"E se queremos confrontar nossa razão com a lei de Deus, que é o paradigma da perfeita justiça, descobriremos em quão numerosos pontos aquela é cega! Por certo que longe está ela de alcançar aquelas coisas que são primordiais na primeira tábua do Decálogo, as quais dizem respeito à confiança em Deus, ao louvor da virtude e da justiça que se deve atribuir-lhe, à invocação de seu nome, à verdadeira observância do sábado." (2.2.24, p.51)
O reformador admite que em relação à segunda tábua da Lei (que trata do relacionamento do homem com seu próximo) os homens têm mais sucesso em obedecer às ordem de Deus, por conta da manutenção da ordem social. Porém, ainda assim somos falhos se dependermos apenas dos dons naturais. Seremos facilmente ludibriados por nossa mente enganosa. Por esse motivo Calvino critica os filósofos, por se esquecerem da total corrupção humana e levarem em conta apenas ações maléficas deliberadas e realizadas.
"Ora, enquanto os filósofos caracterizam como vícios às tendências imoderadas da mente, assim o entendem aquelas que se exteriorizam e se manifestam por sinais mais crassos, porém reputam por nada os desejos depravados que afagam a mente de forma cariciosa." (2.2.24, p.52)
"Se deve repudiar a opinião daqueles que ensinam que em todos os pecados permeiam deliberadamente a maldade e perversidade. Pois sempre que experimentamos a saciedade, com toda nossa boa intenção caímos." (2.2.25, p.52)
Assim, a solução para que o homem dirija-se retamente é buscar iluminação do Espírito Santo, a fim de que seja instruído pela Palavra. Como já vimos, o objetivo a lei natural é condenatório, não salvífico, de maneira que ela não tem poder de guiar alguém a Deus. É preciso que homens e mulheres tomem consciência de sua própria incapacidade e busquem, como os santos fizeram, a orientação do Senhor. E por todos os dias de sua vida.
"Davi estava cônscio desse padecimento em relação a si mesmo, quando rogava que lhe fosse concedido entendimento para aprender retamente os preceitos do Senhor [Sl 119.34]. Ora, quem deseja alcançar para si nova compreensão, deixa claro que de modo algum lhe é suficiente à compreensão que possui... Nem ensina a Escritura que são nossas mentes iluminadas em apenas um dia, de sorte que, a partir daí, vejam por si próprias, porquanto o contínuo progresso e crescimento lhes são conferidos." (2.2.25, p.52s)
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