objetivos a glória do Senhor e o bem da humanidade. Calvino ainda esboça uma breve teoria da arte, separando as obras artísticas em dois grupos básicos, e explicando em que se aproveita delas.

"Nesta classe de elementos que se podem representar pela arte estão, em parte, histórias e fatos acontecidos; em parte, imagens e formas corpóreas sem qualquer conotação de eventos consumados. Aqueles tem certa aplicação no ensino ou no conselho; estas, não vejo o que possam proporcionar, além de mero deleite." (idem)

Concluindo - os objetivos da arte, segundo Calvino, são glorificar a Deus e trazer o bem ao homem. A arte é um presente do Pai a nós, mas deve ser usada com cuidado. Ao produzir imagens da Deidade o homem está justamente descumprindo seu papel como artista - reduz o Criador a mero objeto e encaminha as pessoas ao erro. Ao criar ídolos, o homem diminui a si mesmo, a sua arte, sua religião, e o próprio Senhor.
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Servindo somente a Deus [ 1.11.9-11 ]

Outra resposta papista à acusação protestante de idolatria é que os fiéis sabem que as imagens e estátuas não tratam-se de deuses, mas apenas de representações que nos levam a uma maior piedade. Porém, os profetas parecem não se importar com essa explicação.

"As imagens, dizem eles, não são consideradas como seres divinos. Nem tão absurdamente obtusos eram os judeus, que não se lembrassem de que fora Deus quem por cuja mão tinham sido conduzidos para fora do Egito, antes de haverem forjado o bezerro... Já aqueles que, em por seu próprio dizer, eram de uma religião mais refinada, afirmavam que não adoravam nem a imagem, nem a potestade aí figurada, mas, mediante a representação material, visualizavam um sinal dessa entidade que deveriam cultuar." (1.11.9, p.109)

A advertência de Calvino nos lembra uma líder evangélica, que disse ter sentido, certa vez, a estátua de um leão ministrar em sua vida. Provavelmente ela apenas se expressou mal, mas ainda assim fica o alerta. É claro que belas imagens (como a própria Criação, por exemplo) podem nos levar à adoração, mas existe uma diferença entre dizer que algo leva à adoração e algo "ministra" em sua vida. Veremos adiante que Calvino não é contra a arte, mas ao mau uso dessa arte pelos fiéis papistas, com a desculpa de saberem que as estátuas não são deuses.

"Ninguém ora ou adora com os olhos assim postos em uma imagem que não seja afetado a tal ponto que não pense ser por ela ouvido ou não espere que dela lhe seja concedido aquilo que deseja... 'Não as chamamos', dizem eles, 'de nossos deuses'. Nem outrora aqueles as chamavam deuses, quer judeus, quer gentios. E no entanto os profetas não cessavam de reiteradamente condenar-lhes as fornicações com a madeira e a pedra, por apenas estas coisas que são diariamente praticadas por aqueles que desejam ser havidos por cristãos, isto é, que veneravam a Deus carnalmente na madeira e na pedra." (1.11.10, p.110)

O reformador também combate a falsa distinção Latria (adoração à imagem) e Dulia (serviço à imagem), "como se na verdade adorar não fosse em nada mais atenuado que servir" (1.11.11, p.111). De fato, os apóstolos sempre se apresentam como servos (doulos) de Cristo, demonstrando que há apenas um Senhor. Por isso, a dura acusação de Calvino procede.

"O que dizem equivale exatamente a uma confissão de que cultuam suas imagens, porém sem dar-lhes culto!... Ora, um adúltero ou um homicida não se livrará da incriminação, se com dissimulação sutilmente inventar outro nome para o seu crime." (idem)

Que tenhamos cuidado em nossas práticas e costumes durante a adoração.
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A necessidade de ver e tocar [ 1.11.7-8 ]

Os papistas afirmavam que as imagens em templos auxiliavam no ensino daqueles que não podiam ler, algo que Calvino admite que, "no atual estado das coisas, não há poucos hoje que não possam dispensar tais 'livros'" (1.11.7, p.107). No entanto, o reformador ainda insiste que deveríamos nos esforçar pela verdadeira proclamação da Palavra como forma de barrar esse vício.

"Ele ordenou que aí, nos templos, se proponha uma doutrina comum a todos na proclamação de sua Palavra e nos sagrados mistérios; mas os que andam olhando de um lugar a outro, contemplando as imagens, mostram suficientemente que não lhes é muito grata esta doutrina" (1.11.7, p.106)

Essas palavras de Calvino podem parecer radicais para alguns, mas nada mais conveniente para nossa época. O homem hodierno torna-se cada vez mais dependente de figuras que chamem sua atenção. Mesmo este blog preocupa-se em sempre publicar alguma imagem, para não tornar a leitura tão enfadonha. Isto, em parte é bom, pois a princípio não há nada de errado em uma boa estética, mas pode revelar esse nosso desprezo pela letra escrita. Existem pregadores que já são incapazes de pregar sem apresentações de slides, como se sua audiência fosse desprovida totalmente de atenção. Precisamos crer no ministério da pregação.

"Paulo testifica que, mediante a verdadeira pregação do evangelho, Cristo é pintado vivo e, de certo modo, crucificado ante nossos olhos." (idem)

A origem dos ídolos, o reformador explica, encontra-se na necessidade do homem de enxergar ou tocar alguma coisa. Insatisfeitas pela maneira como o Deus invisível se revela, as pessoas necessitam de um apoio à sua crença, o que resulta no erro da idolatria.

"O homem tenta exprimir Deus em sua obra segundo o concebera interiormente. Logo, a mente gera o ídolo, a mão o dá à luz. Sendo esta a origem da idolatria: que os homens não creem que Deus esteja com eles, a não ser que sua presença lhes seja exibida em forma concreta, o demonstra o exemplo dos israelitas... Sabiam, realmente, que era Deus aquele cujo poder haviam experimentado em tantos milagres; porém não confiavam que ele estivesse perto deles, salvo se pudessem, com os olhos, contemplar uma representação corpórea da figura, representação que lhes fosse testemunho de um Deus a dirigi-los." (1.11.8, p.108)

Lendo esse texto, veio à minha mente a forte ênfase sensorial que nossos cânticos tem hoje. Será que nessa grande necessidade de ver, tocar, abraçar, beijar, etc. dos nossos ministros de louvor não há, ali, um pouco desse sentimento do povo hebreu? Isto não é uma acusação, apenas um desafio para que olhemos para nós mesmos e nos examinemos em relação a esse pecado.
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Calvino o iconoclasta [ 1.11.4-6 ]

"Resolveu-se que não se tenham nos templos representações pictoriais, como também não se pinte em suas paredes o que se cultua ou adora." (Concílio de Elvira, cânon 36, citado por Calvino em 1.11.6, p.105)

Em seu combate às imagens usada por cristãos professos, Calvino apela várias vezes não apenas para a Escritura, mas para a própria incoerência da situação em que os idólatras muitas vezes se metem. Ele nota que é o medo dos seus poucos dias leva o homem a criar ídolos, mas é justamente por sua vida breve que a humanidade não deveria apegar-se aos falsos deuses.

"O homem se vê compelido a confessar que ele é uma criatura efêmera, e não obstante quer que um metal, a cuja divindade deu origem, seja considerado deus!" (1.11.4, p.103)

Mais ainda, para qualquer pessoa é óbvio que seres criados são inferiores àquele que os criou. Porém, os homens continuam a prostrar-se diante dessas figuras, como se elas tivessem alguma dignidade. Calvino cita o poeta Horácio e também ataca a veneração a ícones.

"Outrora eu era um tronco de figueira, um inútil pedaço de lenho / Quando um artífice, incerto se deveria fazer um banco etc. / Preferiu que eu fosse um deus." (Horácio, Serm. I, sát. VIII)

"No Salmo [95], o Profeta acentua essa insânia, dizendo que aqueles que foram a tal ponto dotados de inteligência, que sabem que todas as coisas são movidas somente pelo poder de Deus, imploram o auxílio de coisas inanimadas e destituídas de sensibilidade." (1.11.4, p.104)

Nem as representações gráficas estão isentas do pecado de corromper a glória de Deus. Calvino cita Gregório que gostaria de usar imagens com o fim de ajudar os iletrados, porém "se Gregório houvesse sido instruído nesta matéria, jamais haveria de ter assim falado" (1.11.5, p.105). Aquele que quer aprender de Deus deve conhecê-lo pelas maneiras que o próprio Deus indicou, e isto não inclui imagens.

"Os papistas assumem como infalível axioma: que as imagens fazem as vezes de livros. Pois os profetas opõem as imagens ao Deus verdadeiro, como coisas contrárias que jamais podem ser conciliadas... Uma vez que o Deus verdadeiro a quem os judeus adoravam é um e é único, pervertida e enganosamente se inventam figuras visíveis para que representem a Deus e miseravelmente iludidos se quedam todos os que daí buscam conhecimento." (idem)

Hoje vivemos um afrouxamento nessa doutrina. O medo de parecer radical leva muitos pastores a aceitarem como normal representações de Deus, desde que não sejam estátuas. Apresentações de PowerPoint são ingênuas ilustrações que não levariam ninguém a pecar, alguns pensam. Talvez realmente ninguém chegue a adorar uma imagem JPEG, mas será que não estamos ainda assim diminuindo e corrompendo a glória do Senhor? Oremos por mais cuidado nessa área.
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Calvino contra os ídolos [ 1.11.1-3 ]

A Bíblia nos revela um Deus eterno e gracioso, o que deve nos levar à adoração como proposta por ele, algo que o dignifique e não diminua a natureza do Criador. É por isso que Calvino agora se volta contra toda representação imagética da Deidade.

"Isaías, que é muito incisivo nesta demonstração, visto que ensina que a majestade de Deus é maculada de vil e absurda ficção, quando o incorpóreo é nivelado à matéria corpórea, o invisível à representação visível, o espírito à coisa inanimada, o imenso a um pequeno pedaço de madeira, pedra ou ouro." (1.11.2, p.101)

Alguns argumentam que o fato de Deus manifestar-se em formas visíveis no Antigo Testamento significa que nos é permitido criar representações e figuras do Criador. Contra isso, Calvino também tem algo a dizer:

"Ora, nuvem, fumaça e chama, uma vez que eram símbolos da glória celestial, como que a interpor um frio, coibiam as mentes de todos para que não tentassem penetrar mais fundo... Acresce a isto que os profetas pintam os serafins que lhes foram manifestos em visão com a face velada em relação a nós, significando com isso ser tão grande o fulgor da glória divina, que até os próprios anjos se continham de contemplação direta, e as tênues centelhas que refulgem em seus anjos nos são subtraídas aos olhos." (1.11.3, p.102)

O reformador também se lembra de Juvenal, escritor pagão que, na obra Sátiras, "censura aos judeus por adorarem as meras nuvens e a divindade do céu" (idem). Isso demonstra que a religião verdadeira da antiga aliança não envolve a construção de esculturas para serem adoradas.

"Por certo que ele está falando pervertida e impiamente. Entretanto, negando existir entre eles qualquer éfigie divina, fala mais verazmente que os papistas, que grasnam haver existido entre os judeus alguma representação visível de Deus." (idem)

É claro que muitas vezes os judeus cairam nesse erro, mas Calvino nos lembra que não é algo que existia somente entre aqueles homens, mas uma "inclinação que em nós existe para a idolatria" (idem). Se aquele povo que viu tantos sinais errou, mais ainda nós devemos estar atentos para não tentarmos reduzir a glória do Criador à reles criatura.
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Adorando o verdadeiro Deus [ 1.10.1-3 ]

Agora que já está fundamentada em nossa mente a noção de que a Escritura é a revelação de Deus, Calvino parte para mostrar o que o texto bíbico tem a dizer sobre esse Criador. Para o reformador, uma boa descriçã da natureza do Senhor encontra-se em Êxodo 34.6,7.

"SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!"

"Notamos que se proclamam reiteradamente ser duas vezes magnífico aquele seu nome, a eternidade e existência própria, então evocam-se suas virtudes, mediante as quais nos é descrito não quem ele é em si, mas, antes, quem ele é em relação a nós, de sorte que este conhecimento dele consista mais de viva experiência do que de vazia e leviana especulação. Na verdade, ouvimos enumerarem-se aqui suas mesmas virtudes que assinalamos luzirem no céu e na terra: clemência, bondade, misericórdia, justiça, juízo, verdade. Ora, virtude e poder estão contidos no designativo Elohim." (1.10.2, p.98)

A referência que Calvino faz à experiência é digna de nota. Ao contrário do que pensam alguns críticos do reformador francês, ele não pregava um relacionamento puramente racionalista com Deus, mas sempre enfatiza uma relação viva com o Criador, subordinada à Palavra e avivada pelo Espírito. "Logo, com a experiência por mestra, sentimos Deus ser tal qual se declara na Palavra" (idem). Assim, mais uma vez vemos a ênfase calvinista na teologia (palavra que Calvino evita) que leva à adoração cristã.

"Portanto, o conhecimento de Deus que na Escritura nos é proposto não visa a outro escopo que aquele que refulge gravado nas criaturas, isto é, nos convida, em primeiro lugar, ao temor de Deus; em seguida, à confiança nele, para que, na verdade, aprendamos a cultuá-lo não só com perfeita inocência de vida, mas ainda com obediência não fingida, e então a dependermos totalmente de sua bondade." (idem)

Por fim, Calvino argumenta que a noção do Deus único é comum a muitos povos. Mesmo aqueles que são politeístas muitas vezes falam da unicidade de Deus. Ainda assim, mesmo afirmando a existência de alguém (ou algo) que elas chamam de Deus, essas pessoas são indesculpáveis, por corromper a verdade revelada pelo Criador.

"Ora, mesmo os que adoravam ingente multidão de deuses, quantas vezes têm falado de acordo com o genuíno senso da natureza, têm usado simplesmente o termo Deus, como se um Deus único lhes fosse bastante... Tudo quanto em bases naturais sentiram a respeito do Deus único de nada lhes valeu a não ser que ficassem inescusáveis... E já o dissemos em outro lugar, todos e quaisquer subterfúgios que os filósofos tem argutamente imaginado, não lhes diluem o crime de apostasia, senão que evidenciam que a verdade de Deus foi corrompida por todos eles." (1.10.3, p.99)

De fato, vemos pessoas, que não procuram em qualquer momento da vida conformarem-se ao padrão proposto pelo Senhor, afirmando sua devoção a Deus. Sustentam apenas um termo vazio, praticam uma idéia deísta do Criador, e pensam ser isso o suficiente. Calvino encerra com uma advertência a eles, mas que também serve àqueles que procuram conhecer mais o Criador:

"Por esta razão, Habacuque, que condenou a todos os ídolos, ordena que busquem a Deus em seu templo [2.20], para que os fiéis não admitissem outro Deus senão aquele que se revelara por meio de sua Palavra." (idem)
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Espírito x Escritura - parte 3 [ 1.9.3 ]

Existe uma acusação comum contra aqueles que tentam manter-se fiéis à Palavra, e desejam que somente as Escrituras falem no púlpito, através de uma boa interpretação - eles seguem a letra morta, não o Espírito que vivifica (uma distorção de 2Co 3.6). Calvino começa essa seção rebatendo essa falsa crítica.

"Portanto, morta é a letra, e a lei do Senhor mata a seus leitores, quando não só se divorcia da graça de Cristo, mas ainda, não tangindo o coração, apenas soa aos ouvidos. Se ela, porém, mediante o Espírito, é eficazmente impressa nos corações, se a Cristo manifesta, ela é a palavra da vida, a converter almas, a dar sabedoria aos símplices." (1.9.3, p.95)

Há uma relação orgânica e viva entre Escritura e Espírito, de maneira que só conhece corretamente a Escritura aquele que está no Espírito. Ao mesmo tempo, somente pela Escritura podemos ter plena certeza das ações do Espírito e identificar falsas manifestações.

"Pois o Senhor ligou entre si, como que por mútuo nexo, a certeza de sua Palavra e a certeza de seu Espírito, de sorte que a sólida religião da Palavra se implante em nossa alma quando brilha o Espírito, que nos faz aí contemplar a face de Deus assim como, reciprocamente, abraçamos ao Espírito, sem nenhum temor de engano, quando o reconhecemos em sua imagem, isto é, a Palavra." (idem)

Para Calvino, é ministério de Deus, em especial do Espírito, cuidar para que a mensagem da Escritura permaneça na mente dos cristãos. É comum ver igrejas que não seguem princípios bíblicos em seus cultos, apresentando a desculpa de que foram movidas pelo Senhor a isso. Devemos tomar cuidado com tais congregações.

"[Deus] enviou o mesmo Espírito, pelo poder de quem havia ministrado a Palavra, para que realizasse sua obra mediante a confirmação eficaz dessa mesma Palavra... Cristo abriu o entendimento aos dois discípulos de Emaús não para que, postas de parte as Escrituras, se fizessem sábios por si mesmos, mas para que entendessem essas Escrituras." (idem)

Nossa oração é que o Espírito fale sempre, por meio do que Ele mesmo designou.
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Espírito x Escritura - parte 2 [ 1.9.2 ]

Como já vimos, crescimento espiritual e leitura da Palavra não se separam.

"Se ansiamos por receber algum uso e fruto da parte do Espírito de Deus, imperioso nos é aplicar-nos diligentemente a ler tanto quanto ouvir a Escritura." (1.9.2, p.94)

Porém, existem aqueles que negam a necessidade do estudo bíblico e enfatizam uma suposta orientação do Espírito Santo. Ainda hoje esse tipo de heresia existe, e muitas vezes vemos alguém enganando a si, afirmando ter uma revelação especial, quando aquilo que ela sustenta pode até ir contra a Escritura. Diante dessas pessoas, que "buscam o Espírito de si próprios e não por ele mesmo" (idem), Calvino pergunta:

"Uma vez que Satanás se transfigura em anjo de luz, que autoridade terá o Espírito entre nós, a não ser que seja discernido por meio de sinal de absoluta certeza?" (idem)

A resposta de Calvino pode parecer polêmica para alguns, mas, para ele, o Espírito Santo não irá além daquilo que está escrito. Isto é, ele não negará as Sagradas Escrituras, e nem pode fazê-lo. Evidentemente, alguns dirão que estamos prendendo Deus em uma caixa, mas o reformador responde:

"Alegam, com efeito, que é afrontoso que o Espírito de Deus, a quem todas as coisas devem ser sujeitas, seja subordinado à Escritura. Como se, na verdade, isto fosse ignominoso ao Espírito Santo: ser ele por toda parte igual e conforme a si mesmo; permanecer consistente consigo em todas as coisas; em nada variar! De fato, se fosse necessário julgar em conformida com qualquer norma humana, angélica, ou estranha, então deveria considerar-se que o Espírito estaria reduzido a subordinação." (idem)

Deus não pode mentir, e aquilo que ele disse na Escritura, é aquilo que Deus Espírito diz aos seus. Qualquer ensino que desvirtue isso é anátema.

"Para que o espírito de Satanás não se insinue sob o nome do Espírito, ele quer ser por nós reconhecido em sua imagem que imprimiu nas Escrituras. Ele é o autor das Escrituras: não pode padecer variação e inconsistência para consigo mesmo. Portanto, como ali uma vez se manifestou, assim tem ele de permanecer para sempre." (1.9.2, p.95)
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Espírito x Escritura - parte 1 [ 1.9.1 ]

Citei em tópico anterior, a relevância dos escritos de João Calvino para nosso tempo. Parece que o reformador francês enfrentava desafios semelhantes aos que os crentes atuais encaram. Esse capítulo, em especial, é um dos melhores lidos até agora (em minha opinião) e merece alguns posts a mais. Nele Calvino fala sobre aqueles que menosprezam as Escrituras em detrimento de suposta orientação do Espírito de Deus.

"Surgiram em tempos recentes certos desvairados que, arrogando-se, com extremada presunção, o magistério do Espírito Santo, fazem pouco caso de toda leitura da Bíblia e se riem da simplicidade daqueles que ainda seguem, como eles próprios a chamam, a letra morta e que mata." (1.9.1, p.93)

Provavelmente nos virá à memória alguém que pensa de maneira semelhante aos contemporâneos do reformador, e alguns até tenham se sentido mal por parecerem tão "insensíveis ao toque do Espírito". Mas o reformador sabe que nenhum dos apóstolos pensava como os hereges de seu tempo.

"Eu, porém gostaria de saber deles que Espírito é esse de cuja inspiração transportam a alturas tão sublimadas que ousem desprezar como pueril e rasteiro o ensino da Escritura? Ora, se respondem que é o Espírito de Cristo, tal certeza é absolutamente ridícula, se na realidade concedem, segundo penso, que os apóstolos de Cristo e os demais fiéis da Igreja primitiva, foram iluminados não por outro Espírito. O fato é que nenhum deles aprendeu o menosprezo pela Palavra de Deus." (idem)

Para Calvino, o Espírito e a Escritura estão unidos por um "vínculo inviolável" (idem), mas aqueles que tentam criar uma dicotomia entre esses dois elementos cometem sacrilégio e desrespeito para com Deus, sua Palavra e o próprio ministério do Espírito Santo.

"Logo, não é função do Espírito que nos foi prometido configurar novas e inauditas revelações ou forjar um novo gênero de doutrina, mediante a qual sejamos afastados do ensino do evangelho já recebido; ao contrário, sua função é selar-nos na mente aquela mesma doutrina que é recomendada no evangelho." (1.9.1, p.94)

Criar uma divisão entre o que a Bíblia diz e o que o Espírito Santo ensina é colocar Deus contra Deus. Não que tenhamos um Livro como divindade, mas ali estão guardados os pensamentos do próprio Criador. Fugir da Palavra em nome do Espírito é dizer que Deus, que não pode mentir, se contradiz, ou que o Consolador deixou seu ministério a fim de trazer inovações no Cristianismo. Tal postura é incompatível com a de um cristão e deve ser combatida. Que o Espírito de Cristo nos ajude nisso.
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Um testemunho vivo [ 1.8.12-13 ]

No final do capítulo VIII, Calvino nos deixa uma advertência:

"A Escritura será realmente satisfatória para o conhecimento salvífico de Deus, então, finalmente, quando a certeza lhe for fundamentada na convicção interior pelo Espírito Santo... Procedem insipientemente, porém, aqueles que desejam que se prove aos infiéis que a Escritura é a Palavra de Deus, pois, a não ser pela fé, isso não se pode conhecer." (1.8.13, p.92)

O apologeta deve ter esta consciência - por mais satisfatórias que sejam suas respostas a razão humana, o homem só se colocará aos pés de Cristo por meio da fé que vem de Deus. Ao mesmo tempo em que é uma obra catequética, as Institutas também são apologéticas. Ainda assim, o reformador sabia que não eram seus escritos pura e simplesmente que converteriam os homens a Deus, mas a Palavra e o Espírito.

De fato, desde os primórdios, a Bíblia é alvo de ataques e controvérsias. Hoje, até teólogos ditos cristãos acabam questionando a veracidade da Palavra de Deus. Porém, a Palavra resiste e sempre encontra lugar no coração dos fiéis.

"Nem se deve julgar ser de importância mínima que, desde que a Escritura foi publicada, constantemente se lhe anuiu à obediência o querer de tantos séculos, e por mais que Satanás, com todo o mundo, a tenha tentado, por meio perplexivos, seja oprimindo, seja destruindo, seja de todo refreando e obliterando da lembrança dos homens, entretanto sempre, como a palmeira, tem ela subido mais alto e persistido de forma inabalável." (1.8.12, p.91)

Além da resistência da Palavra ao ataque do mundo, vemos também a resistência dos santos e santas por amor à Bíblia, não por um desejo sadomasoquista, mas como testemunhas (μάρτυρες) das verdades ali reveladas.

"Portanto, não é uma comprovação de pouco peso o fato de a Escritura ser selada pelo sangue de tantas testemunhas, mormente quando ponderamos que eles enfrentaram a morte para dar testemunho da fé, não com excesso fanático, como por vezes costuma suceder a espíritos sem norte, mas, ao contrário, por zelo firme e constante, contido sóbrio, por Deus." (1.8.13, p.92)

Muitos homens e mulheres foram mortos pelo Evangelho, comprovando que ele é muito mais que o registro da religião de alguns judeus. Essas pessoas morreram porque sabiam que carregavam a verdade, uma coisa que jamais pode ser escondida dos outros. Peçamos a Deus a ousadia de nossos irmãos, para não deixarmos a Escritura oculta diante de qualquer tipo de ameaça.
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Mais argumentos pela Escritura [ 1.8.9-11 ]

Algo que me chama atenção desde o início deste leitura é a maneira como Calvino sempre toca pontos atuais, mesmo sem perceber. Isto não deve ser surpresa, pois quando se faz uma exposição de Cristianismo, acabamos tratando de questões universais e atemporais, de maneira que vemos a relevância da Escritura, e de seus expositores, em nossa vida.

Nesse trecho, Calvino continua a defender a Bíblia de acusações dos incrédulos. E uma dessas acusações nos lembra bastante o pensamento vigente em universidades seculares e seminários teológicos - a autoria de Moisés, e mesmo sua existência. Ora, se a Bíblia diz que Moisés existiu e escreveu parte de seus textos, mas isso não é verdade, a Palavra não é confiável. O reformador nota que trata-se de uma tentativa de desmerecer a Bíblia, mas que os critérios que se usam contra ela nunca seriam usados contra outros textos antigos.

"Mas, se alguém puser em dúvida que jamais existiu um Platão, um Aristóteles, ou um Cícero, quem não haverá de dizer que tal insânia deve ser castigada com bofetadas ou com açoites?" (1.8.9, p.88)

O reformador também nos lembra que Moisés sempre foi conhecido dos povos hebreus, o que parece indicar sua credibilidade. Mesmo com os manuscritos sendo transmitidos por gerações, a Lei Mosaica pode ser considerada verdadeira, pois "foi maravilhosamente preservada, mais pela providência celestial do que pelo cuidado de homens" (idem).

Um exemplo disso é o relato feito em 1Macabeus, que conta da queima de todos os volumes das Escrituras, ordenado por Antíoco. Ainda assim, pouco depois a Escritura circulava normalmente entre o povo. Por meio da providência, os judeus, a quem "Agostinho merecidamente chama de os bibliotecários da Igreja" (1.8.10, p.90), preservaram os volumes pouco depois dessa perseguição.

Também o Novo Testamento é digno de admiraçao, por apresentar escritores que aos olhos humanos jamais poderiam ter escrito aqueles textos. A explicação é que somente por meio do poder de Deus os apóstolos podem alcançar tamanha sabedoria e discernimento para colocar no papel.

"Neguem esses cães que o Espírito Santo haja descido sobre os apóstolos ou, quando menos, anulem a credibilidade da história. Entretanto, a própria realidade brada patentemente que esses homens haviam sido ensinados pelo Espírito que, antes desprezíveis em meio ao próprio vulgo, de repente começaram a dissertar tão magnificamente acerca de mistérios celestiais." (1.8.11, p.91)

A Bíblia é um tesouro preservado de geração em geração. E isto só aconteceu pelo cuidado de homens piedosos e, em primeiro lugar, pela providência divina. Que valorizemos mais e mais a Palavra do Senhor.
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A favor da Escritura [ 1.8.1-8 ]

Depois de deixar claro que a Bíblia é suficiente para autenticar-se, e que o homem somente reconhecerá as palavras de Deus por meio da ação do Santo Espírito, Calvino nos mostra que isso não é motivo para nos silenciarmos. Pelo contrário, isto o motiva a apresentar mais razões que suportam a veracidade da Escritura, utilizando para isso provas que apelam ao bom senso de qualquer pessoa.

O primeiro desses argumentos para crermos nas Escritura envolve o conteúdo dos textos bíblicos. Isto é, para o reformador, a Palavra nos traz uma mensagem que é superior a qualquer texto humano, o que significa que ela deve ter origem divina.

"Quão peculiar, porém, é esse poder à Escritura, transparece claramente disto: que dos escritos humanos, por maior que seja a arte com que são burilados, nenhum sequer nos consegue impressionar de igual modo" (1.8.1, p.83)

"Se faz claro que ela está repleta de idéias que não poderiam ser concebidas em bases estritamente humanas." (1.8.2, p.83)

O conteúdo da Palavra é uma prova incontestável da autoridade bíblica, mas a forma pela qual esse conteúdo é apresentado também nos chama a atenção. Calvino reconhece que muitas passagens foram escritas em "linguagem singela e sem realce" (1.8.1, p.82), mas não se esquece da beleza de outros trechos.

"Alguns profetas tem um modo de dizer elegante e polido, até mesmo esplendoroso, de sorte que sua eloquência não é inferior à dos escritores profanos. E, com tais, exemplos, o Espírito Santo quis mostrar que não lhe falta eloquência, enquanto em outros lugares fez uso de um estilo não burilado e pomposo." (1.8.2, p.83)

O próximo argumento do reformador diz respeito à antiguidade da Bíblia, que demonstra não ser a distorção de outra religião, mas a revelação do próprio Deus. Em suas palavras, Moisés não estava a inventar um novo Deus (1.8.3, p.84). Calvino também lembra que o líder hebreu, autor do Pentateuco, é fonte de informação segura, alguém de quem não há nada a desconfiar. Prova disso é o fato de Moisés não deixar de citar no texto bíblico eventos constrangedores a ele e sua família.

Além disso, os milagres realizados por meio de Moisés comprovam a autoridade que Deus o entregou. Alguns podem argumentar que eram obras falsas, mas Calvino lembra que o profeta se valeu desses milagres para vindicar sua autoridade sobre os israelitas. Se eles não fossem reais, não haveria qualquer respeito pelo líder.

"Isto é, Moisés ter-se-ia apresentado no meio deles e, acusando o povo de infidelidade, contumácia, ingratidão e de outros atos incrimináveis, teria se vangloriado de que a doutrina lhe fora autenticada sobe seus próprios olhos, por esses milagres que eles mesmos jamais haviam contemplado!" (1.8.5, p.85)

O cumprimento das profecias, feitas por Moisés e pelos outros autores, também demonstram claramente o poder da Palavra. Mesmo profecias tão imprevisíveis quanto a aceitação dos gentios por parte de Yahweh ou o chamamento do rei pagão Ciro foram cumpridas. Vemos claramente que existe algo de diferente nos textos sagrados usados pelos cristãos.

"Não seria grande descaramento negar que a autoridade dos profetas foi confirmada com tais testemunhos, e que de fato se cumpriu o que eles afirmam, para que se desse crédito às suas palavra?" (1.8.8, p.88)

Em momentos de dúvida e fraqueza, podemos ter mente esse estudo de Calvino. Da mesma maneira que o Senhor cumpriu as profecias ditas pelos seus profetas, ele cumprirá as promessas que tem para o cristão. Não devemos temer, pois nosso Pai nos fala com autoridade e poder, e ele nos diz: "Porque eu, o SENHOR teu Deus, te tomo pela tua mão direita; e te digo: Não temas, eu te ajudo" (Isaías 41.13)
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O Espírito e a Palavra [ 1.7.4-5 ]

Qual a base para afirmarmos a confiabilidade da Escritura? Para o reformador, a Bíblia "é indubitavelmente autenticada por si mesma" (1.7.5, p.79), e os crentes reconhecem isso. Ele está certo. Se a Biblia não se autentica, então precisamos de uma autoridade maior que o próprio Deus, uma vez que a Bíblia é Deus a falar. A Escritura é a Palavra de Deus e Deus não pode mentir. Portanto, "a suprema prova da Escritura se estabelece reiteradamente da pessoa de Deus falando nela" (1.7.4, p.78).

Por se tratar de uma questão de fé, é importante que tenhamos em mente que somente Deus pode capacitar alguém a entender o texto sagrado. Isto não nos isenta do evangelismo e da apologética. Pelo contrário, essas são ferramentas criadas pelo Senhor para alcançar a humanidade. Isto se dará pela obra do Espírito em nós.

"Deve-se buscar essa convicção para além das razões, dos juízos, ou das conjeturas humanas, ou seja, do testemunho íntimo do Espírito." (idem)

"É necessário que o mesmo Espírito que falou pela boca dos profetas penetre em nosso coração, para que nos persuada de que eles proclamaram fielmente o que lhes fora divinamente ordenado." (1.7.4, p.79)

Isto não quer dizer que a Bíblia se torna Palavra de Deus quando atinge o nosso coração, algo completamente subjetivo e relativista. Calvino quer dizer que a Bíblia já tem sua autoridade, quer seja o homem crente ou não, mas que somente por meio do testemunho interior do Espírito este homem perceberá a veracidade da Escritura.

"Respondo que o testemunho do Espírito é superior a toda razão. Ora, assim como só Deus é idônea testemunha de si mesmo em sua Palavra, também assim a Palavra não logrará fé nos corações humanos antes que seja neles selada pelo testemunho interior do Espírito Santo." (1.7.4, p.79)

A verdadeira religião, portanto, consiste na união de uma vida guiada pelo Espírito através da Palavra. Antes de basearmos nossas certezas em nossos próprios raciocínios, em emoções ou experiências, a Bíblia tem primazia, pois é o próprio Deus que nos dá a fé. Calvino nos diz que a "fé verdadeira é aquela que o Espírito de Deus sela em nosso coração"(1.7.5, p.80), algo que o reformador mal consegue expressar.

"Aqui está uma convicção que não requer razões; um conhecimento ao qual assiste a mais sublimada razão; na verdade, no qual a mente descansa mais firme e constantemente que em quaisquer razões; enfim, um sentimento que não pode nascer senão de revelação celestial." (idem)

Em um mundo cheio de "caçadores de Deus", é irônico que a Bíblia - que "nos emanou diretamente da boca de Deus" (idem) - esteja esquecida em tantos púlpitos.
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Quem autoriza quem? [ 1.7.1-3 ]

A Igreja autoriza a Bíblia ou a Bíblia autoriza a Igreja? Questões como essas parecem distantes para os crentes de hoje em dia. A maioria dirá "é claro que a Bíblia tem autoridade sobre a Igreja", mas poucos perceberão quantas vezes a igreja acaba tentando silenciar a Palavra.

"Como, porém, não se outorgam oráculos dos céus quotidianamente, e só subsistem as Escrituras, na qual aprouve ao Senhor consagrar sua verdade e perpétua lembrança, elas granjeiam entre os fiéis plena autoridade, não por outro direito senão aquele que emana do céu onde foram promulgadas, e, como sendo vivas, nelas se ouvem as próprias palavras de Deus." (1.7.1, p.75)

Quantas vezes pastores e denominações se rendem ao último modismo evangélico ou mundano, considerando a Escritura defasada sobre certos assuntos? Quantos de nós aplaudimos certas manifestações espirituais, fingindo que Deus nada tem a dizer sobre isso? Outros preferem seguir certos "manuais de exorcismo" a descobrir o que a Escritura tem a dizer. Na prática, é a Igreja tentando autorizar a Bíblia, mas só naquilo que lhe convém.

"Se o fundamento da Igreja é a doutrina profética e apostólica, é necessário que esta doutrina tenha sua inteira infalibilidade antes que a Igreja começasse a existir." (1.7.2, p.76)

Porém, a Igreja tem o seu papel no testemunho da veracidade das Escrituras. Livrando Agostinho da falsa acusação de só crer na Escritura se a Igreja o levar a isso, Calvino mostrar que este irmão queria, na verdade, dizer que a Igreja tem parte na obra do Espírito que nos dá certeza e convicção sobre a Palavra.

"O santo varão não tivera esta intenção: que fizesse pendente da autoridade ou do arbítrio da Igreja a fé que temos nas Escrituras; ao contrário, que apenas indicasse, o que também confessamos ser verdadeiro, que aqueles que ainda não foram iluminados pelo Espírito de Deus são induzidos à docilidade pela reverência à Igreja, para que porfiem em aprender do evangelho a fé em Cristo." (1.7.3, p.77)

Assim, aprendemos que nossa missão é essa - trazer pessoas ao conhecimento de Deus. E isso só se consegue por meio da ação da Igreja e da apresentação séria da Escritura.
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Um conhecimento seguro [ 1.6.1-4 ]

Quando começamos a falar sobre o conhecimento de Deus, havia a questão da confiabilidade das informações que temos. Embora a Criação, a providência e a semente divina no homem comuniquem ao ser humano alguma coisa sobre o Senhor, esse conhecimento é incompleto, por vezes subjetivo, e sujeito à má interpretação (é só ir numa universidade para confirmarmos isso). Assim, é necessário que tenhamos algo que "nos dirija retamente ao próprio Criador do universo" (1.6.1, p.71).

"Portanto, Deus não acrescenta em vão a luz de sua Palavra para que a salvação se fizesse conhecida. E considerou dignos deste privilégio aqueles a quem quis atrair para mais perto e mais íntimo." (idem)

Calvino compara a Palavra de Deus a lentes que nos permitem enxergar de maneira confiável a Deus, diferente de todos os outros meios. Sem a Escritura estaríamos entregues a nossa própria opinião, e aos nossos ídolos. Muito da espiritualidade moderna se baseia simplesmente nisso - o que algum guru acha que os outros devem fazer. Baseado em quê? Nele mesmo, apenas.

"Por meio de sua Palavra, Deus fez para sempre com que a fé não fosse dúbia, fé esta que houvesse de ser superior a toda mera opinião... Para que nos reluza a verdadeira religião, é preciso considerar isto: que ela tenha a doutrina celeste como seu ponto de partida; nem pode alguém provar sequer o mais leve gosto da reta e sã doutrina, a não ser aquele que se faz discípulo da Escritura. Donde também provém o princípio do verdadeiro conhecimento: quando abraçamos reverentemente o que Deus quis testificar nela acerca de si mesmo." (1.6.2, p.72s)

É por esse motivo que sempre me fico com o pé atrás quando vejo pessoas tão dedicadas na igreja, mas que nada conhecem da Bíblia. Ou aqueles que gostam de falar de uma suposta intimidade com Deus, mas que são incapazes de dedicar-se a uma leitura séria e disciplinada da Palavra. A Bíblia é "a escola especial dos filhos de Deus" (1.6.4, p.74). Não há conhecimento seguro de Deus sem a Revelação escrita.
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A fábrica de ídolos [ 1.5.11-15 ]

Se existem tantas informações a respeito de Deus na Criação e na mente do homem, por que as pessoas ainda se desviam dele? Por causa do pecado, Calvino responderá. Aqueles dons que o Senhor nos entregou são distorcidos por nossa mente carnal. Nem o mais culto representante da raça humana está imune disso.

"Sem dúvida, nisto somos todos diferentes, a saber, em que cada um, por sua vez, suscita para si algum erro peculiar; todavia, nisto são muito semelhantes, a saber, em que à uma, por meio de absurdas ridicularias, todos nos desgarramos do Deus único e verdadeiro. Desta enfermidade são afetados, não apenas os espíritos vulgares e obtusos, mas ainda os mais ilustres e dotados de outra sorte de habilidade singular." (1.5.11, p.65)

A mente humana, quando deixada sozinha, é uma fábrica de ídolos - mais uma expressão calvinista que tornou-se clássica.

"Dificilmente um só jamais se achou que não fabricasse para si um ídolo ou imagem no lugar de Deus. Na verdade, exatamente como as águas borbulham de vasta e ampla fonte, imensa turba de deuses tem promanado na mente dos homens, enquanto cada um, a divagar com excessiva licença, erroneamente inventa isso ou aquilo acerca do próprio Deus." (1.5.12, p.66)

Com isto em mente, o reformador lista algumas escolas filosóficas que, embora proveitosas às vezes, não conseguiram alcançar ao verdadeiro Deus, mas apenas criaram ídolos para si. Em 1.5.12, Calvino critica os estóicos, a teologia esotérica dos egípcios, os epicureus, além de Simônides. O ser humano é incapaz de produzir a verdadeira religião com base apenas em si mesmo e em uma opinião falível.

"Todos quantos se afastam do Deus único adulteram a religião pura, como necessariamente sucede a quantos se entregam à sua própria opinião... Mesmo que nem todos hajam laborado em vícios crassos, ou resvalado a idolatrias francas, nem assim houve alguma religião pura e aprovada que se fundamentasse apenas no senso comum... a opinião humanamente concebida, ainda que nem sempre engendre farto amontoado de erros, não obstante é a mãe do erro." (1.5.13, p.68)

A grande ironia é que, ainda que seres irracionais e impessoais praticamente gritam ao homem, ele não consegue escutar nada. Aquele que deveria dominar age como se fosse o menor dos seres. Isso o torna indesculpável.

"Se o homem alega que lhe faltaram ouvidos para ouvir a verdade, quando para declará-la às criaturas mudas sobejam vozes mais do que canoras; se pleteia que com os olhos não pode ver o que lhe mostram as criaturas não dotadas de visão; se como escusa evoca a deficiência do entendimento, quando o ensinam todas as criaturas destituídas de razão!... Sem rumo e desgarrados, nos extraviamos, quando todas as coisas nos apontam a trilha certa." (1.5.15, p.70)

A solução para o problema humano é que Deus haja na vida das pessoas. É preciso que o Senhor nos guie ao verdadeiro conhecimento dele.

"Não temos olhos para contemplá-la, salvo-se, mercê da revelação interior de Deus, mediante a fé, eles sejam iluminados." (1.5.14, p.69)

É sobre este guia que Calvino tratará nos próximos capítulos - a Escritura.
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(Re)Conhecendo Deus na Criação [ 1.5.9-10 ]

Depois de nos apresentar diferentes maneiras de conhecermos ou, pelo menos, obtermos algumas informações sobre o Criador, Calvino novamente adverte que o objetivo desse estudo (repare que ele não usou a palavra "teologia" até agora) não é meramente acadêmico, mas pede uma resposta humana.

"Do que compreendemos ser esta a via mais direta de buscar a Deus e o processo mais apropriado de conhecê-lo: que não tentemos, por meio de ousada curiosidade, penetra à investigação de sua essência, a qual é antes para ser adorada do que para ser meticulosamente inquirida; ao contrário, que o contemplemos em suas obras, em virtude das quais ele se torna próximo e familiar, e de algum modo se nos comunica." (1.5.9, p.63)

Além da intimidade com Deus, aqueles que se dedicam a este conhecimento também crescem na fé. Vemos que, para Calvino, o crescimento espiritual está vinculado ao tempo que se dedica meditando sobre o Criador.

"Conhecimento como este deve não só incitar-nos à adoração de Deus, mas ainda despertar-nos e alçar-nos à esperança da vida futura. Quando, porém, atentamos para o fato de que os exemplos que o Senhor oferece, tanto de sua clemência, quanto de sua severidade, são meramente rudimentares e incompletos, convém que reputemos, não dubiamente, que ele assim preludia coisas ainda maiores, cuja manifestação e plena exibição são deferidos à outra existência." (1.5.10, p.64)

Isto é, quando vemos o cuidado de Deus para com seus santos e sua justa punição aos pecadores, estamos contemplando apenas um relance do que será visto na eternidade. Glória e bênçãos infinitas para os salvos, e um futuro de castigos para os réprobos. Nesse trecho, Calvino cita as sábias palavras de Santo Agostinho, que merecem atenção.

"Se agora fosse todo pecado punido por castigo público, poder-se-ia pensar que nada fica reservado ao Juízo Final. Por outro lado, se Deus não punisse agora claramente a nenhum pecado, poder-se-ia crer que não existe nenhuma providência divina." (Cidade de Deus, Livro I, cap. 8)

Muitas vezes gastamos tanto tempo pedindo por experiências sobrenaturais que nos esquecemos que é possível aprendermos algo sobre o amor, a sabedoria e a justiça de Deus pela ordem natural de nosso Universo. Muito dos problemas que nos afligem são fruto dessa falta de busca, algo que, para Calvino, nos conduz à "verdadeira e plena felicidade" (1.5.10, p.64).
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Que é o homem? [ 1.5.5-8 ]

Na seção 5 do quinto capítulo, o reformador dedica-se a combater o pensamento daqueles que, negando a origem divina da humanidade, acreditam que porção imaterial do ser humano (chamada aqui de "alma") é apenas uma propriedade e fruto de seu corpo físico, "de tal modo que sem este aquela não subsiste" (1.5.5, p.58). Idéia semelhante encontramos no pensamento do homem hodierno, para quem nossos pensamentos, emoções, lembranças, espiritualidade, são todos apenas frutos de reações químicas no cérebro, de instintos animais latentes, da cultura que nos envolve ou de nossos desejos ocultos por sexo, poder e dinheiro.

Para Calvino, isso é uma tentativa de negar a imortalidade da alma e a existência de Deus, pois muitas das capacidades que o homem tem não dizem respeito a seu corpo, e vão muito além das meras funções orgânicas.

"Ao contrário, a alma tem suas propriedades distintas do corpo... A multiforme agilidade da alma, com que perscruta o céu e a terra, liga as coisas passadas às que estão por vir, retém em lembranças as coisas que há muito ouviu, até mesmo para si pinta o que bem lhe apraz, assim também a habilidade com que imagina coisas incríveis, e que é a matriz de tantas invenções admiráveis, são seguros sinais da Deidade no homem." (1.5.5, p.59)

Antecepiando em alguns séculos o argumento moral de C.S. Lewis, o reformador questiona como podemos creditar certas faculdades ao homem, entre elas, a habilidade de identificar o certo e errado.

"Como feito, nós, em função da capacidade judicatória que nos foi outorgada, faremos distinção entre o justo e o injusto, porém nenhum juiz no céu haverá? A nós, até mesmo durante o sono, nos remanescerá certo resíduo de entendimento; Deus nenhum, porém, estará de vigia a reger o mundo?" (1.5.5, p.59)

Por fim, Calvino também critica aqueles que confundem a natureza com o próprio Criador, como muitos panteístas fazem hoje. De certa forma, boa parte das religiões não-monoteístas acabam caindo nesse erro, assim como os defensores do naturalismo. Trocam o Pai Criador pela Mãe Natureza, esquecendo-se de que tudo "foi criado para manifestação da glória de Deus" (1.5.5, p.60) e que "é prejudicial envolver a Deus ambiguamente com o curso inferior de suas obras" (idem).

O governo, a soberania e o justo juízo de Deus são as próximas evidências que Calvino nos apresenta como revelação de Deus na Criação. É possível captarmos algumas características do Criador.

"Tem necessariamente de ser eterno e ter de si próprio o princípio donde todas as coisas derivam a origem. Ademais, se porventura se busca a causa, em virtude da qual não só foi ele uma vez levado a criar todas as coisas, mas ainda é agora movido a preservá-las, só em sua bondade acharemos estar sua causa." (1.5.6, p.61)

Citando o Salmo 107, Calvino mostra que Deus domina sobre a vida humana, fato que deve ser reconhecido por todos. Seu comentário é um desafio para os crentes atuais, que fazem rígida divisão entre natural e sobrenatural, sem perceber que Deus está trabalhando em tudo, não apenas nas intervenções miraculosas.

"Os fatos que se consideram ser eventos casuais são outros tantos testemunhos da providência celestial, na verdade especialmente da clemência paterna." (1.5.8, p.62)
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Espelho da glória de Deus [ 1.5.3-4 ]

Já que está tratando da possibilidade de conhecermos Deus por meio de sua Criação, João Calvino nos lembra que, entre todas as coisas criadas, existe aquela que é a maior obra do Criador - o ser humano.

"Por isso, alguns dentre os filósofos, outrora, designaram o homem, não sem razão, de microcosmos, porquanto é ele raro exemplo de poder, da bondade e da sabedoria de Deus, em si contém bastante de milagres para ocupar-nos a mente, desde que não nos enfademos de dar-lhes atenção." (1.5.3, p.57)

É por esse motivo que alguns consideram Calvino como um humanista, ainda que possuísse uma mente teocêntrica. Ao contrário do que outros pensam, o reformador não desprezava o ser humano como criação de Deus, mas o valorizava, ainda que gastasse severas palavras contra o homem, quando esse se distrai do Criador. Uma das maneiras de negar Deus, evidentemente, é não nos reconhecermos como obra dele.

"Ora, se para aprendermos a Deus não é necessário sairmos fora de nós mesmos, aquele que se fizer moroso em descer em seu íntimo para aí descobrir a Deus, sua negligência merecerá perdão?" (idem)

Mais ainda, citando o Salmo 8.2: "Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força", o reformador nos mostra que mesmo as crianças refletem o Feitor de tudo.

"E assim não apenas postula que no gênero humano reside nítido espelho das obras de Deus, mas também que as criancinhas, ainda a penderem no seio materno, tem línguas bastante eloquentes para proclamar sua glória, de tal modo que não se requer nenhum orador." (idem)

Outra evidência para reconhecermos Deus é a variedade de dons, habilidades e poderes que são nos presenteados por ele, de maneira que todos "são obrigados a reconhecer que essas coisas são sinais da Divindade, queiram, ou não" (1.5.4, p.57). A idéia de um homem que gerou-se espontaneamente está totalmente excluída.

"Pergunto, pois, quão detestável é esta sandice, que o homem achando a Deus cem vezes em seu próprio corpo e alma, sob este mesmo pretexto de excelência, negue que ele existe? Não dirão que se distinguem dos seres brutos por obra do acaso. Todavia, sobreposto o véu da natureza, a qual lhes é o artífice de todas as coisas, alijam Deus." (1.5.4, p.58)

Essa última frase é a descrição do homem moderno. A maioria das pessoas hoje vê-se como fruto do ocaso, de forças impessoais da natureza, que resultaram em uma criatura incrivelmente complexa. Tal doutrina é perigosa, pois, além de retirar de Deus a sua glória, acaba dando às pessoas uma visão incorreta sobre elas mesmas. Uma pessoa que nem sabe o que ela é está em trevas, sem direção e sem propósitos. Alguém que se enxerga como obra do acaso, inconscientemente (ou não), passa a perceber-se como fruto do nada e, portanto, nada também.

E não é a depressão para alguns o mal deste e do século anterior?
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O teatro da glória de Deus [ 1.5.1-2 ]

Um dos maiores debates entre apologetas e teólogos diz respeito ao conhecimento que o homem alcança por meio da revelação natural de Deus. Quando Paulo fala sobre homens que poderiam dar graças ao Criador, mas foram rebeldes (Rm 1.18-32) a que ele se refere?

Para alguns, é possível chegar-se a um conhecimento verdadeiro do Criador apenas por meio do estudo e contemplação da Criação - podemos aprender sobre sua sabedoria, sobre sua bondade, etc. Para outros, esse conhecimento é possível, porém devido à semente divina colocada na mente do homem. Sem ela, o homem contemplaria as coisas, mas jamais poderia chegar ao conceito de Deus. Existe ainda um grupo de estudiosos que acreditam que esse conhecimento adquirido por meio da observação da natureza pode levar alguém a ser salvo.

"Não só implantou Deus na mente humana essa semente de religião a que nos temos referido, mas ainda de tal modo se revelou em toda a obra da criação do mundo, e cada dia nitidamente se manifesta, que eles não podem abrir os olhos sem serem forçados a contemplá-lo." (1.5.1, p.55)

Para Calvino, a semente divina é complementada pela manifestação da sabedoria e poder divinos na Criação. Porém, como já foi dito antes, este conhecimento não leva ninguém ao arrependimento e à salvação, mas deixa os homens indesculpáveis diante de Deus.

"Em primeiro lugar, para todo e qualquer rumo a que dirijas os olhos, nenhum recanto há do mundo, por mínimo que seja, em que não se vejam brilhar ao menos algumas centelhas de sua glória." (1.5.1, p.55)

A expressão calvinista de que a Criação é o "formosíssimo teatro" da glória de Deus (1.14.20, p.175) é conhecida nos diversos ramos do Cristianismo. Pela internet encontramos pentecostais e católicos citando isso, mesmo sem saber seu autor. Realmente, para o reformador, aqueles que se aventuram em ciências como astronomia e medicina podem descobrir um pouco mais sobre nosso Criador.

"De fato, quantos nessas artes liberais à farta se abeberaram, ou mesmo apenas de leve as experimentaram, ajudados por sua contribuição, são levados muito mais longe na penetração dos segredos da divina sabedoria... Como, ao serem essas coisas perscrutadas, mais explicitamente se projeta a providência divina, assim, para contemplar-lhe a glória, impõe-se à alma que se eleve um tanto mais alto." (1.5.2, p.56)

A colaboração do pensamento protestante ao desenvolvimento da ciência moderna é um fato que apenas os mais céticos (leia-se: naturalistas) negam, e vemos aqui Calvino sem temer qualquer constrangimento que a pesquisa e o estudo poderiam trazer. No entanto, aqueles que não são cientistas também podem aprender por meio da observação das coisas criadas.

"Nem mesmo a pessoa mais simples e as de cultura mais elementar, que foram ensinadas só pelo recurso dos olhos, não podem ignorar a excelência da divina arte a revelar-se profusamente nesta incontável e, além do mais, particularmente, distinta e harmoniosa variedade da milícia celestial; salta à vista que não existe ninguém a quem o Senhor não manifeste sobejamente sua sabedoria." (1.5.2, p.56)
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Falsa religião [ 1.4.1-4 ]

Depois de argumentar em favor da idéia do conhecimento de Deus implantado em todo homem, o reformador adverte para o fato de que esse conhecimento não produz a verdadeira piedade, mas, distorcido pela maldade humana e pela ignorância, produz falsas religiões e superstição. O ser humano que não busca o verdadeiro conhecimento de Deus acaba adorando a "fantasia e sonho de seu coração" (1.4.1, p.51).

"Nisso se percebe vaidade, e certamente aliada ao orgulho, a saber, que, buscando a Deus, os desventurados seres humanos não sobem além de si mesmos, como seria necessário, antes o medem em conformidade com o padrão de sua obtusidade carnal, e negligenciando a sólida investigação, movidos de curiosidade, andam em volta de vãs especulações." (idem)

Ao digitar esse texto, o que me veio à mente não foram as religiões estranhas ao Cristianismo (o que seria o óbvio), mas justamente aqueles subramos que se dedicam a criar costumes e práticas para si próprios, sem levar em consideração a boa exegese da Bíblia. Uma má interpretação da Escritura acaba gerando superstições dentro da igreja. O trecho sobre especulações também chama atenção, pois serve de advertência contra aqueles que preferem fazer escatologia nas páginas de jornal e especular sobre quem ou o que é o Anticristo - deixando de lado o contexto e as explicações do Senhor e dos apóstolos.

João Calvino também critica aqueles que afastam-se de Deus, pois ao fazerem isso estão negando sua existência. Para o reformador, a necessidade de pecar e escapar do juízo de Deus leva o homem, mesmo inconscientemente, a essa "solução".

"Ora, como nada é menos próprio de Deus que, posto de parte, permitir à sorte o governo do mundo, e fechar os olhos às impiedades dos homens, para que se entreguem impunemente a todos os desregramentos; qualquer um que, eliminado o temor do julgamento celeste, cede despreocupado à prática do que lhe vem ao talante, está a negar que Deus existe." (1.4.2, p.52)

Outro alerta que esse capítulo nos dá diz respeito a querer afirmar mais sobre Deus que podemos. Isto é idolatria. Cito o exemplo daqueles que querem tratar o Criador como alguém do gênero feminino ou com pronomes neutros. Ainda que Yahweh certamente não é um ser do sexo masculino, foi assim, com pronomes e termos masculinos que ele resolveu se revelar. Chamá-lo de Mãe é uma forma de idolatria, por não tratarmos Deus em seus próprios termos.

"A verdadeira religião deve ser conformada ao arbítrio de Deus como a uma norma perpétua: que Deus, em verdade, permanece sempre imutável em seu ser; que ele não é um espectro ou fantasma que se transmuda ao talante de cada um... Tampouco vem ao caso, pelo menos neste ponto, se porventura concebes a um só Deus ou a muitos, porque sempre te apartas do Deus verdadeiro e dele careces quando, deixado ele de parte, nada te resta senão um ídolo execrável. Portanto, com Lactâncio se nos impõe concluir que nenhuma religião genuína existe, a menos que esteja em harmonia com a verdade." (1.4.3, p.53)

Concluindo, Calvino também cita a hipocrisia como uma maneira de distorcer o conhecimento de Deus. Trata-se das pessoas que tem aparência de piedade, que "exercitam algo que tenha a aparência de religião" (1.4.4, p.54). Para ele, esse fingimento é semelhante a todos os outros males citados, seja idolatria, seja superstição.
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Calvino contra o ateísmo [ 1.3.1-3 ]

Do Livro 1, Capítulo 3

"Como o declara aquele pagão [Cícero], não há nenhuma nação tão bárbara, nenhum povo tão selvagem, no qual não esteja profundamente arraigada esta convicção: Deus existe!" (1.3.1, p.47)

Por que todas as culturas e povos adotam algum tipo de religião? A resposta, para Calvino, é simples. É algo que ele chama de "semente da religião", uma noção geral da Divindade implantada pelo próprio Criador. É irônico, mas a idolatria torna-se uma das provas de que há um Deus.

"Ora, para que ninguém se refugiasse no pretexto de ignorância, Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina realidade, da qual, renovando constantemente a lembrança, de quando em quando instila novas gotas." (idem)

Porém, esse não é o tipo de conhecimento que nos leva à salvação. Pelo contrário, transforma-se em condenação, ao tornar os homens inexcusáveis. Isto é, ninguém pode apresentar a desculpa de "eu não sabia que existia um Deus". Essa idéia é desenvolvida por Paulo nos primeiros capítulos de Romanos, ao demonstrar que os pagãos não poderão levantar esse argumento no dia do julgamento.

Portanto, a base para a responsabilidade do homem (como é bastante enfatizado pelo filósofo e teólogo Gordon Clark) é o conhecimento, e não a liberdade. Isso nos será importante mais para frente.

"Como todos à uma reconhecem que Deus existe e é seu Criador, são por seu próprio testemunho condenados, já que não só não lhe rendem o culto devido, mas ainda não consagram a vida a sua vontade." (idem)

Com isso, o reformador nega qualquer possibilidade de um ateísmo real. Isso me lembra o caso de um amigo meu, que se diz agnóstico. Ao falar de certo temor que eu tinha, perguntei se em momentos de desespero ele é mais ateu ou mais crédulo. "Nessas horas sou crente", respondeu.

"Pois, ainda que no passado tenham existido alguns, e hoje eles não são poucos, que neguem existir Deus, contudo, queiram ou não queiram, de quando em quando acode-lhes certo sentimento daquilo que desejam ignorar." (1.3.2, p.48)

Por mais que o ser humano deseje, terá dificuldade em libertar-se da verdade implantada em sua mente. Seria exagero comparar a batalha dos ateus superstars contra a fé à luta de Quixote contra os moinhos, mas não podemos negar que a situação é parecida. A cada conversão ao ateísmo milhões de "fiéis" nascem por toda a terra.

"Donde concluímos que esta não é uma doutrina que se aprende na escola, mas que cada um, desde o ventre materno, deve ser mestre dela para si próprio, e da qual a própria natureza não permite que alguém esqueça, ainda que muitos há que põem todo seu empenho nessa tarefa" (1.3.3, p.49)

Para Calvino, ao contrário do que afirma Christopher Hitchens, a religião não envenena tudo, mas evita que o homem torne-se semelhante às criaturas que deveria dominar. Negar a existência de Deus é negar a imagem divina no homem, algo que vemos atualmente com bastante frequência. Não é incomum vermos especialistas (em alguma coisa) compararem o homem a uma máquina em busca de sexo e poder, a um animal mais esperto ou algo pior. Isso não é simplesmente uma metáfora. Para muitos, realmente é isso que somos.

"Os homens, uma vez que a religião lhes seja ausente da vida, não só em nada excedem aos animais, mas até em muitos aspectos lhes são muito mais dignos de lástima, porquanto, sujeitos a tantas espécies de males, levam de contínuo uma vida tumultuária e desassossegada. Portanto, o que nos faz superiores é tão-somente o culto de Deus, mediante o qual se aspira à imortalidade." (1.3.3, p.50)
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O teólogo-adorador [ 1.2.2 ]

Do Livro 1, Capítulo 2.2

O reformador inicia a seção criticando novamente a vã especulação sobre Deus, comum entre os teólogos medievais, além de também negar a idéia de Deus proposta por Epicuro. A versão epicurista tem uma contraparte comum hoje em dia - o deus que abandonou o mundo a sua própria sorte, "um Deus que, pondo de parte o cuidado do mundo, só se apraz no ócio" (1.2.2, p.45). Nega-se, portanto, o deus do deísmo, aquele que não interfere em sua Criação, "afinal, que ajuda traz conhecer a um Deus com quem nada temos a ver?" (idem).

Adiante, mais uma vez Calvino nos lembra que o propósito do conhecimento de Deus é levar-nos à adoração.

"Segue-se necessariamente, uma vez que sua vontade nos deve ser a lei de viver, que inexoravelmente a vida te é corrompida, se não a pões ao serviço dele." (idem)

Para Calvino, Deus, e não o homem, é a medida de todas as coisas. Com isto em mente, o teólogo poderá ser levado a ser grato e render honra ao único e verdadeiro Deus, sem qualquer interferência de opiniões humanas. Numa bela expressão do que significa a verdadeira obediência o reformador nos explica o que entende como um homem piedoso.

"Refreia-se de pecar não só pelo temor do castigo, mas porque ama e reverencia a Deus como Pai; honra-o e cultua-o como Senhor; e mesmo que não existisse nenhum inferno, ainda assim treme só à idéia da ofensa. Eis no que consiste a religião pura e real: fé aliada a sério temor de Deus." (1.2.1, p.46)

Já que trata de adoração, Calvino termina com um alerta:

"Enquanto todos veneram a Deus de maneira vaga e geral, pouquíssimos o reverenciam de verdade; enquanto, por toda parte, grande é a ostentação em cerimônias, rara, porém, é a sinceridade de coração." (idem)

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Teologia x Piedade [ 1.2.1 ]

Do Livro 1, Capítulo 2.1

Parece bobagem falar isso, mas muitos escritores iniciam suas obras, algumas polêmicas até, sem definir as palavras que utilizam. Foi o caso de certo livro, que passou por minhas mãos recentemente. O autor dedicou um capítulo inteiro explicando que deveríamos ser transparentes, que Jesus era alguém transparente, que falta transparência na igreja. Alguns versículos soltos, terminou o texto e perguntei - "sim, mas o que ele quer dizer com transparente? Eu imagino o que seja, mas não me parece que ele está usando nesse sentido". Como vou dialogar com o cara se ele não me informa bem o que é a tal "transparência" que ele tanto quer ver? Afinal de contas, Jesus também tinha seus mistérios e enigmas.

Bom, de qualquer maneira, não temos esse problema aqui, pois Calvino inicia essa nova seção com explicações sobre o que ele está falando. Um bom escritor, ao entrar no debate público, define bem seus termos e expressões.

"Entendo como conhecimento de Deus aquele em virtude do qual não apenas concebemos que Deus existe, mas ainda apreendemos o que nos importa dele conhecer, o que lhe é relevante à glória, enfim, o que é proveitoso saber a seu respeito." (1.2.1, p.44)

Me parece aqui que o reformador já deixa de fora qualquer tipo de "frívolas especulações" (1.2.2, p.45), de maneira semelhante ao que os escolásticos católicos e muitos filósofos faziam. Embora esse seja um conhecimento apropriado sobre Deus, ainda não se trata de conhecimento salvífico, mas daquele "primário e singelo" (1.2.1, p.44) que Adão teria, se não tivesse pecado. Portanto, Calvino faz uma distinção entre dois tipos de conhecimento de Deus.

"O Senhor se mostra, em primeiro lugar, tanto na estrutura do mundo, quanto no ensino geral da Escritura, simplesmente como Criador, e então na face de Cristo como Redentor." (idem)

Ainda que esse primeiro conhecimento não seja realmente um discipulado cristão, para Calvino é essencial que a pessoa que deseje conhecer o Criador mantenha uma atitude de reverência.

"Em parte alguma se achará uma gota ou de sabedoria e de luz, ou de justiça, ou de poder, ou de retidão, ou de genuína verdade, que dele não emane e de que não seja ele próprio a causa; de sorte que aprendamos realmente dele esperar e nele buscar todas as coisas; e após recebidas, a atribuir-lhas com ação de graça." (1.2.1, p.44s)

Essa reverência, que ele chama de piedade, funciona como um pressuposto básico para aquele que deseja conhecer o Senhor. De fato, não há como alguém obter um verdadeiro conhecimento de Deus se parte da assunção de que o Criador não é o parâmetro para definirmos justiça, poder, beleza, sabedoria, e tudo o que for possível daí tirar.

"Chamo piedade à reverência associada com o amor de Deus que nos faculta o conhecimento de seus benefícios. Pois, até que os homens sintam que tudo devem a Deus, que são assistidos por seu paternal cuidado, que é ele o autor de todas as coisas boas, daí nada se deve buscar fora dele, jamais se lhe sujeitarão em obediência voluntária." (1.2.1, p.45)

Assim, para Calvino, o objetivo da teologia é este - sujeitar-se obedientemente a Deus. O estudante que deseja conhecer mais o Criador, apenas por mera curiosidade, não obterá bons resultados. Alguém já notou o fato de Tomás de Aquino concentrar-se mais na pura obtenção de dados sobre a Divindade, enquanto João Calvino insiste num conhecimento que necessariamente nos leva à adoração.

"Em todas as suas páginas aparece não tanto (como em Aquino) a soma de toda teologia (summa theologiae), mas uma soma de toda piedade (summa pietatis). Teologia e ética tem uma relação simbiótica." (Derek Thomas)

Por fim, uma frase que me chama atenção, por demonstrar que a idéia por trás da "Teologia da Alegria", de John Piper, é parte da tradição reformada.

"Mais ainda: a não ser que ponham nele sua plena felicidade, verdadeiramente e de coração nunca se lhe renderão por inteiro."
(1.2.1, p.45)
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