Ainda que não utilizasse os mesmos termos do Sínodo de Dort, Calvino certamente aprovaria suas declarações. Prova disso, é a ênfase que ele dá ao chamado eficaz de Deus, sua graça irresistível que vence qualquer barreira colocada pelo o homem, e o leva graciosamente à futura glorificação. Veja o que o teólogo de Genebra nos diz.
"Na verdade ele não está prometendo, através de Ezequiel [11.19, 20; 36.27], que haverá de dar aos eleitos um novo espírito apenas com esta finalidade: que sejam capacitados a andar em seus preceitos; ao contrário, para que, de fato, neles andem! Nem se pode interpretar diferentemente a afirmação de Cristo [Jo 6.45]: 'Todo aquele que ouviu de meu Pai vem a mim', senão que ensina que a graça de Deus é de si mesma eficaz." (idem)
Calvino, ao contrário do que se pensa, não nega que o Evangelho deva ser oferecido a todos. No entanto, ele sabe que apenas Deus tem o poder para aplicar de maneira eficaz esta mensagem.
"Por certo que os homens devem ser ensinados que a benignidade de Deus é oferecida, sem exceção, a todos os que a buscam. Como, porém, somente aqueles a quem a graça celeste inspirou começam por fim a buscá-la, nem mesmo esta porçãozinha mínima deveria ser subtraída de seu louvor." (idem)
Calvino sabe que tem como testemunha de sua posição o próprio Agostinho. O bispo de Hipona foi claro ao dizer que apenas "a natureza é comum a todos, a graça não"(2.3.10, p.71). Com isso, podemos entender que, embora a salvação não seja para todos, não sabemos quem são aqueles a quem Deus elegeu. Por isso, devemos proclamar o Evangelho a todos, a fim de que o próprio Senhor, por sua poderosa graça, traga seus filhos para junto de si.