"Adiciona-se outra razão, não contrária: ora, uma vez que o princípio do querer o bem e do agir corretamente procede da fé, impõe-se ver donde procede a própria fé. Como, porém, toda a Escritura proclama que a fé é um dom gracioso de Deus, segue-se que procede de sua mera graça que comecemos a querer o bem, estando naturalmente inclinados ao mal." (2.3.8, p.67)
Assim, o reformador conclui que tudo aquilo que vem de bom, é dado a nós pelo Senhor. Não apenas a chegada à fé, mas mesmo aquelas iniciativas que parecem nossas são fruto da vontade de Deus em nossas vidas. Calvino cita o Salmo 51, onde Davi pede que Deus crie nele um coração puro. Ainda que já fosse um crente, o salmista reconhecer que somente de Deus vem a piedade. O reformador cita textos em que os crentes pedem para que o Senhor incline o coração deles ao bem, e nos dá uma advertência.
"Sem dúvida é surpreendente e portentoso o fremir de nosso orgulho! Nada exige o Senhor mais estritamente do que observarmos mui religiosamente seu sábado, a saber, descansando de nossos labores. E não há nada mais difícil de se conseguir de nós do que nos descartarmos de nossas ocupações para darmos justo lugar às obras de Deus." (2.3.9, p.68)
Assim, toda pretensão de termos qualquer esforço próprio na salvação é eliminada, e precisamos aceitar esse "sábado" proposto por Calvino. Por fim, ele cita Filipenses 2.13, onde o Apóstolo Paulo nos diz que Deus não apenas opera o nosso querer, mas também o efetuar.
"A primeira parte de uma boa obra é a vontade; a segunda, o firme empenho em executá-la: Deus é o autor de ambos. Portanto, furtamos ao Senhor, se algo arrogamos para nós, seja na vontade, seja na execução. Se fosse dito que Deus empresta ajuda à vontade fraca, algo nos seria deixado; quando, porém, se diz que ele produz a vontade, então se localiza fora de nós tudo quanto nela há de bom. Ademais, uma vez que até mesmo uma boa vontade é esmagada pelo peso de nossa carne, tanto que não possa soerguer-se, acrescentou que, para superar as dificuldades dessa luta, nos é administrada a constância de empenho para que nos assista até mesmo a execução." (2.3.9, p.69)
Tudo vem do Senhor, mesmo os nossos desejos mais sinceros. E eles não deixam de ser sinceros por virem do Senhor. Pelo contrário, por meio dele, eles se tornam reais.
Tudo vem do Senhor, mesmo os nossos desejos mais sinceros. E eles não deixam de ser sinceros por virem do Senhor. Pelo contrário, por meio dele, eles se tornam reais.
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