"Se contemplas o que é este desejo natural do bem no homem, verificarás que ele o tem em comum com os animais... Sem razão, sem reflexão, segue a inclinação da natureza, como um animal. Portanto, se porventura o homem é levado a buscar o bom por injunção da natureza, isto em nada diz respeito à liberdade de arbítrio. Pelo contrário, requer-se isto: que depois de discenir o bom, o escolha e busque o que escolheu." (2.2.26, p.54)
O erro dos arminianos é achar que os calvinistas entendem os homens como robôs. No entanto, os reformados reconhecem que o homem faz aquilo que deseja. O problema não é ele decidir o que fazer, mas o fato dele sempre decidir segundo sua inclinação pecaminosa. Além disso, mesmo o "bem" que o homem escolhe tem como pano de fundo seu desejo por bem-estar, o que certamente não é sinônimo de uma decisão conforme os padrões de Deus.
"Ora, aqui, primeiro, o apetite não só é chamado um movimento próprio da vontade, mas ainda uma inclinação natural, como também, segundo, o bom não provém de virtude ou de justiça, mas de condição, como, por exemplo, quando se trata do bem-estar do homem. Afinal, por mais que o homem deseje seguir o que é bom, contudo não o segue; assim como ninguém há a quem a bem-aventurança eterna não seja agradável, à qual, entretanto, ninguém aspira, senão pelo impulso do Espírito." (2.2.26, p.54)
Assim, Calvino interpreta o polêmico capítulo 7 de Romanos como sendo a representação de um homem regenerado lutando contra seus impulsos, vivendo no conflito carne contra espírito. Somos pessoas presas ao pecado, e mesmo quando pedimos a Deus por libertação, o próprio Deus já está agindo em nós.
"Fora, pois, com tudo aquilo que muitos têm bradado acerca de uma preparação, porque, se às vezes os fiéis rogam por um coração que lhes seja plasmado para a obediência da lei de Deus, como o faz Davi em muitos lugares, entretanto deve-se notar que também este desejo de orar procede de Deus, o que se pode coligir de suas palavras. Pois, ao desejar que em si seja criado um coração limpo [Sl 51.10], por certo que não reivindica para si o início dessa criação." (2.2.27, p.56)
Que a nossa atitude seja semelhanteao que Agostinho nos propõe em mais uma citação que Calvino faz.
"Confessa que todas essas coisas as tens de Deus; tudo quanto tens de bom, dele provém; de ti procede tudo quanto há de mau. Nada é nosso, senão o pecado.” (idem)
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