"E, para que não disputemos por demorado tempo acerca de coisa óbvia, temos a notável afirmação do Senhor: 'Abraão exultou porque haveria de ver meu dia; viu-o e se regozijou' [Jo 8.56]... Tanto a bendita Virgem, quanto Zacarias, em seus cânticos [Lc 1.54, 55, 72, 73], dizem que a salvação revelada em Cristo foi o cumprimento das promessas que o Senhor fizera outrora a Abraão e aos patriarcas. Se, em manifestando a seu Cristo, o Senhor saldou o compromisso de seu antigo juramento, não se pode dizer que seu objetivo não esteve sempre em Cristo e na vida eterna" (2.10.4, p.189)
Não apenas o Mediador da Aliança, mas as consequências que envolvem esse contrato com Deus são semelhantes para Israel e os cristãos. Paulo liga claramente os símbolos do batismo e da ceia com as situações dos israelitas no deserto, como vemos em 1 Coríntios 10. Ali, o apóstolo mostra que o mesmo Deus que castigou os israelitas é aquele pode castigar a Igreja. Consequentemente, tanto os judeu quanto os crentes de hoje recebem de Cristo alimento e herança espiritual.
"Não só os cercou o Senhor dos mesmos benefícios, mas também manifestou sua insigne graça entre eles pela instrumentalidade dos mesmos símbolos. Como se [Paulo] estivesse a dizer: Se confiais que estais fora de perigo só porque não apenas o Batismo com que fostes selados, mas também a Ceia de que participais diariamente, têm excelentes promessas, enquanto isso, desprezada a bondade de Deus, vos entregais desenfreadamente à dissolução, sabei que os judeus nem mesmo precisaram de tais símbolos, contra quem, no entanto, a despeito disso, o Senhor executou mui severamente seus juízos." (2.10.5, p.189)
Algumas objeções podem ser feitas, como a comparação que Jesus faz entre si mesmo e o maná no deserto. Diz Cristo que aquele pão não lhes deu a vida eterna, algo que sua carne nos providencia (João 6). A resposta está no contexto da cena, onde o Senhor está confrontando pessoas que tentam colocá-lo contra Moisés. Jesus ensina que ele, como Pão vivo, é alimento eterno.
"Porquanto sabia que o Senhor, quando fazia chover do céu o maná, não havia derramado apenas o alimento do ventre, mas também o havia dispensado como um mistério espiritual, para prefigurar a vivificação em espírito que se tem em Cristo, Paulo não negligencia este aspecto, que era o mais digno de consideração. Pelo que se conclui, certa e claramente, que não só foram comunicadas aos judeus as mesmas promessas de vida eterna e celestial com que o Senhor nos digna agora, mas também foram elas seladas com sacramentos verdadeiramente espirituais." (2.10.6, p.190)
Portanto, podemos ter certeza de que o mesmo Deus que cuidou de Abraão e seus descendentes é aquele que cuidará de nossas vidas. Que tenhamos essa confiança.
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